Com 47% dos votos, a aliança Força Pátria, liderada pelo governador Axel Kicillof, obteve uma ampla vitória nas eleições de domingo na Província de Buenos Aires, a maior e mais importante da Argentina. O coligação entre A Liberdade Avança, do presidente Javier Milei, e a Proposta Republicana (Pro), do ex-presidente Mauricio Macri, ficou num segundo lugar distante, com pouco menos de 34% da votação.
Um ano e meio depois de chegar à Casa Rosada com uma promessa radical de acabar com a inflação com cortes drásticos nos gastos públicos e grande liberdade para os mercados, Milei enfrenta os mesmos problemas que desmoralizaram o peronismo em sua versão mais recente, o kirchnerismo: a inflação e a corrupção.
O resultado das urnas foi inesperado. Esperava-se uma vitória apertada do peronismo, que tem sua grande base eleitoral na Província de Buenos Aires, onde vivem 14,38 dos 35,4 eleitores argentinos, mais de 40% do total. Kicillof desponta como principal candidato da oposição à Presidência em 2027.
Em consequência, o Índice Merval da Bolsa de Valores de Buenos Aires, caiu 13%. O dólar subiu 7% de manhã depois de se estabilizar com uma alta de 4,25% no dia, num momento em que o governo intervém no mercado de câmbio para conter a inflação, que voltou a subir. Ficou em 1,9% ao mês em julho. As previsões para agosto apontam 2% a 2,1%.
Sob ameaça de uma nova disparada do dólar, Milei e o ministro da Economia, Luis Caputo, fizeram uma reunião de emergência na sede do governo com o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn, ex-presidente do Banco Central do Brasil (foto), que prometeu apoiar o programa de recuperação da economia argentina.
Talvez o que mais tenha pesado na decisão dos eleitores foi um escândalo de corrupção envolvendo a irmã do presidente, Karina Milei (foto), secretária-geral da Presidência, considerada hoje a pessoa mais poderosa do país, logo abaixo do irmão. Karina chefiou a campanha de Javier Milei, que a chama de "o chefe".
Em 19 de agosto, gravações de som atribuídas a Diego Spagnuolo, ex-diretor da Agência Nacional para Deficientes (Andis), denunciaram um esquema de propinas na compra de medicamentos. Os laboratórios interessados em contratos estatais deveriam pagar até 8% a mais para uma drogaria chamada Suizo Argentina; 3% iriam para Karina Milei. O desvio de dinheiro público seria de 500 a 800 mil dólares por mês.A Justiça ordenou investigação e busca na Andis e em propriedades da Suizo Argentina. Mais de US$ 266 mil em espécie foram encontrados na casa de um dos donos da drogaria suspeita.
O mileísmo sofre assim dos mesmos males que derrotaram o kirchnerismo: inflação e corrupção. No seu pior momento, terá de enfrentar em 26 de outubro as eleições parlamentares de meio de mandato. Serão renovadas a metade da Câmara e um terço do Senado.


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