domingo, 12 de setembro de 2021

Quem ganhou e quem perdeu a Guerra contra o Terror

O colapso da ordem internacional liberal no mundo pós-Guerra Fria

Sob o céu de puríssimo azul de uma manhã de verão em Manhattan, dois aviões de passageiros transformados em mísseis guiados por pilotos suicidas da rede terrorista Al Caeda destruíram, em 11 de setembro de 2001, muito mais do que os maiores prédios de Nova York matando 2.606 pessoas, sem contar os passageiros e tripulantes dos aviões-bomba. 

Outro avião atingiu o Pentágono, sede do Departamento da Defesa, símbolo do poderio militar incontrastável dos Estados Unidos, e matou 125 pessoas. Estavam feridos o orgulho e a glória da única superpotência, que reinava soberana há uma década como única superpotência, desde o desaparecimento da União Soviética no fim da Guerra Fria, em 1991. 

Um quarto avião caiu numa zona rural da Pensilvânia, matando as 69 pessoas a bordo ao ser derrubado pelos passageiros quando ia sequestrado rumo a Washington para atingir a Casa Branca ou o Capitólio. Ao todo, foram 2.977 mortes nos atentados, excluindo os 19 terroristas.

O século 21 nasce num mundo mais autoritário, com mais restrições às liberdades individuais e o medo do terrorista suicida que se infiltra na multidão ou num avião disposto a dar a vida por sua causa, de voluntários do martírio em busca da graça divina eterna e de um lugar no paraíso para desfrutar 72 virgens. 

Junto com as Torres Gêmeas do World Trade Center, cai a ordem internacional liberal do mundo pós-Guerra Fria, que prometia uma era de paz e prosperidade, com o triunfo da democracia liberal e da economia na confrontação estratégica das superpotências que dominaram o mundo na segunda metade do século 20. Ruiu a tese do “fim da história” como confronto ideológico. 

Vinte anos, US$ 8 trilhões e 900 mil mortes depois, inclusive de 6.892 militares americanos, com a caótica retirada do Afeganistão, os Estados Unidos declaram vitória. Mas a fuga desesperada nos últimos dias de estrangeiros e afegãos aliados das forças internacionais lembra a queda de Saigon no fim da Guerra do Vietnã, em 30 de abril de 1975, ou a retirada do Líbano depois de atentados terroristas de extremistas muçulmanos em Beirute que mataram 241 fuzileiros navais americanos e 58 soldados franceses, em 23 de outubro de 1983, ou da Somália depois de mortes de 18 americanos na Batalha de Mogadíscio, em 3 a 4 de outubro de 1993. Três derrotas humilhantes. 

QUEM GANHOU? 
Quem venceu então a Guerra contra o Terror? O nome em si é um equívoco. O terrorismo é uma tática de guerra, não é um inimigo em si. O inimigo, no caso, é o jihadismo (de jihad = guerra santa), o terrorismo dos extremistas islâmicos que pregam a luta armada para converter ou matar os infiéis: “A bolsa, a vida ou o Corão.” 

No passado, na expansão do islamismo pela Europa, dava para comprar lealdade, o que aconteceu com os muçulmanos da Bósnia, que pagavam menos impostos ao Império Otomano se aderissem ao islamismo. Isso praticamente sumiu na Guerra contra o Terror. 

O jihadismo é de certa forma um populismo político. Pesca no mar do Corão, o livro sagrado dos muçulmanos, elementos para criar e justificar sua ideologia sanguinária. É uma ideologia e uma guerra ideológica é uma batalha de ideias. Não pode ser vencida com armas. 

Antes de mais nada, é uma guerra civil dentro do Islã sobre qual é a verdadeira interpretação do Corão. Tem uma base religiosa. Sonha em recriar o mundo à imagem da Arábia no século 7, no tempo do profeta Maomé. Ao mesmo tempo, usa os recursos tecnológicos do século 21. Criou um califado digital que divulga atrocidades e recruta voluntários para o martírio. Na verdade, é um movimento político extremista surgido em lugares onde não há liberdade política, então os militantes se reúnem nas mesquitas.

Inicialmente a vitória foi dos terroristas, que na visão de seu líder, Ossama ben Laden, romperam a aura de invencibilidade dos EUA ao mostrar capacidade de atacar os centros do poder econômico, político e militar da superpotência, ao levar as guerras do Oriente Médio para dentro do território americano e a qualquer lugar do planeta, numa globalização do terrorismo. 

