O presidente conservador Daniel Noboa e a candidata esquerdista Luisa González vão disputar em 13 de abril o segundo turno da eleição presidencial no Equador. Uma pesquisa de boca de urna chegou a dar maioria absoluta para o presidente, mas o resultado final do primeiro turno foi apertado: 44.43% para Noboa e 44,17% para González.
Os dois disputaram o segundo turno da eleição presidencial de 2023, quando Noboa, da Ação Democrática Nacional (ADN), foi a grande surpresa. Não se esperava que chegasse ao segundo turno, quando teve 51,83% dos votos contra 48,17% para González, da Revolução Cidadã (RC), liderada pelo ex-presidente Rafael Correa.
A eleição de 2023 foi realizada sob estado de exceção, sob o impacto do assassinato do candidato Fernando Villavicencio pela máfia do tráfico de drogas Los Lobos, ligada ao Cartel de Jalisco Nova Geração, do México.
Espremido entre os maiores produtores de cocaína do mundo, Colômbia e Peru, o Equador tem poucos recursos para enfrentar os traficantes. Isto levou o país a ter a maior taxa da homicídios da América do Sul e a sétima do mundo em 2022: 27 assassinatos para cada 100 mil habitantes. Em 2023, 8 mil pessoas foram mortas na guerra do tráfico.
Assim, a segurança foi o tema central da campanha em 2023 e de novo agora, à frente da crise econômica, do desemprego e do custo de vida.
As eleições foram próximas porque a anterior foi para um mandato-tampão para concluir o período do presidente Guillermo Lasso, que dissolveu a Assembleia Nacional em 17 de maio de 2023 para escapar de um processo de impeachment, numa manobra conhecida como "morte cruzada", que força a realização de novas eleições presidencial e legislativas – e decidiu não concorrer.
No domingo, pouco mais de 11 milhões dos 13,7 milhões de eleitores equatorianos votaram para presidente, vice-presidente e os 100 deputados da Assembleia Nacional. Todos cumprem mandatos de quatro anos. Nenhum partido deve ter maioria absoluta no novo parlamento.
Daniel Noboa é filho de Álvaro Noboa, magnata do setor bananeiro e homem mais rico do Equador, que disputou a Presidência sem sucesso cinco vezes. Personalista, o atual presidente promete manter o "conflito armado interno". Concentrou a campanha nas redes sociais para atrair o eleitorado jovem de 18 a 30 anos.
Noboa acusou os governos anteriores, de Lasso e Correa, de corrupção e ligação com o narcotráfico. Fala num "novo Equador". Encerrou sua participação no debate na televisão com a frase: "A velha política ao lixo."
Luisa González atacou as violações dos direitos humanos cometidas pelo governo na luta contra o narcotráfico. Em oposição ao personalismo de Noboa, na linha de seu padrinho político Correa, ela aposta na democracia participativa reconstituindo as assembleias comunitárias e na democratização do acesso à saúde e educação.
Seu plano para a segurança pública tem foco na ação social para combater o crime, na reinserção social dos criminosos e na defesa dos direitos humanos. Ela também defende a geração de empregos através de "obras públicas comunitárias" e na transição energética para uma economia pós-petróleo. O Equador era membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo. Saiu em 2020.
Em política externa, González defende a integração regional através de organismos como a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), o que a aproxima do governo Lula.
Ela teve cerca de 4,1 milhões de votos no primeiro turno. De acordo com os analistas políticos da consultoria Celegdata, precisa de 4,7 milhões para vencer no segundo turno. Os outros candidatos de oposição a Noboa somaram 467 mil votos. Se González conquistar 90% desses eleitores, será a primeira mulher a presidir o Equador.
O voto indígena será decisivo. Nos 10 anos antes da eleição de Correa, o Equador teve sete presidentes. Três foram derrubados pelo movimento indígena. Os índios são 13% da população e os mestiços 71%. Leónidas Iza, do Movimento Pachakutik, partido ligado à Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), teve 5,26% dos votos no primeiro turno. O movimento ainda não definiu sua posição para o segundo turno
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, declarou apoio a ela. Os dois países romperam relações depois que a polícia equatoriana violou a imunidade diplomática e invadiu a embaixada mexicana em Quito para prender o ex-vice-presidente Jorge Glas, em 5 de abril do ano passado. Glas foi condenado duas vezes, a 6 e 8 anos de prisão, inclusive com provas colhidas pela Operação Lava Jato. Sheinbaum quer reatar as relações.
Com 18,2 milhões de habitantes, o Equador é um dos dois únicos países da América do Sul, ao lado do Chile, sem fronteira com o Brasil. É um dos 17 países megadiversos do mundo, com a maior diversidade biológica por metro quatro. As Ilhas Galápagos têm uma fauna única que influenciou o desenvolvimento da Teoria da Evolução das Espécies pelo naturalista britânico Charles Darwin. É o único país do mundo com uma Constituição que garante os direitos da natureza.
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