O geneticista sueco Svante Pääbo ganhou o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 2022 por criar um novo campo na ciência, a paleogenômica, ao sequenciar o genoma do homem de Neandertal, que desapareceu há 40 mil anos, e ajudou a identificar populações com alto risco de doenças, anunciou hoje em Estocolmo o Instituto Karolinska, considerado no ano passado a sexta melhor faculdade de medicina do mundo.
O caminho para o sucesso foi tortuoso. Pääbo sonhava em ser egiptólogo. Trabalha há décadas no Instituto Max Planck para a Antropologia Evolucionista, em Leipzig, na Alemanha. Começou extraindo material genético de múmias, mas a pesquisa não deu certo. A amostra foi contaminada pelo DNA (ácido desoxirribonucleico) dele e de colegas.
Em 2006, ele começa a tentar decifrar o código genéticos dos neandertais. Criou sala especiais sanitizadas para impedir a contaminação.
Com os avanços na tecnologia de sequenciamento genético, consegui decodificar o genoma da subespécie humana extinta a partir de ossos fossilizados. “Certamente, era considerado impossível recuperar o DNA a partir de ossos com 40 mil anos”, declarou o Dr. Nils-Göran, presidente do Comitê do Nobel de Medicina e Fisiologia.
Contra estas expectativas, o Dr. Pääbo apresenta o genoma do homem de Neandertal. Abre caminho para estudos comparativos do genoma do homo sapiens neanderthalensis e do homo sapiens sapiens, o homem moderno, e como estas diferenças se refletem na saúde.
Sua equipe descobriu em 2020 que quem herdou trechos do DNA dos neandertais teve casos mais graves da doença do coronavírus de 2019 (covid-19).
Pääbo não estava entre os favoritos para ganhar o prêmio, de 10 milhões de coroas suecas (US$ 908 mil ou R$ 4,69 milhões). Mais cotados eram os cientistas que decifraram o código genético do homem atual no Projeto do Genoma Humana.
O trabalho do Dr. Pääbo aproveitou os avanços na tecnologia de sequenciamento genético e permitiu a decodificação do DNA danificado de ossos de dezenas de milhares de anos atrás.
Antes de se conhecer o código genético dos neandertais, a ciência acreditava que as duas subespécies humanas não haviam procriado. As pesquisas do Dr. Pääbo revelaram que mantiveram relações sexuais todo o tempo, observou o geneticista David Reich, da Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard, que trabalhou no sequenciamento do DNA dos neandertais.
“Estamos sozinhos no mundo agora. Não temos outros humanos arcaicos convivendo conosco”, acrescentou Reich. “Há 50, 60 mil anos atrás, estávamos misturados com eles todo o tempo.”
As técnicas foram usadas com outros humanos extintos. Em 2008, a equipe do Dr. Pääbo encontrou numa caverna da Sibéria um osso de dedo da mão de uma população humana desconhecida, depois batizada como homem de Denisova.
Alguns seres humanos vivos hoje herdaram genes do homem denisovano. Variantes genéticas que permitiram aos tibetanos se adaptar à alta altitude podem ser herdadas deles.
Todo este trabalho permitiu criar um novo mapa das migrações humanas que mostra uma grande miscigenação ao longo da história. “Os mitos racistas de pureza não se sustentam diante dos dados, que mostram como a migração e a mistura foram centrais no nosso passado”, argumentou o Dr. Reich.
Outros colegas estão mapeando o código genético de seres humanos que viveram nos últimos 10 anos.
Nesta terça-feira, a Academia Real de Ciências da Suécia anuncia em Estocolmo o ganhador do Prêmio Nobel de Física e, na quarta-feira, do Prêmio Nobel de Química. Na quinta-feira, a Academia da Suécia dá o Prêmio Nobel de Literatura.
O Prêmio Nobel da Paz é o único anunciado em Oslo, na Noruega, pelo Instituto Norueguês do Nobel. Na próxima segunda-feira, a Academia Sueca atribui o Prêmio Nobel de Economia.
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