O general Juan José Zúñiga, ex-comandante do Exército da Bolívia, foi preso hoje depois de tentar derrubar o governo numa tentativa de golpe fracassada. Zúñiga havia sido demitido ontem por ameaçar prender o ex-presidente Evo Morales se ele se candidatar a presidente.
Um dos países mais pobres da América do Sul, sem saída para o mar, que perdeu para o Chlle na Guerra do Pacífico (1879-83), a Bolívia tem uma longa história de instabilidade política. Foi palco de 194 tentativas de golpe de Estado até hoje.
Desta vez, os militares rebeldes ocuparam a Praça Murillo, no Centro de La Paz, e invadiram o Palácio Queimado, que tem este nome porque foi incendiado numa revolta popular em 1875. O presidente Luis Arce, do partido Movimento ao Socialismo (MAS), não estava lá. Estava no novo palácio presidencial, a Casa Grande de Governo.
Arce peitou o general golpista, xingado por populares, e ordenou, como seu chefe supremo, que retirasse suas tropas e tanques das ruas. Foi um golpe rápido. Durou cerca de três horas.
Zúñiga exigia que Evo não seja mais candidato a presidente e a libertação da ex-presidente interina Jeanine Áñez e do governador do Departamento de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho. Os dois repudiaram o golpe.
Na segunda-feira, Zúñiga declarou que prenderia Evo se o ex-presidente se candidatasse de novo. O general também queria um novo ministério e declarou que reconhecia Arce como comandante em chefe em chefe "por enquanto". É investigado por corrupção.
Em seguida, o presidente empossou os novos comandantes das Forças Armadas. Ao ser preso, o general golpista alegou que combinara o golpe com o presidente para melhorar a popularidade de Arce, abalada por uma crise econômica.
O ex-vice-almirante Juan Arnez Salvador também foi detido por participar da conspiração golpista. A Marinha boliviana, alvo de ironia porque o país não tem saída para o mar, também participa de goles.
A inflação em alta, a falta de dólares, o aumento do desemprego e problemas na distribuição de combustíveis abalam a popularidade do governo esquerdista, que ainda enfrenta um conflito interno entre Evo Morales, que quer voltar ao poder, e o presidente Arce, que foi ministro de Economia e Finanças de Evo. Ambos querem se candidatar à Presidência em 2025.
Arce é considerado o arquiteto do crescimento de 344% e na queda da pobreza extrema de 38% para 15% da população nos governos de Morales.
A Argentina, o Brasil, o Chile, a Colômbia, a Guatemala, Honduras, o México, o Uruguai, a Venezuela e a União Europeia condenaram o golpe. O bilionário Elon Musk já declarou que apoiaria um golpe na Bolívia porque o governo socialista não permite a exploração das grandes reservas de lítio, metal estratégico para fabricação de baterias e carros elétricos.
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