sábado, 4 de maio de 2024

Hoje na História do Mundo: 4 de Maio

 CONSTRUÇÃO DO CANAL DO PANAMÁ

    Em 1905, os Estados Unidos iniciam a segunda tentativa de abrir um canal entre os oceanos Atlântico e Pacífico no Istmo do Panamá, depois do fracasso que companhia francesa que construiu o Canal de Suez.

O sonho de construir um canal através do Istmo do Panamá vem desde 1534, quando Carlos V, rei da Espanha e imperador do Sacro Império Romano-Germânico, fala na ideia. Em 14 de agosto de 1843, o Banco Barings, de Londres, fecha contrato com a República de Nova Granada para abrir um canal no Istmo da Darién (Panamá). Mas o projeto nunca sai do papel.

Em 1846, os EUA negociam com Nova Granada o direito de trânsito e intervenção militar no istmo. Quatro anos depois, começam a construção da Ferrovia do Panamá.

A obra é tentada para valer por Ferdinand de Lesseps, o construtor do Canal de Suez. Ele obtém permissão da Colômbia em 1878. O trabalho se inicia em 1880, mas o terreno, relevo e clima criam desafios formidáveis. Chuvas torrenciais, desmoronamentos e a alta incidência de doenças tropicais como malária e febre amarela levam a empresa à falência.

O presidente Theodore Roosevelt, considerado o pai do imperialismo norte-americano, decide concluir a obra. Em 1903, os EUA fecham o Tratado Hey-Herran, mas o Senado da Colômbia não o ratifica. Com a Colômbia fragilizada depois da Guerra dos Mil Dias (1899-1902), os EUA intervêm militarmente e promovem a independência do Panamá.

A construção termina em 10 de outubro de 1913, quando o presidente norte-americano Woodrow Wilson detona uma carga de dinamite para desobstruir o último obstáculo. A inauguração do canal de 82 quilômetros acontece em 14 de agosto de 1914.

Em 1977, o presidente Jimmy Carter faz um acordo com o ditador Omar Torrijos para devolver o canal ao Panamá em 1999, o que traz grande prosperidade do país.

Nos primeiros 100 anos, mais de 820 mil navios passaram pelo Canal do Panamá.

MOVIMENTO QUATRO DE MAIO

    Em 1919, manifestações de estudantes contra a decisão do Tratado de Versalhes de entregar ao Japão territórios chineses em Shandong antes ocupados pela Alemanha marcam o início de um movimento político e cultural anti-imperialista. O Partido Comunista da China, fundado em 1921, é filho do Movimento Quatro de Maio.

A China era o Império do Meio ou do Centro, o centro do mundo na Ásia desde sua unificação, em 221 antes de Cristo. O Império Chinês entra em declínio com a derrota para o Império Britânico nas Guerras do Ópio (1839-42 e 1856-60) e para o Japão na Primeira Guerra Sino-Japonesa (1894-95), que acaba com a ordem sino-cêntrica e torna o Japão o país mais poderoso do Leste da Ásia. A  hina perde também a Guerra dos Boxers (1899-1901), uma luta anti-imperialista.

A Revolução Xinhai derruba o império em 1911. O início da era republicana é turbulento. A China é um dos países mais pobres do mundo, com renda média por pessoa de 100 dólares por ano. O interior do país é dominado por senhores da guerra. 

Nos anos 1920, começa uma guerra civil entre os comunistas e os nacionalistas do Kuomintang (KMT), liderado por Chiang Kai-shek, que é interrompida pela Segunda Guerra Mundial (1939-45) e recomeça depois da guerra até a vitória dos partidários de Mao Tsé-tung, em 1º de outubro de 1949.

MORTE NO CAMPUS

    Em 1970, 28 soldados da Guarda Nacional disparam 67 vezes em 13 segundos contra manifestantes que protestam pacificamente contra a participação dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã na Universidade Estadual de Kent, em Ohio. Eles matam quatro estudantes e ferem outros oito, inclusive um que ficou paraplégico.

