O ex-presidente do banco central dos Estados Unidos, Ben Bernanke, hoje na Brookings Institution, e os professores Douglas Diamond, da Universidade de Chicago, e Philip Dybvig, da Universidade Washington em Saint Louis, ganharam hoje o Prêmio Nobel de Economia de 2022 por pesquisas sobre bancos, corridas bancárias e crises financeiras, anunciou a Academia Real de Ciências da Suécia.
Eles criaram as bases para entender “por que os bancos são necessários, por que são vulneráveis e o que fazer a respeito”, integrante do comitê do Nobel de Economia. “As ações tomadas por bancos centrais e reguladores financeiros ao redor do mundo para entrar crises recentes como a Grande Recessão (2007-9) e o impacto da pandemia foram em grande parte motivadas pelas pesquisas dos laureados.”
Os três dividem o prêmio de 10 milhões de coroas suecas (US$ 881 mil ou R$ 4,57 milhões).
Bernanke, um estudioso da Grande Depressão (1929-39), presidente do Conselho da Reserva Federal (Fed) de 2006 a 2014, enfrentou a recessão global deflagrada pela falência do banco de investimentos Lehman Brothers.
Diamond e Dybvig criaram um modelo para explicar a dinâmica das corridas bancárias, quando os correntistas correm para tirar o dinheiro por medo da falência do banco e aí eles quebram mesmo, podendo levar a um colapso financeiro.
Os três laureados começaram as pesquisas nos anos 1980 em busca dos fatores que tornam os bancos vulneráveis, como as falências bancárias agravam e prolongam as crises financeiras e como fortalecer o sistema para evitar estes riscos.
Com os bancos centrais aumentando os juros para combater a inflação, os mercados financeiros estão abalados, com bolsas de valores em queda e estresse nos bancos.
O Comitê do Nobel citou pesquisas antigas, como um ensaio de Bernanke de 1983 em que ele argumenta que as falências bancárias tendem a espalhar as crises financeiras, em vez de serem simplesmente um produto dessas crises.
Em 2008, ele e a equipe enfrentaram a pior crise desde a Grande Depressão. Foi a “aplicação na prática” de anos de trabalho teórico para evitar um colapso ainda maior, disse Bernanke numa conferência na Brookings Institution uma semana atrás. “Acredito firmemente que, se isso tivesse acontecido, derrubaria o resto da economia.”
Quando o mercado imobiliário começou a desabar, mutuários em dificuldades pararam de pagar as prestações da casa própria. Os bancos e outras instituições financeiras ficaram com pilhas de dívidas incobráveis em seus balanços. Isso levou a uma paralisia do mercado financeiro porque as instituições não sabiam como estavam os balanços das outras e pararam de emprestar umas às outras.
Os governos precisaram intervir, oferecendo garantias de crédito, para restaurar a confiabilidade do sistema financeiro e o dinheiro, o sangue da economia, voltar a circular.
A Grande Recessão foi um exemplo do impacto da falência de bancos sobre a economia real. O Fed e o Tesouro dos EUA deixaram o banco Lehman Brothers falir, em 15 de setembro de 2008.
No dia seguinte, o American International Group (AIG), na época a maior seguradora do mundo, revelou dívidas de US$ 180 bilhões. Era grande demais para falir. Tinha em sua carteira desde dívidas de empresas imobiliárias e bancos a seguros pessoais e de automóveis.
“Não sabíamos na época, mas há 15 anos boa parte do mundo estava à beira de uma crise econômica devastadora. A maioria de nós estava despreparada, mas alguns economistas estavam preparados e preocupados”, declarou o secretário-geral da Academia da Suécia, Hans Ellegren.
“Eles haviam estudado a teoria das corridas bancárias, acreditavam no seu trabalho e suspeitavam que a possibilidade de corridas bancárias estava sendo considerada irrelevante”, acrescentou. A realidade comprovou a teoria de que bancos só estão seguros quando bem regulamentados.
O antecessor de Bernanke no Fed, Alan Greenspan, era um ícone do neoliberalismo, visto como um oráculo pelos mercados. Admitiu que “não esperava que os bancos dessem um tiro no pé.” Confiava na autorregulamentação das empresas financeiras.
Bernanke ajudou a montar o Programa de Alívio de Ativos Tóxicos (TARP, em inglês), de US$ 750 bilhões. A maior parte foi paga à medida que os bancos, financeiras e seguradoras se recuperaram.
Num ensaio de 1983, Diamond e Dybvig mostraram os riscos que os bancos correm quando captam dinheiro que pode ser sacado a qualquer momento pelos correntistas e fazem empréstimos de longo prazo.
Uma forma de evitar falências bancárias é dar garantias de que o dinheiro depositado será devolvido mesmo que a instituição financeira quebre. Desta maneira, os clientes não correm para sacar o dinheiro em momentos de pânico.
“Mesmo que estes resgates tenham problemas, pode ser bons para a sociedade”, afirmou Diamond em entrevista após o anúncio do prêmio.
Também é importante para os bancos monitorar quem toma empréstimos. Emprestando para quem tem condições de pagar, conseguem reduzir a inadimplência e baixar os juros, beneficiando a sociedade.
É preciso estar preparado para surpresas, advertiu Bernanke ao aconselhar jovens economistas: “Uma das lições da minha vida é que a gente nunca sabe o que pode acontecer.”
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