Musa dos anos 1960 sai de cena com um legado formidável
Linda, inteligente, culta, nada recatada e muito menos do lar. Era uma mulher do mundo. Marianne Faithfull foi musa e diva da Londres trepidante dos anos 1960. Namorada de Mick Jagger, saía para a noite com Mick, Keith Richards, John Lennon, Paul McCartney e outras estrelas do rock. Aos 17 anos, a interpretação com voz suave, melancólica e carinhosa de As Tears Go By, de Jagger e Richards, que ainda não havia sido gravada pelos Rolling Stones, a lançou ao estrelato. Essa voz eterna se calou na quinta-feira, 30 de janeiro, aos 78 anos.
Marianne e Anita Pallenberg, namorada de Brian Jones e mulher de Keith Richards, foram as mulheres que fizeram a cabeça dos Rolling Stones e se tornaram símbolos da rebeldia dos loucos anos 1960. Dizem que Keith Richards era um bundão antes de Anita, uma atriz e modelo ítalo-alemã, a Rainha Negra de Sogo, a vilã do filme Barbarella (1968), de Roger Vadim, estrelado por Jane Fonda.
Filha de uma baronesa austríaca da dinastia dos Habsburgo e de um major do serviço de inteligência britânica, Marianne Faithfull nasceu 29 de dezembro de 1947 em Hampstead, um bairro de classe média alta e intelectuais do Norte de Londres. Foi atriz de Jean-Luc Godard em Made in USA (1966). Foi A Garota da Motocicleta (1968), contracenando com Alain Delon, Ofélia em Hamlet (1969) e a imperatriz Maria Teresa da Áustria em Maria Antonieta (2006), de Sofia Coppola.
Quando a polícia prende Mick e Keith por posse e uso de drogas, em 1967, a promotora associa o fato de Marianne estar nua, coberta apenas por um tapete de pele de urso, Keith considera normal e responde: "Não somos velhos. Não estamos preocupados com um moralismo mesquinho." Vira um dos porta-vozes da geração rebelde dos anos 1960.
Mick e Keith saem com a imagem de meninos maus cultivada pelo marketing dos Rolling Stones fortalecida. Marianne, nas palavras dela, sai "diminuída, humilhada e espezinhada".
Mais tarde, o caso é anulado porque a tentativa de associar a seminudez de Marianne Faithfull ao consumo de drogas é considerada preconceituosa.
Ela perde um filho de Mick e se afunda em álcool e drogas, inclusive heroína. Durante alguns anos, vaga pelas ruas do Soho, no centro de Londres.
Jagger e Richards usam seus versos em Wild Horses e You Can’t Always Get What You Want. Marianne ressurge com uma segunda voz rouca em Sister Morphine, em 1979, e depois processa os Rolling Stones para que reconheçam a coautoria.
A influência mais forte de sua poesia vem da Geração Beat. Marianne Faithfull “aprende a escrever na escola de Jack Kerouac de poesia desencarnada, na Universidade Naropa, no Colorado”, escreveu o jornal francês Libération, que colocou a jovem Marianne na capa na sexta-feira.
O poeta beat Allen Ginsburg corrigia seus textos: “Allen ne ensinou tanto sobre William Blake e Walt Whitman, mas principalmente me ensinou a meditar. Sou eternamente grata a ele, era uma das pessoas mais queridas no meu coração.”
Em 2009, tive a oportunidade de assistir a um show de Marianne Faithfull no Royal Festival Hall. Havia perdido a beleza da juventude para o álcool e as drogas, mas dado a volta por cima como uma grande dama da canção com uma voz rascante que vendeu milhares de discos e lhe valeu a indicação para um Prêmio Grammy.
Adeus, Marianne Faithfull! Às vezes, parece que o mundo era muito mais inteligente e mais interessante, e certamente muito mais louco, de uma loucura que às vezes levava à lucidez, mas cobrava seu preço.
Um comentário:
Linda homenagem
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