Quatro dias depois da queda espetacular da Liz Truss, que ficou apenas um mês e meio no poder, o Partido Conservador britânico tem um novo líder. Será o primeiro não branco e o primeiro de origem indiana a ser eleito primeiro-ministro do Reino Unido. E o terceiro chefe de governo em menos de dois meses.
O ex-ministro das Finanças e ex-secretário do Tesouro Real Rishi Sunak tem dois desafios formidáveis: unir o partido e enfrentar uma crise econômica com raízes na catastrófica saída do Reino Unido da União Europeia (UE). Amanhã, ele pede autorização ao rei Charles III para formar o novo governo.
Truss caiu por causa da rejeição pelo mercado de um plano econômico desastroso com cortes de impostos e aumentos de gastos públicos anunciado em 23 de setembro. Deixaria um rombo de 45 bilhões de libras (R$ 270 bilhões) pelos cálculos dos analistas da City, o centro financeiro de Londres. Sunak tem o crédito de ter alertado o país durante os debates da disputa anterior pela liderança.
A nova disputa se deu em torno de três nomes. Sunak enfrentava certa resistência dos aliados do ex-primeiro-ministro Boris Johnson. Seu pedido de demissão, em 5 de julho, deflagrou uma onda de demissões de dezenas de ministros, secretários e diretores de órgãos do governo britânica que causou a queda de Johnson, em 7 de julho. Era acusado de traição.
Johnson antecipou a volta das férias para entrar na disputa. Ele afirmou que tinha o apoio de pelo menos 100 deputados conservadores, como exigem as regras de sucessão do partido, mas desistiu alegando que a eficiência do governo depende da união da bancada parlamentar. Boa parte não esqueceu dos escândalos que o derrubaram. Como é um mentiroso contumaz, provavelmente não teve apoio suficiente.
A terceira candidata, Penny Mordaunt, ex-ministra da Defesa e atual líder do governo na Câmara dos Comuns, não conseguiu o apoio mínimo. Assim, Sunak foi escolhido sem uma votação. Será o primeiro chefe de governo britânico de origem indiana. Com 42 anos de idade, será o primeiro-ministro mais jovem em mais de 200 anos.
Os partidos Trabalhista e Social-Democrata pediram a antecipação das eleições gerais, que precisam ser realizadas até janeiro de 2025. Como os conservadores chegaram a estar 30 pontos atrás nas pesquisas, não vão convocar eleições agora.
Sunak se destacou ao dar auxílio emergencial de £ 350 bilhões (R$ 2,1 trilhões) a pessoas e empresas durante a pandemia. Esta conta precisa ser paga e o governo quer dar um subsídio aos consumidores de energia elétrica.
Hoje, ele admitiu que vai enfrentar um “desafio econômico profundo. Agora, precisamos de estabilidade e de unidade. Farei minha prioridade máxima unir o partido e o país. É a única maneira de superarmos os desafios e construir um futuro melhor e mais próspero para nossos filhos e netos.”
Com a saída da UE (Brexit), a economia britânica encolheu. Em 2016, ano do plebiscito, tinha 90% do tamanho da economia da Alemanha, a maior da Europa, e hoje está em 70%.
A inflação, de mais de 10% ao ano, é a maior em 40 anos, puxada pela alta nos preços de energia causada pela guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia e as sanções à Rússia. Há previsões de que chegue a 18% em 2023.
O novo líder conservador nasceu em Southampton, no Sul da Inglaterra, em 12 de maio de 1980, numa família da imigrantes indianos da região do Punjab que chegou ao Reino Unido nos anos 1960 vindo do Leste da África.
Ele estudou filosofia, política e economia na Universidade de Oxford e fez mestrado na Universidade Stanford, na Califórnia, nos Estados Unidos, onde conheceu sua mulher, Akshata Murty, herdeira de uma família indiana rica.
O casal tem um patrimônio de £ 730 milhões (R$ 4,38 bilhões). A mulher já foi criticada por pagar impostos na Índia, mas isso não impediu a ascensão de Sunak.
A Índia festejou. O primeiro-ministro ultranacionalista hindu Narendra Modi cumprimentou Sunak, que também é hindu, e prometeu melhorar as relações com o Reino Unido. A comunidade indiana não manifestou o mesmo entusiasmo. O novo primeiro-ministro é muito rico. Não sofre com os problemas da maioria dos imigrantes.
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