domingo, 29 de novembro de 2020

Franceses protestam contra violência policial e "lei de segurança"

Pelo menos 133 mil pessoas, segundo a polícia, 500 mil, dizem os manifestantes, protestaram ontem em várias cidades da França contra o projeto de uma "lei de segurança" que proíbe filmar policiais em ação a pretexto de não identificá-los para grupos criminosos e terroristas. A nova lei, proposta pelo presidente Emmanuel Macron, é considerada autoritária, contra as tradições de liberdade da França. 

As manifestações ganharam força com a divulgação na quinta-feira passada de imagens de câmeras de segurança que mostraram quatro policiais espancando o jovem produtor musical negro Michel Zecler dentro de seu próprio estúdio. Todos foram afastados do serviço e estão sendo investigados. Três foram presos.

Os policiais declararam que interpelaram produtor musical porque estava sem máscara e exalava um cheiro forte de maconha. Apreenderam meio grama da erva no estúdio.

No sábado, pelo menos 46 mil pessoas marcharam pelas ruas de Paris entre a Praça da República e a Praça da Bastilha. A maior parte do protesto foi tranquila, mas houve choques entre manifestantes e a polícia, e 89 policiais saíram feridos.

O principal alvo é o projeto da Lei de Segurança Global, aprovado em primeira votação pela Assembleia Nacional na terça-feira passada. Sob esta lei, a divulgação das imagens de ações policiais seria proibida. Os outros alvos são o racismo e a violência policial.

"É o povo da liberdade que marchou em toda a França para dizer ao governo que não quer esta lei de 'segurança global', que recusa a vigilância generalizada e os drones, que quer poder filmar e divulgar as intervenções das forças da ordem", declarou a coordenação do movimento Pare a Lei de Segurança Global, organizado por jornalistas e entidades de defesa dos direitos humanos.

"Se não pudermos filmar, quem vai nos proteger contra a violência policial", reclamou Camille, uma manifestante de 23 anos.

"Esta é uma lei que se inscreve numa cadeia de constrangimentos liberticidas", afirmou Kathy ao lado de Camille.

"As leis restritivas da liberdade não param de se multiplicar", denunciou Farid Hamel, diretor da ordem dos advogados de Lyon. "Se um ditador tomar ao poder amanhã na França, terá todas as medidas jurídicas à disposição. Sob pretexto de segurança, constroem um regime que pode resvalar a todo momento para o autoritarismo."

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