segunda-feira, 2 de junho de 2025

Extrema direita vence eleição presidencial na Polônia

 Numa dura derrota para as reformas do primeiro-ministro Donald Tusk, o candidato de ultradireita Karol Nawrocki, um historiador de 42 anos do partido Lei e Justiça (PiS), venceu o segundo turno da eleição presidencial na Polônia com 50,89% dos votos, derrotando o prefeito liberal de Varsóvia, Rafal Trzaskowski.

Ex-boxeador, ex-hooligan, brigão, blefador, admirador de Donald Trump, que o recebeu na Casa Branca, Nawrocki conseguiu se livrar dos aspectos negativos de sua personalidade revelados pela campanha eleitoral. Sua vitória é uma revanche contra a coalizão liderada por Tusk, que tirou a extrema direita do poder nas eleições parlamentares de outubro de 2023 depois de 8 anos de governos do PiS.

O governo polonês é formado por quem tem maioria no Parlamento, mas o presidente pode vetar legislação. Se Donald Tusk, ex-presidente do Conselho Europeu (2014-19), que reúne os chefes de governo da União Europeia e o presidente da França, tinha problemas com o atual presidente, Andrezj Duda, a situação agora deve ficar muito pior.

Nawrocki é doutrinário e já avisou que fará tudo para bloquear o governo Tusk, que tenta reconstrui a democracia na Polônia depois dos governos do PiS, que atacaram a liberdade de imprensa e a independência do Poder Judiciário, uma fórmula comum aos neofascistas como Trump, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, os ditadores da Rússia e da Turquia, e inclusive fascistas de esquerda como o venezuelano Hugo Chávez.

O novo chefe de Estado nasceu em Gdansk, cidade bombardeada pela Alemanha Nazista no início da Segunda Guerra Mundial (1939-45). Foi diretor do museu da cidade sobre a guerra e presidente do Instituto da Memória Nacional, onde se dedicou a reescrever a história com base na visão do PiS. Seu trabalho sobre a atuação da União Soviética na Polônia depois da guerra e a obsessão em derrubar os monumento soviéticos o colocou na lista da inimigos da Rússia.

Durante a campanha, Nawrocki afirmou ter apenas um apartamento, "como a maioria dos poloneses", mas foi revelado que comprou um segundo de uma pessoa de idade e debilitada. Também foi acusado pelo site Onet de participar de uma gangue de tráfico de prostitutas para um hotel onde trabalhou em Sopot, um balneário no Mar Báltico. Ele negou tudo e ameaçou processar os responsáveis, que mantiveram as alegações.

Suas relações com o crime organizado também são notórias. Em 2018, Nawrocki publicou sob o pseudônimo de Tadeusz Batyr a biografia de Nikodem Skotarczak, um gângster da era comunista. Ele escreveu em redes sociais que Batyr havia lhe pedido conselhos. Na verdade, é uma pessoa só.

Outro escândalo foi a participação em 2009 de uma briga de cerca de 140 arruaceiros (hooligantes) de torcidas de futebol rivais. Vários foram condenados por crimes como agressão violenta, tráfico de armas e drogas, e inclusive de um assassinato. Nawrocki não negou sua participação no que descreveu como "um combate nobre e viril".

Praticamente desconhecido dos poloneses até o lançamento de sua candidatura, em 25 de novembro do ano passado, Nawrocki buscou o apoio de Trump, com quem tirou fotos na Casa Branca em 30 de abril. A extrema direita trumpista reforçou o apoio com a participação da secretária de Segurança Interna dos Estados Unidos, Kristi Noem, numa reunião da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC) providencialmente organizada pelo trumpismo em 27 de maio em Rzeszow, no Sul da Polônia.

Crítico da União Europeia (UE), ele teve apoio no segundo turno de um extremista ainda mais à direita, Slawomir Mentzen, que fez oito exigências, entre elas vetar a entrada da Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), não aumentar impostos e não restringir o acesso dos poloneses a armas de fogo.

"Com Nawrocki, o governo será paralisado e isto pode levar com o tempo à queda da coalizão no poder", prevê a cientista política Anna Materska Sosnowska. Seria uma chance para a volta do PiS ao poder nas próximas eleições parlamentares. Assim, é uma derrota para as forças que tentam conter o avanço das forças antidemocráticas na Europa e no mundo.

Há dois aspectos importantes neste resultado.

1. O governo tem uma pequena maioria no Parlamento, então não conseguiu derrubar os vetos do presidente e fazer as reformas prometidas para restaurar a democracia.

2. A Polônia, historicamente invadida e dominada por Alemanha e Rússia, faz da relação com os EUA um dos eixos centrais de sua política externa desde a queda do comunismo, em 1989. Como a extrema direita é anti-UE, o trumpismo pesou. Trump é inimigo da UE e o atual primeiro-ministro presidiu o Conselho Europeu. É a primeira eleição com vitória de aliado de Trump desde que ele voltou à Casa Branca em janeiro.

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