PAQUISTÃO 
No Afeganistão, a grande vitória foi do Paquistão. O serviço secreto militar paquistanês apoia a Milícia dos Talebã (Estudantes) desde um mês depois de sua fundação, em setembro de 1996, quando o Afeganistão vivia um período de anarquia depois da retirada da União Soviética, em 1989. 
 
O ministro do Exterior paquistanês foi a Cabul pacificar as diferentes correntes dos talebã, se encontrou com as lideranças da milícia fundamentalista sunita e com o novo ministro do Interior afegão, Sirajuddin Hakkani, que está na lista de terroristas procurados pelos EUA. Ele é filho de Jalaluddin Hakkani, que foi recebido pelo presidente Ronald Reagan na Casa Branca quando lutava conta a invasão soviética (1979-89), embora haja quem diga que esse encontro nunca ocorreu. 

Antes de se tornar chefe de governo do Paquistão, o atual primeiro-ministro, Imran Khan, admitiu que a Rede Hakkani é o braço do Exército do Paquistão na guerra civil afegã. O ministro do Interior do Afeganistão tem boas relações com a rede Al Caeda. 

Está recriado o ambiente onde floresceram os terroristas que atacaram o World Trade Center. O atentado contra o aeroporto de Cabul em que morreram 13 militares americanos e 170 civis afegãos, em 26 e agosto, cometido pelo Estado Islâmico do Coração (Khorasan) mostra que os talebã dificilmente terão controle absoluto sobre o território afegão, que pode servir da base para ataques aos países vizinhos, aos EUA e aliados, à China, à Rússia ou à Europa. 

Como 43% do produto interno bruto do Afeganistão vêm de ajuda externa, os talebã precisam de reconhecimento, ajuda e financiamento internacionais, um forte estímulo para a moderação. Mas a ideologia não mudou, voltaram as restrições às mulheres, jornalistas foram espancados ao cobrir manifestações de protesto e os primeiros milicianos do grupo ouvidos por jornalistas estrangeiros nas ruas de Cabul enquanto festejavam a vitória foram claros: “A guerra santa continua até converter todos os infiéis no mundo inteiro.” 

IRà
Na Guerra do Iraque para derrubar o ditador Saddam Hussein, que nada teve a ver com os atentados de 11 de setembro, o grande vencedor foi o Irã. Há hoje um arco muçulmano xiita que vai do Irã ao Mar Mediterrâneo passando pelo Iêmen, o Irã o Iraque, a Síria e o Líbano. 

Ao fim da Primeira Guerra Mundial (1914-18), a aliança vencedora (EUA, França e Reino Unido) prometeu aos curdos, maior povo do mundo sem um Estado Nacional, fundar o Curdistão. 

O subsecretário de Estado para o Oriente Médio do Império Britânico, Winston Churchill, quebrou a promessa. Criou o Iraque artificialmente, juntando a província curda de Kirkuk, rica em petróleo, às províncias de Bagdá e Bássora do Império Otomano (turco), vencido e dissolvido. 

Churchill queria um Iraque suficientemente poderoso para conter o Irã. Depois da vitória da Revolução Islâmica liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, em 1979, os EUA, a URSS, a Europa e os países árabes apoiaram Saddam Hussein na Guerra Irã-Iraque na expectativa de acabar com a revolução iraniana. Sem sucesso, com um enormes perdas para os dois lados e pelo menos 500 mil mortes. A guerra terminou num impasse, mas ajudou a conter a exportação da revolução islâmica. 

Ao invadir o Iraque, depor Saddam e tentar impor um regime democrático, em 2003, os EUA entregaram o poder à maioria xiita depois de séculos de dominação sunita. A revolta sunita e a infiltração d’al Caeda forjaram o Estado Islâmico, um novo inimigo para o Ocidente e para os regimes do Oriente Médio. E os xiitas têm uma afinidade com o Irã, que controla várias milícias no país e mais de 60 no Oriente Médio. 

Isso leva o governo Trump a matar o principal general iraniano, Kassem Soleimani, comandante do braço da Guarda Revolucionária do Irã para ações no exterior, num ataque de mísseis ao aeroporto de Bagdá, em 3 de janeiro de 2020, quase incendiando o Oriente Médio. 

Os EUA saem do Iraque em 2011, quando o primeiro-ministro Nuri al-Maliki se nega a dar imunidade aos soldados americanos por crimes cometidos no país. Voltam em agosto de 2014, no governo Barack Obama (2009-17), para combater o Estado Islâmico depois da degola de cidadãos americanos. 

O Irã também ganha porque seu maior rival no mundo muçulmano, a Arábia Saudita, sai chamuscada. Dos 19 terroristas em ação no 11 de Setembro, 15 eram sauditas, escolhidos a dedo por Ben Laden para tentar romper a aliança EUA-Arábia Saudita. 

