terça-feira, 24 de agosto de 2010

Kirchners acusam jornais de conluio com ditadura

A presidente Cristina Kirchner acusou hoje os dois maiores jornais da Argentina de cumplicidade com a ditadura militar. O Clarín e La Nación teriam comprado a participação de um banqueiro acusado de financiar guerrilheiros na empresa Papel Prensa, fabricante de papel de jornal.

Em entrevista no fim da tarde de hoje, Cristina Kirchner prometeu enviar um projeto de lei ao Congresso declarando que a fabricação de papel de jornal é de "interesse público". Uma comissão de deputados e senadores fiscalizaria a empresa. O governo também pretende iniciar uma ação penal sobre o caso.

Antes da entrevista de Cristina para apresentar o relatório de 400 páginas, os jornais se anteciparam. Eles divulgaram nota considerando a versão do governo argentino fictícia.

O banqueiro David Graiver era dono de 75% das ações da empresa, criada pelos generais Juan Carlos Onganía e Alejandro Lanusse, em suas passagens ilegítimas pela presidência argentina. Acusado de financiar o grupo guerrilheiro peronista de esquerda Montoneros, Graiver foi preso.

Sua mulher, testemunha-chave do relatório produzido pelo ministro Guillermo Moreno, o cão de caça do casal Kirchner, foi presa e torturada pela ditadura. A versão kirchnerista alega que ela concordou em vender a participação da família ao Clarín e a La Nación sob tortura, sugerindo que a grande imprensa argentina foi conivente com a última ditadura militar, acusada pela morte de 30 mil pessoas.

Até mesmo o ex-chefe da Casa Civil Alberto Fernández, um dos homens-fortes tanto de Néstor como de Cristina Kirchner na Casa Rosada suspeitou: "É difícil acreditar que só 27 anos depois da democratização do país isso tenha sido revelado."

É mais um capítulo da guerra do casal Kirchner contra os meios de comunicação. O jornal conservador La Nación sempre fez oposição, mas o Clarín apoiava o governo Néstor Kirchner como um governo desenvolvimentista interessado em recuperar a economia argentina depois do colapso da dolarização, em 2001.

Durante o conflito do governo Cristina Kirchner com os produtores rurais, em 2008, quando o governo impôs pesados impostos sobre as exportações de grãos, o Clarín passou a fazer oposição.

Desde então, o governo ordenou uma blitz de 200 fiscais da Receita Federal argentina na sede do grupo Clarín, cancelou o contrato que a empresa Torneos y Competencias tinha para transmitir em pay per view os jogos do Campeonato Argentino e aprovou uma Lei de Meios de Comunicação que obrigou o grupo Clarín a se desfazer de mais de 200 licenças de operação.

A promotoria intimou os filhos adotivos de Ernestina Herrera de Noble, dona do Clarín, a fazer exame de DNA para ver se não são filhos de desaparecidos políticos. E agora tenta intervir diretamente na única empresa argentina que fabrica papel de jornal, em mais uma tentativa de censurar a imprensa e silenciar a oposição.

Para a deputada Elisa Carrió, hoje o governo argentino cruzou a fronteira entre democracia e autoritarismo.

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