O professor e sindicalista Pedro Castillo, grande surpresa nestas eleições, deve disputar o segundo turno no Peru, em 6 de junho, provavelmente contra Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori, condenado e preso por corrupção e violação dos direitos humanos.
Nas pesquisas de boca de urna, parecia que o adversário de Castillo seria Keiko ou o economista Hernando de Soto, que foi assessor do governo Alberto Fujimori (1990-2000) e defende um "capitalismo popular", dando títulos de propriedade para moradores de favela e pequenos agricultores.
As projeções do instituto Ipsos dão 18,1% para Castillo, 14,4% para Keiko, 12,4% para o ultradireitista Rafael López Aliaga, que rejeita comparação com o presidente Jair Bolsonaro, 10,8% para Hernando de Soto, 9,7 para Yohny Lescano e 7,9% para a deputado esquerdista Verónika Mendoza, que foi a surpresa em 2016, ficando em terceiro lugar com 18% dos votos.
Desta vez, ao que parece, Castillo, que foi votar a cavalo, é o candidato antissistema, do Centro e do Sul, do interior pobre, o azarão que veio de trás, atropelou e já é considerado favorito no segundo turno. Nas palavras do jornal espanhol El País, "é o Peru que não mora em Lima, que não está no Twitter e a quem ninguém prestou atenção durante a campanha eleitoral."
Esquerdista considerado radical, José Pedro Castillo Terrones liderou uma greve de professores em 2017 para exigir aumento salarial, pagamento da dívida social, revolução da Lei da Carreira Pública do Magistério e mais dinheiro para a educação.
Castillo promete anular todos os contratos com mineradoras, estatizar o setor e alterar a Constituição para permitir maior intervenção estatal na economia. Os setores empresarias temem uma chavistização do Peru, mas ele é mais comparado ao ex-presidente boliviano Evo Morales.
Cerca de 25 milhões de peruanos estavam aptos para votar a eleger um novo presidente, dois vice-presidentes, 130 deputados do Congresso Nacional, o parlamento unicameral, e cinco deputados do Parlamento da Comunidade Andina.
Na contagem oficial, apurados 37% dos votos, Castillo lidera com 15,9%, seguido por De Soto com 14%, López Aliaga com 13,1%, Keiko com 12,6% e Lescano com 9%.
Quem tomar posse em 28 de julho vai receber um Peru destroçado pela pandemia do coronavírus de 2019, com a segunda maior taxa de mortes por habitante, atrás do Brasil, e uma queda de 11% no produto interno bruto do ano passado, sem falar na crise política permanente e nos sucessivos escândalos de corrupção.
O Peru começou bem na pandemia, com um confinamento rigoroso imposto pelo então presidente Martín Vizcarra. Numa economia com 80% de informalidade, foi impossível manter o distanciamento físico e a situação saiu de controle. O Peru chegou a ser um dos países com um dos maiores números de mortes por habitante.
Dos presidentes do Peru no século 21, Fujimori está preso depois de renunciar e fugir para o Japão. Alejandro Toledo (2001-6) está refugiado nos Estados Unidos. Alan García (1985-90 e 2006-11) se matou para não ser preso.
Ollanta Humala (2011-16) foi preso e hoje aguarda julgamento em prisão domiciliar. A procuradoria pediu 20 anos de cadeia para ele e 26 para sua mulher, Nadine Heredia, num escândalo de suborno recebido da Construtora Norberto Odebrecht revelado pela Operação Lava Jato.
Pedro Pablo Kuczynski (2016-18) renunciou diante do segundo processo de impeachment por comprar votos no primeiro, quando era acusado de receber propina da Odebrecht. Está em prisão domiciliar desde abril de 2019, aguardando o julgamento.
Martín Vizcarra (2018-20) era o vice de Kuczynski. Governou até ser afastado em processo de impeachment por "incapacidade moral" em virtude de um escândalo de suborno quando era governador do Departamento de Moquegua. Foi substituído pelo presidente do Congresso, Manuel Merino, que durou cinco dias no cargo, de 10 a 15 de novembro de 2020. Assumiu, então, Francisco Sagasti, como presidente interino para completar o mandato até a posse de um novo presidente eleito pelo povo.
Keiko Fujimori, a provável desafiante de Castillo no segundo turno, também esteve presa por receber contribuições ilegais para a campanha da Odebrecht. Parece que o maior impacto da Lava Jato foi no Peru. Pegou todos os presidentes peruanos do século, menos Vizcarra.
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