Documentos desclassificados recentemente publicados pelo jornal digital The Intercept sugerem que possa haver uma conexão maior dos sauditas com os atentados. Desde que a crise do petróleo de 1973 multiplicou os preços do produto, a Arábia Saudita exporta o wahabismo, sua versão ultraconservadora, reacionária, ascética, moralista e puritana do islamismo, que está na raiz do salafismo, a ideologia do fundamentalismo sunita. 

CHINA 
A China também ganhou, à medida que a Guerra contra o Terror erodiu o poderio e o prestígio dos EUA. Em 2001, a China aderiu à Organização Mundial do Comércio, dando um impulso a seu desenvolvimento econômico, com taxas de crescimento acima de 10% ao ano até a Grande Recessão de 2008. Com o impacto da pandemia, a China deve ultrapassar os EUA e se tornar a maior economia do mundo em produto interno bruto nomina em 2028, cinco anos antes do previsto. 

A intenção de Trump e do atual presidente Joe Biden era e é acabar com a Guerra contra o Terror para reorientar a defesa dos EUA para competidores e potenciais inimigos estratégicos como a China e a Rússia. 

Ao mesmo tempo, a ascensão do autoritarismo e as medidas de exceção adotadas para combater o terrorismo fortaleceram a ditadura militar chinesa no duelo ideológico com a democracia ocidental. O regime comunista chinês, que mantém 1 milhão de muçulmanos em centros de reeducação comparados a campos de concentração na região de Xinjiang, foi o primeiro a oferecer ajuda aos talebã para tentar neutralizar a ameaça jihadista. 

SOLIDARIEDADE 
No primeiro momento após os atentados, os EUA receberam a solidariedade internacional. O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou a intervenção militar no Afeganistão e os aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a aliança militar criada para enfrentar a URSS na Guerra Fria, lutaram ao lado dos americanos com base no princípio de que “um ataque contra um é um ataque contra todos”. Era uma guerra legítima e legal. 

Depois de cercar a cúpula d’al Caeda na Batalha de Tora Bora, em dezembro de 2001, e deixar Ben Laden fugir para o Paquistão, o governo George W. Bush reorientou seus principais esforços na Guerra contra o Terror para invadir o Iraque em 20 de março de 2003, sem o aval do Conselho de Segurança da ONU, sob o falso pretexto de que Saddam tinha armas de destruição em massa. 

ABUSO DE PODER 
A invasão do Iraque – ilegítima porque os EUA não haviam sido agredidos pelos iraquianos, ilegal porque não teve autorização da ONU e fracassada – racha a aliança transatlântica que foi a base da ordem mundial no pós-Segunda Guerra Mundial no Ocidente e deflagra uma crise no sistema internacional que mudou o mundo. 

A ordem internacional liberal prometida no fim da Guerra Fria entra em colapso e deixa de ser inexorável. Os EUA perdem a autoridade moral como defensores da democracia liberal e minam o poder suave do país, a força do exemplo, da persuasão e da influência cultural. 

Os EUA cometem graves violações dos direitos humanos na Guerra contra o Terror. A partir de janeiro de 2002, começam a transferir prisioneiros para uma prisão instalada na base naval de Guantânamo, um enclave americano em Cuba, onde eles são submetidos a tortura, maus tratos e privações. 

Assim, os EUA lhes negavam os direitos garantidos pela lei americana e na Convenção de Genebra sobre Prisioneiros de Guerra, alegando, entre outras razões, que eram “combatentes ilegais” por não pertencerem a um exército regular, com uma cadeia de comando. 

Em 20 anos, as “comissões judiciais”, os tribunais militares de Guantânamo, só condenaram dois acusados. Dez aguardam julgamento. 

Hoje, restam 39 dos 780 prisioneiros levados para Guantânamo. Os outros foram transferidos para outros países e alguns libertados. Pelo menos 12 são acusados pelos EUA de fazer parte da cúpula d’al Caeda, inclusive Khaled Cheikh Mohammed, considerado o idealizador dos atentados de 2001. 

Regimes antiliberais como os do Egito, da Líbia, da Rússia, da Mauritânia e do Usbequistão começam a tachar seus adversários políticos como terroristas, se tornam aliados dos EUA na Guerra contra o Terror e conseguem aceitação para suas práticas autoritárias. 

Os americanos usam essas alianças para torturar suspeitos em países onde isto é permitido, até mesmo na Líbia no antes inimigo Muamar Kadafi, que entrega suas armas de destruição em massa. Outro escândalo é a revelação de imagens de tortura na prisão de Abu Ghraib, no Iraque, em 28 de abril de 2004, com prisioneiros amontoados obrigados a simular atos sexuais. 

