No dia mais violento no Líbano desde a Guerra Civil (1975-90), Israel bombardeou mais de 1,6 mil alvos, matou pelo menos 558 pessoas e feriu outras 1.645, deixando o país à beira de uma guerra total capaz de conflagrar ainda mais o Oriente Médio.
Israel e a milícia fundamentalista xiita libanesa Hesbolá (Partido de Deus) se enfrentavam regularmente. Este conflito se intensificou desde 8 de outubro do ano passado, um dia depois do ataque terrorista do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) a Israel, em que cerca de 1,2 mil israelenses e estrangeiros foram mortos e 257 sequestrados.
Desde então, o Hesbolá aumentou o nível das escaramuças diárias com Israel em solidariedade ao Hamas.
No início da guerra, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, queria enfrentar também o Hesbolá, mas o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu duvidou da capacidade de Israel combater em duas frentes ao mesmo tempo. A prioridade era derrotar o Hamas.
Com quase um ano de guerra, mais de 40 mil palestinos foram mortos, de acordo com o Hamas, e a Faixa de Gaza está em ruínas. Mas Israel não atingiu seus objetivos: não destruiu a máquina militar do Hamas, que teria perdido cerca da metade de seus 30 mil milicianos, não conseguiu libertar os reféns e o Hamas ainda é a força política dominante entre os palestinos de Gaza e está mais forte na Cisjordânia, onde há um conflito de baixa intensidade agravado pela guerra em Gaza.
A campanha militar de Israel tem fortes indícios de crimes de guerra ao não discriminar combatentes de civis, usar a fome como arma de guerra e pela remoção forçada de palestinos.
O Tribunal Internacional de Justiça das Nações Unidas examina uma denúncia de genocídio apresentada pela África do Sul e o procurador-geral Tribunal Penal Internacional pediu a prisão do primeiro-ministro e do ministro da Defesa de Israel, além de três dirigentes do Hamas: o líder político, Ismail Haniya; o comandante militar, Mohammed Deif; e o líder em Gaza, Yahya Sinwar, considerado o mentor do ataque terrorista. Haniya e Deif foram mortos por Israel, o primeiro em Teerã, quando assistia a posse do novo presidente iraniano.
Há meses, os Estados Unidos, o Egito e o Catar tentam mediar uma trégua para troca de reféns por prisioneiros palestinos detidos em Israel, mas o Hamas exige um cessar-fogo permanente e Netanyahu quer continuar a guerra. Sabe que no fim do conflito seu governo de extrema direita vai cair porque não foi capaz de proteger o país do ataque terrorista de 7 de outubro e que terá de responder a três processos por corrupção que podem levá-lo para a cadeia.
Netanyahu tem interesse em prorrogar a guerra para evitar a queda de seu governo de extrema direita e tentar ajudar a eleger o aliado Donald Trump, apesar do risco de uma conflagração geral no Oriente Médio com uma guerra total contra o Hesbolá, com invasão terrestre do Líbano.
Se Israel conseguir matar o líder do Hamas em Gaza, Yahya Sinwar, considerado o principal responsável pelo ataque, talvez Netanyahu declare vitória sobre o Hamas. Mas a situação no Líbano é cada vez mais explosiva. Agravou-se na semana passada, quando pagers e walkie-talkies usados para comunicação membros do Hesbolá explodiram na segunda e na terça-feira, matando pelo menos 37 pessoas e ferindo outras 3 mil.
Em Nova York, onde participa da reunião anual da Assembleia Geral da ONU, o presidente do Irã, Massoud Pezeshkian, acusou Israel de buscar uma "guerra total".
O Irã é o grande patrocinador do Hesbolá, uma força auxiliar que pretende usar numa possível guerra contra Israel. Portanto, tenta preservar a milícia xiita, que 130 mil homens armados, muitos com experiência na guerra civil na Síria, foguetes, mísseis e drones fornecidos pelo Irã. É a milícia mais poderosa do mundo, mais poderosa do que o Exército do Líbano.
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