terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Presidente da Coreia do Sul tenta dar golpe e recua mas vai cair

Seis horas depois de decretar a lei marcial e suspender Assembleia Nacional, os partidos políticos, as liberdades civis, inclusive a liberdade de imprensa e o direito de manifestação, o presidente conservador da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, voltou atrás. Está liquidado politicamente e destinado a cair por renúncia ou impeachment, mas seu Partido do Poder Popular pode salvá-lo para não entregar o poder à oposição.

Com apenas 19% de aprovação, Yoon justificou a medida para "proteger o país das forças comunistas. Ele acusa o Partido Democrático da Coreia (DPK), que tem maioria no parlamento desde as eleições de abril deste ano, de realizar atividades contra o país, de fazer o jogo da Coreia do Norte e de paralisar o processo legislativo. 

A lei marcial transfere poderes administrativos e judiciais para os militares, que cercaram a Assembleia Nacional, mas 190 dos 300 deputados conseguiram entrar e votaram por unanimidade para derrubar a medida de força do presidente. Pela artigo 77 da Constituição da Coreia do Sul, a Assembleia Nacional pode revogar a lei marcial por maioria absoluta.

Como durante a lei marcial os militares respondem diretamente ao presidente, os comandantes declararam que iriam ignorar a decisão do legislativo, mas suspenderam o cerco à Assembleia Nacional e recuaram depois que Yoon revogou o decreto. A lei marcial não era aplicada desde a redemocratização do país, em 1987.

A maioria oposicionista não aprovou o orçamento para 2025, que incluía aumento de 3,2% nos gastos militares para enfrentar os desafios do regime comunista norte-coreano. Quer uma atitude mais conciliatória e é contra o fortalecimento da cooperação trilateral com os Estados Unidos e o Japão, defendida por Yoon, que expõe a Coreia do Sul a conflitos com a China e a Coreia do Norte.

Nos últimos meses, o regime norte-coreano aumentou as provocações. Em 17 de outubro, destruiu estradas de ferro e de rodagem ligando os dois países. Em 31 de outubro, testou o míssil balístico intercontinental Hwasong-19, mostrando capacidade de atingir os EUA. Em 4 de novembro, lançou uma barragem de mísseis balísticos de curto alcance. Em 8 de novembro, perturbou os sinais de posicionamento global perto da fronteira, com prejuízo para a navegação aérea e marítima.

Depois de fechar um acordo militar com a Rússia, a Coreia do Norte fornece armas à ditadura de Vladimir Putin e enviou pelo menos 10 mil soldados para a guerra contra a Ucrânia. Em resposta, o governo Yoon prometeu mandar armas e assessores militar à Ucrânia, o que agora parece improvável.

A Coreia foi ocupada pelo Japão de 1910 até o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-45), quando foi ocupada pelos Estados Unidos e a União Soviética, que dividiram o país em Coreia do Sul e Coreia do Norte ao longo do paralelo 38ª N. Os dois países foram criados em 1948. A Guerra da Coreia (1950-53) começa quando as forças do Norte invadem o Sul em 25 de junho de 1950.

Os EUA têm cerca de 24 mil soldados na Coreia do Sul. É a terceira maior força militar norte-americana no exterior, depois do Japão (55 mil) e da Alemanha (35 mil). Está lá desde a Guerra da Coreia (1950-53), com um mandato do Conselho de Segurança das Nações Unidas para unificar a Península Coreana porque no início da guerra a URSS estava boicotando a ONU em protesto contra a não admissão da República Popular da China, na época chamada de China Comunista.

Houve uma guerra entre os EUA e a China dentro da Guerra da Coreia. Em 19 de outubro de 1950, o 4º Exército da China, sob o comando de Lin Biao, que chegou a ser apontado como sucessor de Mao Tsé-tung, cruzou o Rio Yalu. A China venceu ao conseguir empurrar as forças internacionais lideradas pelos EUA para o sul do paralelo 38º Norte, restaurando a situação anterior. Não queria uma Coreia unificada com forças norte-americanas junto à sua fronteira.

Yoon já foi alvo de um processo de impeachment. Agora, o segundo parece inevitável. Se o processo for instaurado, o presidente será afastado por 180 dias e substituído interinamente pelo primeiro-ministro Han Duck Soo. Pela lei sul-coreana, a destituição do presidente exige o voto de pelo menos dois terços da Assembleia Nacional e a Corte Suprema precisa confirmar o impeachment também por pelo menos dois terços. Se o presidente cair, deve haver uma nova eleição presidencial em 60 dias.

A Confederação dos Sindicatos da Coreia, que congrega mais de um milhão de trabalhadores, convocou uma greve geral até a queda de Yoon, que deve suspender se ele renunciar ou for aberto o processo de impeachment.

 Em 2017, a presidente conservadora Park Geun Hye foi destituída num processo de impeachment em um escândalo que envolveu a maior empresa do país, a Samsung, hoje a maior empresa de eletroeletrônicos do mundo.

Com um produto interno bruto de US$ 1,87 trilhão, a Coreia do Sul é hoje a 12ª maior economia do mundo. Tem uma população de 52 milhões de habitantes, uma renda média anual de US$ 36,2 mil por habitante, três vezes e meia maior do que o Brasil, e uma educação de alta qualidade; 99% dos sul-coreanos concluem o ensino médio e 25% tocam instrumentos musicais.

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