sábado, 26 de fevereiro de 2022

Rússia cerca Kiev e pode matar ou prender presidente da Ucrânia

As forças da Rússia, muito mais poderosas, cercam e bombardeiam a capital da Ucrânia. Começou a Batalha de Kiev, em que nas palavras do presidente Volodymyr Zelensky, será decidido o futuro do país como nação independente. Ele é um dos principais alvos. Pode ser preso ou morto.

Zelensky rejeitou uma proposta dos Estados Unidos para ser retirado da Ucrânia. "Deem-me armas  e não um resgate", respondeu o ex-comediante, um presidente acidental hoje disposto a morrer pela pátria.

Seu governo distribuiu 18 mil metralhadoras a reservistas. Vários generais de pijama dos EUA afirmaram na CNN que a derrota é inevitável. Assim, a Ucrânia deveria poupar seus jovens sem treinamento militar de um massacre nas mãos de um exército profissional treinado e bem equipado.

O porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, admitiu enviar negociadores a Minsk, a capital da Bielorrúsia, que está ao lado da Rússia na guerra, para discutir a "neutralidade da Ucrânia". Mas o governo ucraniano rejeita a desmilitarização do país.

É uma total insanidade de um regime paranoico e doentio, uma guerra inútil cujos resultados serão exatamente o contrário do que o ditador Vladimir Putin quer. Ele estaria insatisfeito com a demora das forças russas para tomar Kiev e pode intensificar a ofensiva.

OTAN MAIS FORTE

Diante da ameaça à paz na Europa, a Finlândia e a Suécia cogitam entrar para Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Putin advertiu para "retaliações político-militares".

O presidente Donald Trump (2017-21) ameaçou tirar os EUA da , porque nem todos membros cumprem a meta de gastar 2% do PIB em defesa (a Alemanha gastava 1%; os países bálticos e os outros com fronteira com a Rússia gastam mais). O presidente, da França, Emmanuel Macron, declarou que a aliança militar liderada pelos EUA estava em "morte cerebral".

Putin mobilizou e uniu o que considera seu maior inimigo: a OTAN. Zelensky se oferece para abrir mão do acesso à OTAN e aceitar uma neutralidade, mas ele é um dos alvos da ofensiva.

Em entrevista à CNN, o historiador Timothy Snyder, professor da Universidade de Yale, disse que Zelensky é um alvo, "pode ser morto ou preso e encarcerado" por ser um símbolo da democracia, um homem comum, um comediante que ironiza o presidente e foi eleito para o cargo. É um alerta para outros que quiserem chefiar um governo democrático na antiga URSS.

Ao acusar a Ucrânia de genocídio contra os russos étnicos e de desenvolver armas nucleares, o ditador russo prepara o terreno para possível prisão e processo dos líderes ucranianos num tribunal de guerra da Rússia, especialmente se conseguir transformar a Ucrânia num Estado-fantoche.

Este é o maior problema. Ao conquistar o país, a força de ocupação está em meio a uma população de 44 milhões de habitantes. Vai instalar um governo-fantoche de Moscou? Os ucranianos vão aceitar? Provavelmente não.

A guerra de agressão, proibida pela Carta das Nações Unidas, fortalece o nacionalismo ucraniano. Depois de um conflito armado violentos entre nações e povos irmãos com uma longa história comum, os ucranianos não vão aceitar um governo submisso a Putin.

PODER IMPERIAL

O ditador quer restaurar o poder imperial da Rússia czarista e da União Soviética. Ao acusar os líderes comunistas Vladimir Lenin e Josef Stalin de inventar a Ucrânia, deixou claro que sua Rússia é a do Império Russo e da URSS.

A Rússia perdeu território com a independência das ex-repúblicas soviéticas, mas é o maior país do mundo, duas vezes maior do que o Brasil, com todo o tipo de recurso naturais. Tem uma economia atrasada, do tamanho do Brasil e do Texas.

O Kremlin não é uma sede de governo para um presidente. É uma fortaleza e um palácio imperial magnífico. Quem reina ali deve se considerar dono do mundo, ou de meio mundo, de um país com 11 fusos-horários.

Putin é um czar do século 19. Tem uma visão de poder de território e conquista, do que Eric Hobsbawm chamou de Era dos Impérios, o mundo dividido em esferas de influência das grandes potências. A Rússia sofre desta paranoia porque tem 58 mil km de fronteiras abertas, sem acidentes geográficos. 

O Brasil, por exemplo, tem a Amazônia, o Pantanal e os Andes. O Cone Sul, a Bacia do Prata, foi a única região de confronto entre os impérios espanhol e português na América, que continuou depois da independência, com a guerra contra o ditador argentino Juan Manuel de Rosas, as intervenções no Uruguai e a Guerra do Paraguai. Guerras podem se prolongar.

O que Putin não entende é que o que faz um país rico e poderoso hoje é o desenvolvimento econômico e tecnológico. Ao iniciar uma guerra cruel e totalmente não provocada, isola a Rússia dos países ocidentais e se joga nos braços da China. Fica totalmente dependente da boia de salvação chinesa, que não será suficiente para cobrir todas as perdas com a Ocidente.

A segurança da Rússia não está sob ameaçada. Nenhum país ataca uma potência nuclear. Um grupo guerrilheiro pode fazer isso, e vai fazer se a Ucrânia for ocupada, mas não um exército regular de um país mais fraco.

Se Putin está realmente preocupado com a segurança, precisa negociar novos acordos de desarmamento e controle de armas com os EUA, a Europa e a China. Quase todos os acordos da Guerra Fria caducaram. É hora de construir uma nova arquitetura da segurança internacional.

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