Preso e desmoralizado na areia movediça do Iraque, os EUA não apoiam as revoltas da Primavera Árabe, a não ser na intervenção militar da OTAN na guerra civil da Líbia, sob pressão da França, que não foi seguida de um processo de país. Deixou a Líbia num estado de anarquia que continua até hoje e ajuda a desestabilizar a África Subsaariana, especialmente na região do Sahel. 

MORTE DO XEIQUE 
Talvez o melhor momento para cantar vitória e bater em retirada tenha sido na morte de Ben Laden, caçado por um comando de elite da Marinha dos EUA em Abotabade, perto da principal academia militar do Paquistão, em 2 de maio de 2011. 

Na época, o presidente Obama sai do Iraque, uma guerra que nunca apoiou, mas reforça as tropas no Afeganistão na expectativa de consolidar o regime fantoche instalado pela intervenção militar. 

Uma década depois da sua morte, Ben Laden, o Xeique, continua sendo a figura central e o maior exemplo para o movimento jihadista. Com a retirada dos EUA do Afeganistão, reabre-se o terreno para Al Caeda e outros grupos terroristas como o Estado Islâmico. 

O projeto de construir uma democracia fracassa por falta de recursos e de entender a cultura dos povos afegãos, que no interior do país confundiam os americanos com os soviéticos. Construir o Estado e a nação custa muito caro. Os EUA ajudaram a reconstruir a Europa e o Japão com o Plano Marshall depois da Segunda Guerra Mundial (1939-45) porque precisavam de aliados fortes na Guerra Fria contra a URSS.

EUROPA 
Além dos EUA e da democracia liberal, perde a Europa, alvo de vários atentados terroristas de muçulmanos fanáticos, em Madri, Londres, Paris, Nice, Berlim, Bruxelas e Moscou, além de Báli, na Indonésia, onde os principais alvos era australianos. 

Na capital francesa, começou na semana passado o julgamento dos acusados pelos atentados de 13 de novembro de 2015, que mataram 130 pessoas, 10 meses depois do massacre dos jornalistas do semanário satírico Charlie Hebdo, que publicara charges do profeta Maomé. 

A Rússia inicia sua guerra contra o terror antes dos EUA, quando o então primeiro-ministro Vladimir Putin lança a Segunda Guerra da Chechênia, em agosto de 1999, para se cacifar no poder como sucessor de Boris Yeltsin. Também foi uma boa desculpa para aumentar a repressão interna. 

ÁFRICA 
Quando o califado do Estado Islâmico é derrotado na Síria e no Iraque, em 23 de março de 2019, a África passa a ser o principal foco do jihadismo, especialmente na região do Sahel, ao sul do Deserto do Saara, numa faixa que vai da Mauritânia à Somália, passando pelo Mali, Burkina Fasso, Níger, Norte da Nigéria, Camarões, Chade, República Centro-Africana, Sudão e Somália, onde populações miseráveis são alvos fáceis de recrutadores d’al Caeda e do Estado Islâmica. 

Também houve ataques recentes do Estado Islâmico na rica província mineral de Cabo Delgado, no Norte de Moçambique, onde fica a maior reserva de gás natural da África e há ouro, rubis, grafite, mármore e várias madeiras valiosas. 

Países pobres, com recursos escassos, precisam de investimento internacional para desenvolver a economia e de ajuda militar para combater o terrorismo. 

No fim do governo Donald Trump (2017-21), em janeiro, os EUA retiraram as forças que combatiam o jihadismo na Somália e agora cogitam voltar, depois de realizar alguns bombardeios aéreos contra a miícia jihadista Al Chababe (A Juventude), aliada a Al Caeda. Mantêm 1,2 mil soldados na África Ocidental. 

Em junho, o presidente Emmanuel Macron anunciou a retirada de 2 mil dos 5 mil soldados que a França tem no Norte do Mali, onde intervém há oito anos para combater uma ofensiva jihadista. Mas quer que os EUA, que tem cerca de 800 soldados numa missão quase secreta no Níger, mantenha sua presença militar na região. A tríplice fronteira entre Burkina Fasso, Mali e Níger é hoje um dos lugares mais perigosos do mundo. 

