domingo, 23 de fevereiro de 2025

Direita vence e extrema direita avança nas eleições na Alemanha

Com 28,5% dos votos, a aliança da União Democrata-Cristã com a União Social-Cristã (CDU-CSU) venceu as eleições parlamentares deste domingo na Alemanha, mas seu líder, Friedrich Merz (foto), terá de formar uma coalizão para governar, provavelmente com o Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), que ficou em terceiro lugar com 16,4%, e talvez também com Os Verdes, que tiveram 11,6%.
A neonazista Alternativa para a Alemanha (AfD) dobrou seu percentual de votação para 20,8% e será o maior partido da oposição, com 151 deputados. Foi o melhor resultado da extrema direita depois da Segunda Guerra Mundial (1939-45). Na faixa etária de 35 a 44 anos, foi o partido mais votado, com 26% contra 24% da direita republicana (CDU-CSU). Sua líder, Alice Weidel, declarou que será um governo frágil que não vai até o fim do mandato de quatro anos.

Três ataques terroristas recentes cometidos por imigrantes fortaleceram a extrema direita. Em dezembro, um médico saudita atropelou e matou seis pessoas e feriu 229 numa feira de Natal em Magdeburgo. Em 13 de fevereiro, um afegão que teve o pedido de asilo negado matou uma mulher e sua filha, e feriu outras 30 pessoas num atropelamento em Munique. No sábado, um refugiado sírio esfaqueou uma pessoa perto do Memorial do Holocausto em Berlim aos gritos de "morte aos judeus".

As eleições previstas para setembro foram antecipadas pelo colapso da coligação sinal de trânsito, vermelho do SPD, amarelo do Partido Democrático Livre (FDP) e os Verdes, em 6 de novembro do ano passado, depois que o FDP rejeitou a proposta orçamentária do chanceler (primeiro-ministro) Olaf Scholz cobrando austeridade fiscal para combater a crise econômica. Com apenas 4,4% dos votos, o FDP não superou a cláusula de barreira de 5%. Fica fora do Parlamento. Seu líder, Christian Linder, renunciou.

A participação de 83% do eleitorado foi a maior desde a reunificação do país, em 3 de outubro de 1990, mas a Alemanha ainda está dividida. Com 29,7% da votação, a extrema direita ganhou em toda a antiga Alemanha Oriental, a não ser em Berlim. Ficou em quarto lugar na antiga Alemanha Ocidental, com 13%.

No fim, a União (CDU-CSU) elegeu 208 dos 630 deputados da Câmara Federal, dos quais 299 são eleitos pelo voto distrital e os outros 331 pelo voto proporcional em listas partidárias. A AfD terá 151 cadeiras. 

Os sociais-democratas tiveram o pior resultado desde 1949, quando foi fundada a Alemanha Ocidental, depois da divisão do país no fim da Segunda Guerra Mundial. Ficaram com 121 deputados. Junto com a União, somam 329 cadeiras, suficientes para a maioria.

Os Verdes elegeram 85 deputados. Se entrarem no governo, a coalizão terá uma maioria folgada de 414 cadeiras, mas é improvável por causa da linha dura adotada por Merz contra a imigração. O futuro chanceler quer suspender o Acordo de Schengen, que aboliu as fronteiras internas da União Europeia, e voltar a fazer controle de fronteiras para impedir a entrada de imigrantes ilegais.

A Aliança Sarah Wagenknecht (BSW), de esquerda radical, chegou a 4,9% e também ficou fora. Se superasse a cláusula de barreira, como a televisão ZDF chegou a anunciar, Os Verdes teriam de entrar para o governo.

Nacionalista de esquerda, conservadora em questões sociais, a BSW é antieuropeia e contra a participação da Alemanha na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a aliança militar liderada pelos Estados Unidos. É uma dissidência do partido A Esquerda, que conquistou 8,8% dos votos e terá 64 parlamentares.

Uma cadeira foi conquistada pelo voto distrital pela Associação dos Eleitores de Schleswig do Sul.  

Maior economia da Europa e terceira do mundo, com produto interno bruto de US$ 4,9 trilhões, a Alemanha está em recessão há dois anos por causa do aumento da concorrência da indústria da China e do fim da energia barata da Rússia por causa das sanções à ditadura de Vladimir Putin em razão da invasão da Ucrânia. O modelo econômico alemão está em crise e não há solução fácil.

O maior desafio é a mudança de posição dos EUA no governo Donald Trump em relação à OTAN e à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Isto obriga a Europa a aumentar os gastos militares tratar de garantir a segurança do continente sem depender de Washington. No momento, a Alemanha gasta 1,7% do PIB em defesa. A meta da OTAN era 2%. Trump quer um aumento para 5% para manter a aliança atlântica.

Diante dos problemas do país e da Europa, Merz pediu pressa nas negociações: "O mundo lá fora não está esperando por nós." Ele defende uma política mais dura com a Rússia. Quer dar mais armas à Ucrânia, enquanto o presidente dos EUA se aproxima de Putin e "fortalecer a Europa tão rapidamente quanto possível para que seja independente dos EUA."

Trump está chantageando a Ucrânia. Se o presidente Volodymyr Zelensky não concordar em ceder 50% das riquezas minerais da Ucrânia, no valor de US$ 500 bilhões, Trump ameaça suspender a ajuda ao país.

Nesta caso, a Europa terá de aumentar a ajuda militar à Ucrânia para evitar a vitória de Putin, que seria extremamente negativa para a segurança do continente.

Nenhum comentário: