As pesquisas de boca de urna são proibidas na Venezuela, mas foram realizadas mesmo assim e apresentaram resultados totalmente divergentes por grandes margens antes da divulgação do resultado oficial. Tudo indica que a ditadura de Nicolás Maduro e a oposição, representada pelo diplomata Edmundo González Urrutia, devem reivindicar a vitória na eleição presidencial de hoje.
Às 18h pela hora local (19h em Brasília), a empresa Edison Research anunciou, depois de entrevistar 9.846 eleitores em 100 locais de votação, que 65% votaram em González e 31% em Maduro. Mais cedo, ao meio-dia, a agência Hinterlaces, ligada ao regime venezuelano, declarou que 61,5% dos eleitores havia votado, 54,6% no governo e 42,8% na oposição. O instituto de pesquisas Meganalisis contestou estes números, dizendo que às 11h só 41% haviam votado, 65,3% em González e só 13,1% em Maduro.
A oposição acusa a ditadura de negar acesso aos locais de votação e ao Conselho Nacional Eleitoral para poder fiscalizar a apuração. Um homem morreu e outras duas pessoas foram feridas quando encapuçados atacaram cidadãos que faziam vigília no centro de votação John Kennedy, em Guácimos, no estado de Táchira.
Os governos de direita e centro-direta Argentina, Uruguai, Equador, Paraguai, Peru, Panamá, Costa Rica e República Dominicana, e o governo de esquerda do Chile exigiram que os fiscais tenham acesso às atas de votação e que o resultado seja respeitado.
Maduro é herdeiro do caudilho Hugo Chávez, que ganhou a eleição de 1998, seis anos depois de liderar uma tentativa de golpe contra o presidente Carlos Andrés Pérez, em 4 de fevereiro de 1992. Chávez foi reeleito em 2000, 2006 e 2012, e morreu de câncer em 5 de março de 2013, sendo sucedido por Maduro, seu vice-presidente.
O atual presidente foi eleito em 2013 e reeleito em 2018, numa eleição não reconhecida por 60 países. As últimas eleições democráticas na Venezuela foram realizadas em 6 de dezembro de 2015, quando a oposição conquistou maioria de dois terços na Assembleia Nacional, o quórum necessário para reformar a Constituição.
O regime recorreu à Corte Suprema, dominada pelo chavismo desde que Chávez aumentou o número de cadeiras e encheu-a com juízes aliados e submissos. As eleições de cinco deputados foram anuladas e a oposição perdeu a supermaioria.
Em 2017, Maduro convocou uma Assembleia Constituinte eleita por um sistema eleitoral especialmente fabricado em que cada cidade tinha direito a um voto e as grandes cidades a dois. A Constituinte nunca concluiu sua missão. Foi usada para usurpar o Poder Legislativo.
Como a reeleição de Maduro não foi reconhecida internacionalmente, a oposição declarou a vacância do cargo e elegeu seu presidente, Juan Guaidó, como presidente interino. Guaidó foi reconhecido por mais de 60 países, entre eles o Brasil, mas não conseguiu chegar ao poder porque as Forças Armadas Nacionais Bolivaristas (FANB) são cúmplices da ditadura de Maduro, que faz um governo desastroso.
De 2013 a 2018, o produto interno bruto da Venezuela caiu mais de 50%. A produção de petróleo, que era de 3,23 milhões de barris por dia em 2008, baixou para menos de 660 mil barris por dia em 2020. A inflação superou os 63.000% ao ano em 2019 e hoje é estimada em 150% ao ano. O regime chegou a criar uma nova de 1 milhão de bolívares. Para combater a inflação, apesar da rivalidade com os EUA, o governo deixou o dólar circular como moeda corrente.
Com a crise do petróleo e a alta nos preços em 1973, a Venezuela tinha a maior renda por habitante da América Latina. Quando Chávez foi eleito, em 1998, era a segunda, atrás apenas da Argentina. Hoje, está em 23º lugar, na frente apenas de Honduras, da Nicarágua e do Haiti.
De acordo com a organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional, de 2014 a 2013, o regime prendeu arbitrariamente 15,7 mil venezuelanos críticos de Maduro. As organizações não governamentais Provea e Foro Penal acusam o regime pela execução extrajudicial de cerca de 10 mil pessoas e pela tortura de 1.652 pessoas. A Venezuela tem hoje 305 presos políticos.
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