ATENTADOS NOS EUA 
Nos EUA, houve 15 atentados terroristas cometidos por jihadistas depois de 11 de setembro de 2001. Os mais graves foram: 
• em 5 de novembro de 2009, o major e médico psiquiatra Nidal Hasan mata 13 soldados desarmados e fere outros 30 em Forte Hood, no Texas, no pior massacre a tiros numa base militar americana; 
• em 15 de abril de 2013, os irmãos de origem chechena Tamerlan e Dzhokhar Tsarnaev explodem duas bombas caseiras na chegada da tradicional Maratona de Boston, uma das mais antigas do mundo, matando três e aleijando outras 17 (Dzhokhar, o único sobrevivente dos irmãos, era colega da minha filha no ensino médio em Cambridge, Massachusetts); 
• em 2 de dezembro de 2015, um casal mata 14 colegas na festa de fim de ano da empresa, em São Bernardino, na Califórnia; e 
• em 12 de junho de 2016, quando Omar Mateen fuzila e mata 49 pessoas e fere outras 58 num ataque a uma discoteca gay em Orlando na Flórida. 

MILITARIZAÇÃO 
A Guerra contra o Terror criou uma sociedade sob constante vigilância do Estado sobre as telecomunicações, inclusive através das grandes empresas da Internet, como revelou o analista de sistema da Agência de Segurança Nacional Edward Snowden, em junho de 2013, ao “vazar” milhares de documentos secretos para jornalistas. 

Também houve uma militarização das polícias, equipadas blindados e outras armas de guerra para combater o terrorismo. Este aparato bélico é usado hoje para conter manifestações, por exemplo, do movimento Vidas Negras Importam, quando ativistas mais exaltados cometem atos de violência. 

Como observou nas solenidades de ontem o ex-presidente George W. Bush (2001-9), que iniciou a guerra contra o terror, a maior ameaça terrorista hoje nos EUA vem do inimigo interno, da extrema direita, como os grupos aliados de Trump que assaltaram o Congresso em 6 de janeiro, responsáveis por dois terços dos atentados. 

Em comum com os jihadistas, têm o desdém pelo pluralismo, o repúdio à diversidade, o desrespeito à vida e o ódio aos que não compartilham de suas ideologias. 

TEORIAS CONSPIRATÓRIAS 
Por fim, os atentados de 11 de setembro de 2001 geram uma onda de teorias conspiratórias, por exemplo, de que foi um “serviço interno” das agências de segurança nacional para criar um pretexto para o governo federal impor um Estado totalitário de segurança máxima e reprimir as liberdades individuais. 

Mesmo com vídeo de Ben Laden comentando os atentados e dizendo que não esperava que as torres caíssem, apenas que incendiassem a partir do ponto de impacto, há relatos falsos de explosão de bombas na base dos prédios segundos ambos do desabamento ou de que os judeus não foram trabalhar naquele dia porque sabiam do plano. 

As teorias conspiratórias viram um elemento central do debate político nos EUA, da hipótese de que Obama é muçulmano e não nasceu nos EUA, difundida por Trump, entre outros; ao suposto envolvimento do bilionário George Soros, da ex-senadora e ex-secretária de Estado Hillary Clinton e de outros líderes do Partido Democrata numa grande cabala de pedófilos; que Trump foi vítima de uma fraude maciça na eleição de 2020, o que a maioria dos republicanos acredita; que a pandemia do coronavírus é parte de uma conspiração chinesa para dominar o mundo; e que as vacinas contra a covid-19 podem alterar o código genético ou inserir um chip para controlar o cidadão. 

Outro dia, no debate sobre o uso obrigatório de máscaras nas escolas, um negacionista que é contra vacinas e medidas sanitárias alegou que as máscaras, ao esconder o rosto das crianças, facilitam a ação de sequestradores pedófilos. 

O 11 de Setembro traumatizou e radicalizou os EUA, que nunca mais reencontraram a paz interior.

2 comentários:

Unknown disse...

Sugiro um artigo vindouro sobre o papel da China no Afeganistão. Deixaram sua embaixada aberta e planejam portanto colaborar com o Talebã.
Neste sentido, ao aceitar o investimento chinês no país, que vem é claro com outros comemorativos de controle, me parece que o Talebã tem projeto de poder ($), mais que de impor sistemas interpretativos radicais do Corão ao mundo.

Nelson Franco Jobim disse...

Os taleban querem governar o Afeganistão. Não exportam sua revolução, a não ser para os da mesma etnia, pashtunes, no Paquistão, através de uma fronteira criada pelo imperialismo britânico que ignoram. Como o clima de anarquia deve prevalecer, os talebã dificilmente controlarão todo o território afegão, assim haverá espaço para a rede Al Caeda e o Estado Islâmico usaram o país como base para lançar ataques. O ministro do Interior afegão está na lista dos terroristas procurados pelos EUA. É o líder da Rede Haqqani ou Hakkani, aliada a Al Caeda.