Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
domingo, 8 de dezembro de 2024
Ditadura de Bachar Assad cai na Síria
Numa ofensiva impressionante, em 11 dias, os rebeldes extremistas muçulmanos do grupo Hayat Tahrir al-Sham (Organização para a Libertação do Levante) tomaram as cidades mais importantes da Síria. Nesta noite, entraram na capital, Damasco.
Aparentemente o ditador Bachar Assad fugiu para o Iraque. Seu avião desapareceu dos radares e teria caído, mas isso não foi confirmado. O Comando Geral do Exército ordenou a rendição e a dissolução das últimas unidades. Os rebeldes fizeram um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão anunciando a queda do regime.
O primeiro-ministro Mohammed Ghazi Jalali declarou que o governo está pronto a estender a mão à oposição e a entregar o poder a um governo de transição.
A ditadura truculenta família Assad governava a Síria há quase 54 anos. O pai do ditador deposto foi ministro da Defesa e comandante da Força Aérea antes de tomar o poder, em 1971. Aliado da União Soviética durante a Guerra Fria, lutou ao lado dos Estados Unidos na Guerra do Golfo de 1991 para expulsar o Iraque de Saddam Hussein do Kuwait.
Bachar Assad estudou medicina na Universidade de Damasco e fez pós-graduação em oftalmologia em Londres, onde trabalhava até a morte do irmão mais velho, em 1994, quando foi convocado para voltar à Síria e assumir a posição de herdeiro. A esperança de que fosse um reformista durou pouco.
Quando a Primavera Árabe chegou à Síria, em março de 2011, as manifestações de protestos pacíficas foram duramente reprimidas. O ditador libertou os extremistas muçulmanos presos para alegar que combatia terroristas. Logo, os grupos jihadistas, entre eles Al Caeda e o Estado Islâmico, e tornaram as principais forças rebeldes.
Havia uma expectativa de que Bachar Assad cairia. A Guerra Civil Síria começou a mudar com a intervenção militar da Rússia, a partir de 30 de setembro de 2015. O apoio do Irã e da milícia extremista xiita libanesa Hesbolá (Partido de Deus) também foi importante
Em 2020, o regime controlava dois terços do país. O Nordeste é dominado até hoje por uma milícia árabe-curda que foi a principal força terrestre da guerra dos EUA contra o Estado Islâmico. Milícias ligadas a Al Caeda apoiadas pela Turquia resistiam na província de Idlibe. Foi de lá que partiram os rebeldes que derrubaram o regime.
Com a Rússia concentrada na guerra contra a Ucrânia e o Hesbolá debiitado pela guerra contra Israel, os rebeldes chegaram à vitória.
Em 13 anos e 9 meses de guerra civil, 618 mil sírios foram mortos. Cerca de 6,6 milhões fugiram do país. A onda de refugiados chegou à Europa. É um dos principais fatores da ascensão de partidos de extrema direita no continente.
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