Com um discurso rancoroso, vingativo e fascistoide, Donald Trump tomou posse hoje como o 47º presidente da história dos Estados Unidos depois de tentar um golpe de Estado sem precedentes na história do país para não entregar o poder em 2021. É o segundo a cumprir dois mandatos não consecutivos, depois de Grover Cleveland (1885-89 e 1893-97).
Depois de escapar por pouco da cadeia e sobreviver a duas tentativas de assassinato, Trump está de volta para se vingar de supostos inimigos, mudar políticas históricas que os EUA adotam desde a Segunda Guerra Mundial, negar o aquecimento global, acabar com a proteção às minorias e testar os limites da democracia num momento de ascensão do neofascismo em escala global.
Diante de todos os ex-presidentes dos norte-americanos vivos – Bill Clinton, George W. Bush, Barack Obama e Joe Biden –, Trump acusou o governo dos EUA de persegui-lo por razões politicas e prometeu acabar com isso. Mas é exatamente o que pretende fazer, usar o Departamento da Justiça contra adversários políticos enquanto perdoa aliados como os mais de 1,5 mil vândalos e terroristas condenados pelo ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021 para impedir a certificação da vitória de Joe Biden, o que causou sete mortes.Do lado de fora de uma prisão em Washington, as milícias aliadas Proud Boys e Oath Keepers fazem vigília à espera da libertação de seus condenados pelo assalto ao Congresso. Trump quer que saiam ainda nesta noite. O líder dos Proud Boys estava condenado a 22 anos de prisão. É conivência com a violência de extrema direita.
No primeiro dia de governo, o plano é assinar cerca de 200 decretos para fechar a fronteira com o México para barrar imigrantes ilegais, iniciar seu programa de deportação em massa, acabar com restrições à exploração de gás e petróleo e outras medidas ambientais de Biden, retirar os EUA do Acordo de Paris sobre Mudança do Clima e da Organização Mundial da Saúde, acabar com as políticas federais de inclusão social e perdoar a malta que atacou o Congresso.
Também prometeu mandar astronautas para fincar a bandeira dos EUA em Marte, sob aplausos do bilionário Elon Musk, cliente do programa espacial norte-americano, e ignorou a Constituição ao decretar que filhos de imigrantes ilegais nascidos nos EUA não têm direito a cidadania. Este direito está na 14ª Emenda à Constituição do país, aprovada depois da Guerra da Secessão (1861-65), que acabou com a escravidão.
Para mudar a Constituição dos EUA, são necessários dois terços dos votos na Câmara e no Senado e a ratificação por pelo menos 75% dos estados. Por isso, é tão difícil de mudar. Os procuradores de 22 estados recorreram da medida. Mesmo se perder, Trump ganha pontos junto a seu eleitorado extremista.
Sob o pretexto de proteger os trabalhadores norte-americanos e reindustrializar o país, Trump aposta em energia barata de combustíveis fósseis e tarifas de importação. Abandona assim a política de livre comércio que os EUA adotam desde o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-45).
Trump reiterou a ameaça de impor tarifas de importação de 100% se os países do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Irã e Indonésia) pararem de usar o dólar nas transações entre si.
Com o lema "os EUA, primeiro", Trump também abandona uma política externa de 80 anos iniciada pelo presidente Franklin Roosevelt (1933-45) de agir no plano internacional em conjunto com aliados.
Ao sugerir que o Canadá deve ser o 51º estado dos EUA, em tomar a Groenlândia e o Canal do Panamá, além de revelar mais um traço de seu caráter fascista, Trump manifesta desprezo pelos aliados. Ao enquadrar os cartéis do tráfico de drogas como organizações terroristas, deixa no ar a ameaça de intervenção militar no México.
Aliás, o bilionário Elon Musk, o homem mais rico do mundo, ministro nomeado por Trump para tornar o Estado mais eficiente, fez uma saudação nazista num dos palcos da posse.
Serão quatro anos de incerteza e imprevisibilidade na Casa Branca e no mundo. O primeiro teste será a promessa de acabar com a guerra da Rússia contra a Ucrânia. Trump vai capitular diante do ditador russo, Vladimir Putin? A Europa aguarda com ansiedade.
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