terça-feira, 6 de agosto de 2024

Ganhador do Nobel da Paz vai chefiar governo de Bangladesh

O empresário social Muhammad Yunus, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2006, vai chefiar o governo interino de Bangladesh depois que a primeira-ministra Sheikh Hasina Wajed, que estava no poder desde 2009, fugiu do país ontem em meio a uma revolta popular com pelo menos 413 mortes. Yunus é adversário da ex-chefe de governo. Assume o cargo assim que voltar de Paris, onde assessora o comitê organizador da olimpíada.

A decisão saiu de um encontro entre comandantes militares e os líderes dos protestos estudantis violentamente reprimidos pelo governo que caiu. 

Depois de 90 mortes no domingo, inclusive de 13 policiais, na segunda-feira, os manifestantes invadiram o parlamento, incendiaram e saquearam as sedes do partido do governo e canais de televisão que apoiavam Hasina e derrubaram estátuas do pai da primeira-ministro, herói da independência de Bangladesh. Ela fugiu de helicóptero.

Economista a banqueiro, Yunus ganhou o Nobel da Paz por fundar em 1983 o Grameen Bank, o primeiro banco de microcrédito do mundo, e oferecer empréstimos de US$ 100 para pessoas que não conseguiam empréstimos em bancos, o que tirou milhares de pessoas da pobreza, livrando-as da agiotagem

Ele parte do princípio de que as pessoas pobres tem capacidades não utilizadas ou subutilizadas. São pobres por falta de oportunidades, não de habilidades. O dinheiro é oferecido principalmente para mulheres, por exemplo, para comprar uma máquina de costura e tecidos que deem condições de trabalhar por conta própria como microempresárias. 

Como esse dinheiro é importantíssimo para os pobres, a inadimplência é baixa. O Grameen Bank só não teve lucro no ano da fundação, em 1991 e 1992.

Yunus descreveu a renúncia de Hasina como o "segundo dia da libertação do país". Bangladesh é o antigo Paquistão Oriental, que se separou do Paquistão em 1971, numa guerra brutal com o apoio da Índia em que cerca de 40 mil soldados e entre 500 mil e 3 milhões de civis foram mortos.

Hasina Wajed é filha do fundador de Bangladesh, a República de Bengala, Sheikh Mujibur Rahman, líder da Liga Awami (Liga Popular de Bangladesh), assassinado num golpe militar em 15 de agosto de 1975 junto com a mulher, o irmão, três filhos e duas noras. Ela havia sido primeira-ministra de 1996 a 2001.

A líder da oposição, a ex-primeira-ministra Khaleda Zia, foi libertada na terça-feira. Estava condenada desde 2018 a 17 anos de prisão. Ela é viúva do presidente Ziaur Rahman, primeiro chefe de governo depois da independência, assassinado por militares em 30 de maio de 1981. Primeira mulher a chefiar o governo bengalês, foi primeira-ministra de 1991 a 1996 e de 2001 a 2006.

Com 170 milhões de habitantes, um produto interno bruto estimado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em US$ 455 milhões e renda média por habitante de US$ 2.676 por ano, é o 129º país do mundo em desenvolvimento humano. Depois de crescer em média 6,6% ao ano durante 10 anos até a pandemia da covid-19, o crescimento caiu para 5,8% no ano passado. A previsão do FMI para este ano é de uma expansão de 5,6%.

Nenhum comentário: