Pelo menos 50 pessoas morreram em uma semana de uma revolta popular liderada por mulheres jovens contra a ditadura teocrática da República Islâmica do Irã, fundada em 1979 pelo aiatolá Ruhollah Khomeini. Elas estão cortando o cabelo, queimando o véu islâmico (hijab) e mostrando a cabeleira nua num desafio à “polícia da moralidade”.
A luta tem uma mártir. Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos da região curda do Nordeste do Irã, visitava parentes na capital, Teerã, em 13 de setembro, quando foi presa da polícia religiosa, a polícia de costumes, por estar com o véu mal colocado, mostrando um pouco do cabelo.
Ela foi abordada numa saída do metrô. Estava com o irmão, que explicou eles eram do interior. Mahsa foi para a delegacia para ser “educada” sobre a maneira correta de usar o hijab.
Sua morte, no dia 16, num hospital de Teerã, depois de três dias de coma com lesões no crânio causadas por tortura, deflagraram a onda de protestos. É a maior desde que mais de 1,5 mil pessoas morreram em 2019 e 2020 em choques com a polícia durante manifestações contra uma alta nos preços dos combustíveis.
No túmulo, na cidade de Sakez, na região curda, está escrito: “Querida Ihina [nome curdo], você não morreu. Seu nome se tornou um símbolo.”
Multidões tomaram as ruas de cidades de 16 das 31 províncias iranianas e no exterior aos gritos de “morte ao ditador”, o aiatolá Ali Khamenei, sucessor de Khomeini como Supremo Líder Espiritual da Revolução Islâmica.
Nas ruas e na Internet, mulheres iranianas estão cortando o cabelo, queimando o hijab e saindo à rua sem véu. Uma das líderes do movimento é Masih Alinejad, uma exilada iraniana que mora em Nova York sob a proteção do FBI, a polícia federal dos Estados Unidos.Há anos, ela estimula as iranianas a se rebelar contra o véu e mostrar na rede. Agora publicou um vídeo de Teerã onde uma manifestante diz: “Nosso sonho se tornar realidade. Finalmente, estamos queimando na rua o símbolo da nossa opressão.”
Elemento central da ideologia do regime fundamentalista xiita, o hijab cristaliza a vida insuportável da mulher iraniana, que ficou ainda pior com a eleição para presidente, em junho de 2021, do ultraconservador Ebrahim Raissi, ex-presidente do Supremo Tribunal do Irã.
O novo governo restringiu os métodos anticoncepcionais sob o pretexto de estimular a natalidade. Todo protesto, dos diretos da mulher à questão do meio ambiente, enfrenta uma dura repressão.
Para conter a revolta, além da repressão violenta, a partir de 19 de setembro, a ditadura dos aiatolás e da Guarda Revolucionária cortou a Internet em várias regiões do Irã. Desde o dia 21, aplicativos como WhatsApp e Instagram estão bloqueados por “razões de segurança nacional”.
Alguns dias atrás, Alinejad escreveu no Twitter: “Nós, mulheres do Irã, tiramos o véu e cantamos contra a ditadura religiosa com risco de prisão e morte, mas temos um sonho: queremos nos livrar do regime islâmico.”
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