quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Hoje na História do Mundo: 9 de Janeiro

 IRA ROMPE TRÉGUA

    Em 1996, com a explosão de um caminhão-bomba na Ilhas dos Cães, na região das Docas de Londres, o Exército Republicano Irlandês (IRA) rompe o cessar-fogo na luta contra o domínio britânico sobre a Irlanda do Norte, paralisando o processo de paz para acabar uma guerra civil de 30 anos com 3,5 mil mortes. Duas pessoas morrem, mais de 100 saem feridas e os prejuízos chegam a 150 milhões de libras.

A Inglaterra interfere na Irlanda desde a Invasão Anglo-Normanda de 1169 e mais tarde anexou a ilha menor ao Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda. Quando a Irlanda se torna independente, em 1922, seis dos nove condados da província do Úlster formam a Irlanda do Norte, de maioria protestante, que continua fazendo parte da União.

Os protestantes da Irlanda do Norte são descendentes de presbiterianos escoceses enviados para lá numa migração forçada promovida por Oliver Cromwell, o líder do breve período republicano da história da Inglaterra. Eles festejam todos os anos com paradas a vitória na Batalha do Boyne, em 1690, sobre os católicos e nacionalistas irlandeses.

Nos anos 1960, a minoria, católica, republicana e nacionalista irlandesa se revolta contra a discriminação, o desemprego e sua posição de cidadãos de segunda classe na Irlanda do Norte. Na onda dos movimentos de libertação nacional da segunda metade do século 20, renasce o Exército Republicano Irlandês (IRA), que trava uma guerra de guerrilha contra o Exército Real britânico, que intervém na província em agosto de 1969.

O conflito tem seu pior momento no início dos anos 1970, com o Domingo Sangrento, 30 de janeiro de 1972, quando soldados britânicos fuzilam e matam 14 pessoas que participavam de uma manifestação desarmada em Londonderry.

A partir de 1976, o governo britânico adota uma linha dura e passa a tratar os guerrilheiros do IRA como criminosos comuns e não como presos políticos. Com a ascensão ao poder da primeira-ministra conservadora Margaret Thatcher, há greves de fome de presos do IRA e dez morrem, inclusive Bobby Sands, deputado eleito da Câmara dos Comuns do Parlamento Britânico.

As mortes deram status de herói aos presos e prestígio ao Sinn Féin, o partido político do IRA, hoje o maior da Irlanda do Norte. E radicalizaram ainda mais a situação.

Em 1984, o IRA tenta matar Thatcher e outros membros do governo britânico num atentado a bomba contra um hotel na cidade balneária de Brighton onde se realizava a convenção anual do Partido Conservador.

As negociações secretas começam por iniciativa do deputado John Hume, que procura o Sinn Féin para discutir a paz. 

Na Declaração de Downing Street, em 15 de dezembro de 1993, os governos britânico e irlandês se comprometem com o direito do povo à autodeterminação. Assim, a Irlanda do Norte só será integrada à República da Irlanda quando a maioria da população decidir, e as questões entre o Sul e o Norte da Irlanda devem ser resolvidas pelos irlandeses.

Com base nestes princípios, em 31 de agosto de 1994, o IRA anuncia um cessar-fogo, seguido em 13 de outubro pelos Comando Militar Conjunto dos Legalistas, os paramilitares protestantes.

A exigência dos protestantes de um desarmamento do IRA como precondição para negociar causou uma estagnação no processo de paz que leva ao atentado na Ilha dos Cães.

O IRA restaura o cessar-fogo em 20 de julho de 1997. As negociações multipartidárias são retomadas em setembro. O Acordo de Paz da Sexta-Feira Santa é assinado em 10 de abril criando uma divisão do poder entre republicanos e unionistas em que uma minoria de 40% têm direito de veto para evitar o domínio de uma comunidade sobre a outra.

A saída do Reino Unido da União Europeia cria um problema para a paz pelo risco de haver uma fronteira dura entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte, desnecessária quando os dois países pertenciam à UE. O Protocolo da Irlanda do Norte ainda é alvo de controvérsia. Provisoriamente, a fronteira está no Mar da Irlanda, entre as duas ilhas.

Nenhum comentário: