Em um breve discurso pela televisão hoje à noite, o ditador do Egito, Hosni Mubarak, prometeu não concorrer à reeleição em setembro, mas declarou que vai continuar no poder durante um período de transição.
Antes, ele recebeu o embaixador Frank Visner, enviado especial do presidente Barack Obama, com a mensagem dos Estados Unidos de que deveria anunciar que vai sair.
Os manifestantes concentrados na Praça da Libertação, no centro do Cairo, repudiaram o pronunciamento. Continuam exigindo a renúncia imediata de Mubarak, de 82 anos, no poder desde 1981.
Mubarak afirmou que "um movimento legítimo, com reivindicações justas, foi explorado por interessados em criar um clima de caos e destruir a Constituição do Egito".
Pela lógica do ditador, isso teria levado a uma confrontação organizada por interessados em jogar combustível no fogo e criar uma situação de anarquia, saques e destruição em que propriedades públicas e privadas são atacadas.
"É um momento difícil", acrescentou o ditador, "com dias de medo e ansiedade que obrigam a optar entre o caos e a estabilidade. São novas circunstâncias com que o povo e o Exército têm de lidar para proteger o país e suas crianças."
Por este motivo, o presidente egípcio nomeou "um novo governo com novas prioridades, para atender às exigências dos jovens num diálogo com todos os partidos que deve discutir todas as questões. Mas há forças políticas que rejeitam esse diálogo", o que não é verdade.
Depois de ficar 30 anos na presidência, o ditador teve a cara de pau de dizer que "nunca quis poder nem prestígio", lembrando que chegou à presidência por acaso, quando o presidente Anuar Sadat foi assassinado, em 1981, por ter feito um acordo de paz com Israel.
Sob a alegação de que não é de sua natureza fugir da responsabilidade, Mubarak se apresentou como o homem ideal para a transição. Neste momento, confirmou que não será candidato na eleição presidencial. Ele acredita que sua missão agora é "garantir uma transição pacífica do poder para quem quer que o povo eleja".
Certamente não será seu filho, Gamal Mubarak, como se especulava antes da revolta popular.
A Constituição do Egito terá de ser alterada para permitir a participação de todos os partidos, prosseguiu, mas "a Assembleia Nacional também terá de trabalhar duramente para atender aos anseios da população por mais empregos, menos pobreza e mais justiça social".
Ao mesmo tempo, o ditador avisou que a polícia vai investigar, "respeitando a dignidade, os saques e os atos de vandalismo".
Esta frase levantou suspeitas na multidão reunida na Praça da Libertação, no centro do Cairo, de que Mubarak persiga e afaste do jogo político os responsáveis pelas manifestações de massa dos últimos oito dias.
"O Egito vai sair da crise mais forte, mais confiante, mais unido e mais estável", previu o ditador. Depois de dizer que teve orgulho de servir o país por tanto tempo - foram 30 anos só na presidência -, ele concluiu: "lutei por este país e vou morrer aqui", afastando a possibilidade de fugir para o exílio.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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