A exatamente um ano início da Olimpíada de 2012, a capital do Reino Unido se orgulha de ter concluído quase todas as obras nos estádios, mas os problemas do seu sistema de transportes não foram resolvidos, como pude constatar pessoalmente neste mês.
Em 11 de julho, fui ao Hackney Empire ver um show de Hugh Masekela em homenagem à grande cantora e compositora sul-africana Miriam Makeba. Hackney fica no Leste de Londres, a zona supostamente regenerada pelo projeto olímpico.
Tinha de tomar o trem, agora promovido a metrô de superfície, em West Kentish Town. O metrô de superfície não tem ligação com o subterrâneo, a não ser em algumas estações. Seria preciso caminhar uns cinco a dez minutos para chegar lá.
Ao chegar a Kentish Town, uma funcionária do metrô me avisou que os trens estavam com atraso. Não tinha garantia de chegar ao destino em uma hora. Outro funcionário rapidamente me deu um telefone de rádio-táxi. Paguei 14 libras, cerca de 40 reais, para chegar na hora.
Pior ainda foi na partida. Na manhã da última segunda-feira, 25 de julho, em vez de tomar um táxi, resolvi ir do metrô para o aeroporto. Tinha de fazer uma conexão para tomar a Piccadilly Line. O trem para Heathrow demorou mais de 20 minutos. Parou em Northfields, no meio do caminho, e mandou todos os passageiros esperarem o próximo trem.
Os próximos dois trens iam para Heathrow, mas não para o Terminal 5. Dezenas de viajantes com malas grandes esperavam ansiosamente na plataforma. Foram mais 20 minutos de atraso.
Morei oito anos na Inglaterra. Nunca tinha levado mais de que 1h45 para chegar a Heathrow de metrô. Ou seja: em vez de melhorar, o sistema de transportes de Londres continua a mesma coisa. É inconfiável.
Quando me mudei para Londres, em 1994, a fui morar na zona norte da cidade, a Linha Norte do metrô era conhecida como a "linha miserável". A orientação era sempre pegar o primeiro trem e trocar onde fosse necessário porque o próximo poderia não chegar.
A julgar pelos problemas para chegar ao aeroporto na segunda-feira, teria sido melhor pegar o primeiro trem e trocar mais à frente, o que é sempre um incômodo para quem carrega malas.
Mais de duas horas de viagem, com uma parada inesperada, encurtando o trajeto do trem e simplesmente mandando desembarcar passageiros que esperaram o trem para Heathrow para não ter de ficar carregando bagagens, é um abuso intolerável para um país que um dia se orgulhou de sua pontualidade.
Com este sistema de trens e metrô, Londres pode ter concluído os estádios e regenerado áreas da cidade como Hackney. Mas os trens não chegam até lá na hora. E se não chegarem ao aeroporto, o avião não espera.
Diante da crise econômica, que obrigou o governo britânico a cortar 83 bilhões de libras, cerca de R$ 240 bilhões em gastos públicos nos próximos quatro anos, a expectativa é de anos de crescimento medíocre e investimento público escasso.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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