domingo, 15 de agosto de 2021

Afeganistão é primeiro grande erro de política externa de Biden

 A guerra mais longa da história dos Estados Unidos termina com uma humilhante derrota muito mais do que anunciada. Diante da entrada dos rebeldes de milícia fundamentalista sunita dos Talebã (Estudantes) na capital sem maior resistência, o presidente Ashraf Ghani Ahmadzai fugiu hoje do Afeganistão. A retirada americana, abandonando aliados e o governo-fantoche, é o primeiro grande erro de política externa do governo Joe Biden.

Vitoriosos, os talebã avisam à imprensa estrangeira nas ruas de Cabul que "a jihad (guerra santa) continua até submeter o mundo inteiro à lei islâmica." 

Dez anos depois dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos EUA, que levaram à intervenção internacional, o Afeganistão volta a se tornar um antro para o terrorismo dos extremistas muçulmanos com um regime feudal que discrimina mulheres, homossexuais, minorias étnicas e religiosas, tentando recriar o mundo à imagem da Arábia do século 7, no tempo do profeta Maomé.

Biden mandou retirar todas as forças americanas até o fim de agosto, antes do vigésimo aniversário dos atentados. Na última hora, enviou mais 5 mil soldados para evitar cenas como a fuga desesperada da Embaixada dos EUA em Saigon, hoje Cidade de Ho Chi Minh, no fim da Guerra do Vietnã, em 30 de abril de 1975. 

A diferença é que a Guerra do Vietnã foi perdida politicamente na frente interna, não no campo de batalha. O Afeganistão foi simplesmente abandonado. A decisão estava tomada desde o governo Donald Trump (2017-21), que prometia acabar com as "guerras eternas" e fechou um acordo de paz no ano passado que libertou 5 mil guerrilheiros talebã. 

A Guerra do Afeganistão começa em 7 de outubro de 2001, com a autorização do Conselho de Segurança das Nações Unidas e o apoio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) aos EUA com base no princípio de que um ataque contra um dos membros da aliança é um ataque contra todos. Três semanas depois, os talebã caíram.

Em 20 anos, a guerra custou US$ US$ 2 trilhões e as vidas de 2.448 soldados americanos e de 1.144 militares aliados dos EUA, de 3.846 civis americanos e de 66 mil homens das forças de segurança afegãs, num total estimado em 240 mil mortes. Os EUA chegaram a ter 100 mil soldados no Afeganistão.

Para acertar a retirada, os EUA assinaram o Acordo para Levar a Paz ao Afeganistão com os Talebã em Doha, no Catar, em 29 de fevereiro de 2020. Em troca da saída de todas as forças internacionais, os Talebã se comprometeram a não atacar a retirada americana, a não deixar o país ser usado por quaisquer grupos ou indivíduos para atacar os EUA e aliados, e a negociar um cessar-fogo permanente. Mil soldados afegãos e 5 mil rebeldes foram libertados.

Este acordo complementar nunca foi negociado. Os Talebã sabiam que o governo não se sustentaria sem o apoio militar dos EUA. A expectativa era de uma queda do regime em seis meses a um ano. Não resistiu a 10 dias de ofensiva inimiga. As principais cidades afegãs, Cabul, Kandahar, Herat, Jalalabade e Mazar-i-Sharif foram ocupadas sem oposição.

Um comentário:

Ilson Enk disse...

Texto muito esclarecedor.