sábado, 13 de julho de 2024

Trump é alvo de tentativa de assassinato

Houve vários estampidos, uma rápida intervenção do Serviço Secreto dos Estados Unidos e mais uma série de tiros. Com uma orelha sangrando, o ex-presidente Donald Trump foi retirado do palanque onde fazia um comício, em Butler, no estado de Pensilvânia. A campanha de Trump declarou que ele está bem.

O sangue escorria pela bochecha do ex-presidente, que deu socos no ar antes de ser colocado dentro de um carro para sair do local. O atirador matou uma pessoa que assistia o comício e foi morto. Outras duas pessoas estão em estado grave. A polícia trata o caso como tentativa de assassinato e terrorismo.

Uma testemunha ouvida pela televisão britânica BBC disse ter visto o atirador com um fuzil em cima de um telhado e avisado a polícia. A investigação está a cargo do FBI (Federal Bureau of Investigation), a polícia federal dos EUA, que confirmou que o atirador estava numa posição superior. O lugar deveria estar sob controle da segurança de Trump.

De madrugada, o FBI identificou o atirador como Thomas Matthew Crooks, um jovem de 20 anos de Bethel Park, na Pensilvânia. Os investigadores acreditam que ele agiu sozinho e ainda não descobriram a motivos. Crooks foi filiado ao Partido Republicano. Não há nenhum registro de problema mental do atirador.

O presidente Joe Biden, os ex-presidentes Barack Obama e George W. Bush, o presidente da Câmara, deputado republicano Mike Johnson, o líder democrata na Câmara, deputado Hakeem Jeffries, e vários outros líderes políticos norte-americanos repudiaram o atentado e manifestaram solidariedade a Trump. "Não há lugar para este tipo violência nos EUA. É doentio. É doentio. É uma das razões pelas quais temos de unir este país", declarou Biden.

Na verdade, a violência política é uma marca da história do país. A maior guerra dos EUA, em que morreu mais gente, cerca de 620 mil pessoas, foi a Guerra da Secessão ou Guerra Civil (1861-65), quando 11 estados do Sul quiseram se separar para manter a escravidão e o Norte do país, sob a liderança do presidente Abraham Lincoln (1861-65), reagiu para manter a União.

PRESIDENTES ASSASSINADOS

Cinco dias depois do fim da guerra, Lincoln foi baleado pelas costas por John Wilkes Booth num teatro de Washington e morreu na manha seguinte, em 15 de abril de 1865. Outros três presidentes foram mortos no exercício do cargo: James Garfield (1881), William McKinley (1901) e John Kennedy (1963).

James Garfield tomou posse em 4 de março, foi baleado por um assassino, Charles Guiteau. quatro meses depois, em 2 de julho na estação de trem de Baltimore & Potomac, em Washington. Morreu dois meses e meio depois de uma infecção causada pelo ferimento, em 19 de setembro de 1881. Guiteau foi executado pelo homicídio.

William McKinley (1897-1901) foi presidente na Guerra Hispano-Americana (1898), que promoveu a independência de Cuba e tornou Porto Rico e as Filipinas em colônias dos EUA. É o fim do Império Espanhol e o início do imperialismo norte-americano. Em 1898, os EUA também anexam o Havaí.

Seu governo é uma época de grande crescimento econômico. No fim do século 19, os EUA ultrapassam o Reino Unido e se tornam a maior economia do mundo, posição que ocupam até hoje. Ele é assassinado pelo anarquista Leon Czolgosz quando visitava a Exposição Pan-Americana em Buffalo, no estado de Nova York, em 6 de setembro de 1901, no primeiro ano do segundo mandato, e morreu oito dias depois.

Desde a morte de McKinsey, o Serviço Secreto é encarregado da segurança dos presidentes e ex-presidentes dos EUA.

John Kennedy foi o presidente mais jovem da história dos EUA e o primeiro católico. Joe Biden é o segundo. Kennedy tomou posse aos 43 anos. Foi presidente durante a fracassada Invasão da Baía dos Porcos, em Cuba, em abril de 1961, a construção do Muro de Berlim, em agosto de 1961, e a Crise dos Mísseis Soviéticos em Cuba, em outubro de 1962, quando o mundo esteve mais perto do que nunca de uma guerra nuclear.

Kennedy mandou forças federais para garantir o acesso de estudantes negros a educação, defendeu as leis de direitos civis que seriam aprovadas no governo de seu vice e sucessor Lyndon Johnson (1963-69) e lançou o programa para enviar um homem à Lua. Mas aumentou a presença militar dos EUA na Guerra do Vietnã com um total de 2,8 mil assessores militares para o governo do Vietnã do Sul, alguns entrando em combate.

Durante um desfile em carro aberto em visita a Dallas, no Texas, em 22 de novembro de 1963, Kennedy foi baleado na cabeça e no pescoço às 12h30 e declarado morto meia hora depois. As investigações oficiais concluíram que Lee Harvey Oswald agiu sozinho. Como ele foi morto dois dias depois por Jack Ruby, dono de um clube noturno ligado à máfia, as dúvidas e teses conspiratórias persistem até hoje.

ATAQUES NÃO FATAIS A PRESIDENTES

Treze presidentes dos EUA foram alvos de tentativas de assassinato, reporta a revista eletrônica Business Insider. Andrew Jackson (1929-37), um fazendeiro sulista que foi o primeiro presidente que não era da elite dos Pais Fundadores do país, foi atacado em 1835 por Richard Lawrence, um pintor inglês desempregado que acreditava ser o rei Ricardo III, mas a arma não disparou.

O últiimo ex-presidente que se recandidatou antes de TrumpTheodore Roosevelt (1901-9) foi alvo de um tiro durante um comício em 1912. A bala atingiu o peito depois de ser amortecida pela caixa de óculos metálica de Roosevelt e uma cópia do discurso que está fazendo, com 50 páginas.

Em 1928, anarquistas argentinos planejaram atacar o trem onde viajava Herbert Hoover (1929-33), o presidente no início da Grande Depressão (1929-39), mas o assassino foi preso antes de colocar a bomba nos trilhos.

Franklin Delano Roosevelt (1933-45), o presidente que governou os EUA durante mais tempo, durante quatro mandatos, o último incompleto, durante a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial (1939-45) sobreviveu a um atentado em Miami em 1933, 17 dias depois da posse para o primeiro mandato. FDR não foi atingido, mas o prefeito de Chicago, Anton Cermak, morreu.

Na biografia do pai, Margaret Truman Daniel, filha do presidente Harry Truman (1945-53), revelou que em 1947 sionistas extremistas enviaram cartas-bomba para a Casa Branca desarmadas pelo Serviço Secreto. Em 1º de novembro de 1950, nacionalistas portorriquenhos tentaram invadir a Blair House, onde Trump estava morando enquanto a Casa Branca era reformada.  

O senador Robert Kennedy, irmão e ministro da Justiça do presidente Kennedy, foi baleado em 1968 no dia em que venceu a eleição primária da Califórnia, o que garantia a candidatura à Casa Branca. No mesmo ano, foi morto o líder da luta pacífica pelos direitos civis dos negros, reverendo Martin Luther King Jr. 

Em 1972, o governador do Alabama, George Wallace, um segregacionista que disputava a candidatura do Partido Democrata à Casa Branca, foi baleado e ficou paraplégico. Arthur Bremer, que atirou em Wallace, cogitou atacar o presidente Richard Nixon.

Uma tentativa mais ousada a espetacular fez Samuel Byck. Em 22 de fevereiro de 1974, ele invadiu o Aeroporto Internacional de Baltimore e tentou sequestrar um voo da Delta Airlines para jogá-lo sobre a Casa Branca para matar Nixon. Quando os pilotos disseram que não podiam decolar, ele matou dois e logo foi morto pela polícia.

Em setembro de 1975, o presidente Gerald Ford (1974-77) foi alvo de duas tentativas de assassinato fracassadas. No primeiro, a arma de Lynette Fromm enão funcionou. No segundo, Sara Jane Moore errou o primeiro tiro e foi dominada por um fuzileiro naval à paisana.

