O escritor e refugiado tanzaniano Abdulrazak Gurnah achou que era trote quando recebeu um telefonema para avisar que ganhou hoje o Prêmio Nobel de Literatura de 2021 por "sua profundidade e compaixão sem concessões ao falar do impacto do colonialismo e do destino dos refugiados no golfo entre culturas e continentes", anunciou em Estocolmo, na Suécia, o comitê responsável pela premiação. É o primeiro africano negro a receber a distinção desde o nigeriano Wole Soyinka em 1986.
Gurnah "é amplamente reconhecido como um dos mais destacados escritores pós-coloniais", justificou o presidente do comitê, Anders Olsson. Seus personagens "se encontram no golfo entre culturas e continentes, entre a vida que deixaram para trás e a vida futura, confrontando o racismo e o preconceito, mas às vezes compelidos a esconder a verdade ou a reinventar a biografia para evitar o conflito com a realidade.
Educado em suaíli, a língua de vários países da África, e adotou o inglês como língua literária e virou professor de literatura na Universidade de Kent na Cantuária. Tem influências do suaíli, do árabe e do alemão. Usa imagens e histórias do Corão, o livro sagrado do islamismo, da poesia árabe e pérsia, especialmente das Mil e Uma Noites.
Ele nasceu, em 1948, e cresceu numa das ilhas de Zanzibar, hoje parte da Tanzânia ,sem imaginar que um diria seria escritor. Aos 18 anos, quando uma rebelião derrubou o governo majoritariamente árabe, para escapar da perseguição, ele fugiu para a Inglaterra, onde vive até hoje. Saiu da Tanzânia, mas seu país nunca saiu dele: "Você não precisa estar lá para escrever sobre um lugar. Está duto nas fibras de tudo o que você é."
"O que motivou toda a experiência de escrever foi a ideia de perder o lugar no mundo", declarou o laureado.
Na miséria e com saudades de casa, começou a escrever sobre seu país num diário. Com o tempo, passou a fazer textos mais longos e escrever contos sobre outras pessoas. Estas reflexões e textos para entender sua própria história de vida levaram ao primeiro de seus nove livros, Memórias da Partida.
Todos exploram o trauma do colonialismo, da guerra, da identidade e do exílio. Nenhum foi publicado no Brasil. O Caminho dos Peregrinos e Dottie (Excêntrico ou Louco, em tradução livre) falam sobre a experiência dos imigrantes no Reino Unido.
Paraíso, indicado em 1994 para o Booker Prize, maior prêmio literário britânico, é a história de um menino num país do Leste da África traumatizado pelo colonialismo. Admirando o Silêncio é sobre um jovem que vai de Zanzibar para a Inglaterra, onde casa e vira professor.
Sua obra mais recente, Vida após a Morte, explora o impacto do colonialismo alemão sobre gerações de tanzanianos e como dividiu a sociedade.
Amanhã, será anunciado o ganhador do Prêmio Nobel da Paz. A jovem ativista ecológica sueca Greta Thunberg é a favorita. Também são cotados a líder da oposição na Bielorrúsia, Svetlana Tikhanovskaya, o líder da oposição na Rússia, Alexei Navalny, e organizações de defesa da liberdade de imprensa como os Repórteres sem Fronteiras e o Comitê para Proteção dos Jornalistas ou atores importantes na pandemia como a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, a Organização Mundial da Saúde (OMS), a aliança mundial de vacinas Gavi e o consórcio Covax para imunizar países de rendas média ou baixa.
Na segunda-feira, será anunciado o Nobel de Economia.
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