terça-feira, 15 de novembro de 2022

Trump relança candidatura à Casa Branca em tom cauteloso

Mesmo depois de liderar o Partido Republicano em três derrotas eleitorais consecutivas, o ex-presidente Donald Trump lançou hoje à noite na Flórida sua candidatura à Presidência dos Estados Unidos em 2024. 

Com o festival de mentiras habitual e se autoelogiando o tempo todo, mas com cautela diante dos processos e das derrotas nas urnas, Trump afirmou que não haveria guerra na Ucrânia nem ameaça de uso de armas nucleares nem inflação alta se ele ainda estivesse na Casa Branca.

Trump descreveu os EUA como um país catastrófico em decadência depois de ter atingido o auge da glória em seu governo. Destacou os cortes de impostos e o crescimento pré-pandemia. Falou em aumento da criminalidade e da violência, da imigração ilegal como se a fronteira do México estivesse aberta para homens e drogas. Mas evitou falar em questões polêmicas, especialmente seus problemas com a Justiça. Não insistiu na mentira de que a eleição de 2020 foi roubada.

A candidatura faz parte da estratégia de defesa. Na Geórgia, há uma investigação em Atlanta sobre sua tentativa de fraudar o resultado da eleição no estado em 2020, a partir de uma gravação em que Trump pressiona o secretário de Estado, Brad Raffensperger, a conseguir o número de votos que precisava para vencer Joe Biden.

Aliás, Trump acusou a China de interferir na eleição de 2020 para favorecer Joe Biden, que se reuniu na segunda-feira com o ditador Xi Jinping em Báli, na Indonésia, antes de uma conferência de cúpula do Grupo dos 20 (19 países mais ricos do mundo e a União Europeia). O diálogo entre os dois países mais poderosos do mundo é essencial do combate ao aquecimento global à paz mundial.

A procuradora-geral do estado de Nova York, Letitia James, cobra US$ 250 milhões de Trump, dos filhos e das Organizações Trump por fraude fiscal ao fornecer informações falsas a bancos e seguradoras sobre o valor dos bens das empresas do grupo. Eles também enfrentam uma investigação criminal sobre a fraude fiscal.

O Departamento da Justiça faz um inquérito sobre os documentos da Presidência, inclusive ultrassecretos, que Trump levou ilegalmente para sua mansão no clube de golfe Mar-a-Lago, na Flórida, seu atual domicílio. Ele alega que os documentos foram desclassificados por decisão dele quando estava na Casa Branca.

Talvez mais graves sejam as investigações da Câmara dos Representantes e do Departamento da Justiça sobre o ataque ao Capitólio, sede do Congresso, em 6 de Janeiro de 2021, uma tentativa de golpe de Estado ao querer impedir a certificação da vitória de Biden.

A comissão da Câmara que investiga a insurreição intimou Trump a depor e a entregar documentos. Ele se negou e recorreu à Justiça.

Pela tentativa de golpe sem precedentes na história do país, Trump pode ser processado por tentar impedir um procedimento oficial, tentativa de fraudar a eleição presidencial e por sedição, por tentar derrubar o governo legitimamente eleito dos EUA.

Com apenas 39% de popularidade, Trump consegue mobilizar as bases mais radicais do Partido Republicano e ganhar as eleições primárias. Mas o partido sofreu em 8 de novembro sua terceira derrota consecutiva em eleições nacionais. Não houve a esperada "onda vermelha", cor dos republicanos.

A cúpula do partido já percebeu o peso negativo do ex-presidente. A grande vitória nas eleições de meio de mandato foi a democracia. Os candidatos que insistiram no discurso de que houve fraude em 2020 perderam quase todas as eleições competitivas. Só em distritos onde os republicanos ganham sempre os candidatos apoiados por Trump venceram.

O Partido Republicano precisa se livrar de Trump. Como possível candidato em 2024 desponta o governador da Flórida, Ron DeSantis, reeleito com uma vantagem de quatro 20 pontos percentuais sobre o candidato democrata.

DeSantis foi apoiado por Trump nas primárias das eleições de 2018 e foi um negacionista na pandemia, contra a obrigatoriedade das vacinas e do uso de máscaras. Chegou a convidar policiais que perderam emprego em outros estados por não se vacinar a se mudar para a Flórida.

De certa forma, DeSantis é o trumpismo sem Trump, seus filhos e seus processos.

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