Em 5 de maio de 1979, a polícia prendeu Raymond Lee Harvey com uma pistola diante do Centro Cívico de Los Angeles poucos minutos antes de um pronunciamento do presidente Jimmy Carter (1977-81). Ele declarou ser parte de uma célula que queria matar Carter, mas foi considerado desequilibrado mental e os co-conspiradores suspeitos foram soltos. 

Em março de 1981, no início de seu primeiro mandato, o presidente Ronald Reagan e outras três pessoas foram baleadas por William Hinckley Jr. Reagan foi atingido no peito, fez uma cirurgia de emergência e ficou semanas internado no Hospital da Universidade George Washington.

O presidente Bill Clinton (1993-2001) foi alvo de várias tentativa de assassinato, três no ano de 1994. Ronald Gene Barbour quis matar Clinton quando ele corria no National Mall, em Washington. Frank Engene Corder jogou um avião monomotor nos jardins da Casa Branca para matar o presidente. Francisco Martin Duran disparou vários tiros na direção do gramado norte da Casa Branca até ser detido por um grupo de turistas. No seu bolso, foi encontrada uma nota de suicídio revelando suas intenções.

A maior ameaça a Clinton foi durante uma visita a Manila, a capital das Filipinas. A polícia descobriu uma bomba embaixo de uma ponte por onde passaria o presidente dos EUA. A conspiração foi atribuída à rede terrorista Al Caeda.

Em fevereiro de 2001, Robert Pickett, um ex-funcionário da receita federal dos EUA com problemas mentais, disparou vários tiros contra a Casa Branca quando o presidente George Walker Bush se exercitava na área residencial até ser morto pelo Serviço Secreto.

A maior ameaça a Bush foi em 2006, quando ele participava de um comício em Tíflis, na ex-república soviética da Geórgia, ao lado do presidente Mikheil Saakashvili, quando Vladimir Arutyanian jogou em direção ao palanque uma granada que não explodiu.

Quando Barack Obama (2009-17) ainda era candidato em 2008, dois supremacistas brancos, Paul Schlesselman e Daniel Cowart, planejam matar 102 negros, inclusive Obama. Em 2011. Óscar Ramiro Ortega Hernández atira contra a Casa Branca alegando que Obama é um anticristo. O casal Obama não estava na hora do ataque.

Em abril de 2013, James Everett Dutschke enviou uma carta com ricina para Obama e pegou 25 anos de prisão por isso. Em 2015, Aboror Abibov, Abdurassul Juraboev e Akhror Saidakhmetov foram presos sob a acusação de conspirar para matar Obama em Ilha Coney para serem admitidos no grupo terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante.

Agora, foi a vez de Trump, que logo disse que foi atingido de raspão na orelha. O ex-presidente amaldiçoava a imigração e tinha gráficos para apresentar em telões instalados ao lado do palanque. Ao se virar para a direita para olhar um telão, Trump se esquivou de um tiro possivelmente fatal.

O ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021 para tentar impedir a certificação da vitória de Biden, incitado por Trump numa tentativa de golpe de Estado, também foi um ato de violência poítica.

EXPLORAÇÃO POLÍTICA

Com certeza, Trump vai explorar o atentado politicamente, a exemplo do que fez o ex-presidente Jair Bolsonaro quando levou uma facada em Juiz de Fora durante campanha eleitoral, em 6 de setembro de 2018. Vai posar de vítima e de mártir para seus seguidores mais fanáticos, com risco de aumento da violência política se algum deles resolver revidar de alguma forma e especialmente se perder a eleição presidencial de 5 de novembro.

Outra tentativa de matar Clinton ocorreu durante uma viagem a Manila, a capital das Filipinas, em 1996. Uma bomba foi descoberta sob uma ponte onde o presidente dos EUA passaria. A rede terrorista Al Caeda seria responsável.

Na segunda-feira, começa em Milwaukee, no estado de Wisconsin, a convenção nacional do Partido Republicano que vai confirmar a candidatura de Donald Trump à Presidência dos EUA na eleição de 5 de novembro. Depois do atentado, ele promete fazer um discurso conciliador, de união nacional, talvez pelo choque da ameaça de morte ou por mero oportunismo político. É difícil acreditar numa conversão mais profunda para um espírito pacifista.

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