quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Construção de moléculas com clique dá Nobel de Química

 Dois norte-americanos, Barry Sharples, da empresa de pesquisas Scripps Research, e a professora Carolyn Bertozzi, da Universidade Stanford, e o dinamarquês Morten Meldal, da Universidade de Copenhague, ganharam hoje o Prêmio Nobel de Química de 2022 pelo desenvolvimento da construção de moléculas com um clique e a química bio-ortogonal, anunciou em Estocolmo a Academia Real de Ciências da Suécia.

Seu trabalho “levou a uma revolução na maneira como os químicos pensam sobre a ligação entre moléculas”, declarou o presidente do Comitê do Nobel de Química. Eles dividem igualmente o prêmio de 10 milhões de coroas suecas (US$ 915 mil ou R$ 4,76 milhões).

Sharples é o quinto cientista a receber dois prêmios Nobel, ao lado de Marie Curie, John Bardeen, Linus Pauling e Frederick Sanger. Bertozzi é a oitava mulher laureada com o Nobel de Química.

A expressão química do clique se refere à simplicidade do processo. É uma forma de construir moléculas com reações rápidas que conseguem evitar a formação de subprodutos indesejados.

As moléculas reagem todo o tempo, na nossa comida e bebida, nos telefones celulares, na pele e em todo o corpo. Estas reações quebram velhas moléculas, criam novas, liberam energia. 

Ao tentar entender estes processos, os cientistas precisam associar moléculas de maneira controlada. É difícil em ambientes como uma célula viva porque as reações atingem outras moléculas ao redor.

Em 2001, o Dr. Sharples e colegas publicaram um ensaio introduzindo o conceito de química do clique, propondo uma nova abordagem neste controle molecular na criação de novas substâncias medicinais.

Uma regra básica foi: “Todas as buscas devem se restringir a moléculas fáceis de fabricar.” Em vez de sintetizar ou criar moléculas orgânicas forçando uma ligação complexa, a equipe focou em ligações que se formam rapidamente e criam substâncias estáveis.

Se isto for feito corretamente, as ligações mais fortes acontecem automaticamente. “Pense nelas como dádivas da natureza”, escreveu o Dr. Sharples.

“O que é único da química do clique é que dois reagentes, na presença de milhares de diferentes tipos de moléculas, vão procurar somente um ao outro e criar um único produto”, comentou Jiong Yang, diretor de programa do Instituto Nacional de Ciência Médica Geral, supervisor do trabalho do Dr. Sharples.

É fundamental identificar os fechos químicos capazes de exercer a função precisamente. Ai entra a contribuição dos outros dois laureados.

Meldal e Sharples descobriram a chave para realizar este tipo de reação: a cicloadição azido-alcino catalisada pelo cobre. Em parte, a descoberta foi acidental. 

Durante uma reação rotineira com íons de cobre, um dos componentes reagiu de maneira inesperada e formou uma substância chamada triazol. O segredo estava no controle do processo pelos íons de cobre.

Ao mesmo tempo, Bertozzi fazia experiências com glicanos, carboidratos complexos geralmente encontrados na superfície de células e proteínas. Ela funda a química bio-ortogonal, que abarca toda reação química dentro de organismos vivos que não afete nem seja afetada pelo ser vivo.

O trabalho dos laureados hoje já tem aplicação prática. Bertozzi descobriu que os gllicanos protegem as células de tumores do ataque do sistema imunológico. Sua equipe desenvolveu um medicamento capaz de impedir a ação protetora dos glicanos. O fármaco está em testes em paciente com câncer avançado.

Amanhã, sai o ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, Na sexta-feira, o Comitê Norueguês do Nobel concede o Prêmio Nobel da Paz, o único anunciado na Noruega. O ganhador do Nobel de Economia será conhecido na segunda-feira.

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