O Massacre de 4 de Maio ou da Universidade Estadual de Kent é um marco na luta contra a participação dos EUA na Guerra do Vietnã e, no caso, também contra a presença da Guarda Nacional no campus. Os estudantes protestam contra a intensificação da guerra contra o Camboja, anunciada em 30 de abril pelo presidente Richard Nixon.

Mais de 4 milhões de estudantes de milhares de escolas e universidades participam de protestos nos dias seguinte. É um momento decisivo na virada da opinião pública contra a guerra.

THATCHER CHEGA AO PODER

    Em 1979, depois de uma onda de greves conhecida como inverno do descontentamento em que o lixo se acumulou nas ruas e cadáveres ficaram insepultos pela paralisação dos coveiros, o Partido Conservador vence as eleições no Reino Unido e sua líder, Margaret Thatcher se torna a primeira primeira-ministra da Europa.

A crise do petróleo deflagrada pelo embargo da venda do petróleo árabe a países que apoiam Israel na Guerra do Yom Kippur, em 1973, causa recessão, desemprego e grandes filas nos postos de gasolina. É o fim da era do petróleo barato.

No Reino Unido, o Partido Trabalhista volta ao poder em 1974 sob a liderança de Harold Wilson, que havia governado o país de 1964 a 1970, nos gloriosos anos 1960, quando Londres era um centro da música, da moda e da cultura.

Wilson critica os termos do acordo para a entrada do Reino Unido na então Comunidade Econômica Europeia, em 1973. No poder, renegocia o acordo e consegue aprová-lo num referendo em 1975, mas a decisão divide o partido e ele renuncia em favor de James Callaghan, um líder trabalhista fraco.

Com a economia em crise, o Reino Unido pede ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para defender a outrora poderosa libra esterlina. A onda de greves do inverno do descontentamento e o desemprego desmoralizam o governo trabalhista e abrem o caminho para Margaret Thatcher.

Margaret Hilda Roberts nasce em 1925, filha de um dono de armazém e vereador que se tornaria prefeito. Ela se forma em química na Universidade de Oxford. É eleita para a Câmara dos Comuns do Parlamento Britânico pela primeira vez em 1959 pelo distrito de Finchley, no Norte de Londres. 

De 1970-74, Thatcher é ministra da Educação e da Ciência do governo Edward Heath. Após a derrota conservadora em 1974, Thatcher vence Heath na disputa pela liderança do partido no ano seguinte. É a primeira mulher a chefiar um grande partido britânico e a primeira primeira-ministra. Por suas posições conservadoras e seu anticomunismo, ganha a alcunha de Dama de Ferro da imprensa da União Soviética depois de um discurso como líder da oposição.

Além de cortar impostos, uma de suas principais bandeiras é a privatização de empresas estatais, que ela considera mais ineficientes do que o setor privado. Thatcher quer transformar a Grã-Bretanha num país de acionistas. Começa esse processo em 1981 sob forte oposição dos sindicados, ligados ao Partido Trabalhista.

Estão lançadas as bases do thatcherismo, que incluem recuo da máquina estatal, disciplina fiscal, cortes de impostos, privatizações, respeito à autoridade e à ordem pública, e um feroz anticomunismo. Poucos primeiros-ministros dão nome a uma filosofia política.

Em seu radicalismo, Margaret Thatcher chega a dizer: "Não existe isso que chamam de sociedade. Há homens, mulheres e famílias".

O total de desempregados no Reino Unido sobe para 3 milhões, e o número de pobres aumenta quatro vezes, aprofundando a desigualdade social, uma das marcas perversas do neoconservadorismo. Impopular, Thatcher conta com uma ajuda inesperada.

A invasão das Ilhas Malvinas pela ditadura militar da Argentina em 2 de abril de 1982 é um teste para sua determinação. Uma força-tarefa é enviada para a guerra a 10 mil quilômetros de distância da Inglaterra. Em 14 de junho, as ilhas são retomadas depois da morte de 649 argentinos e 258 britânicos.

Humilhada, a ditadura militar argentina cai. Fortalecida, Thatcher obtém em 1983 sua maior vitória eleitoral. Com maioria de 144 deputados no Parlamento Britânico, parte para o enfrentamento com os sindicatos para impor sua ideologia econômica neoliberal. Uma greve de 11 meses contra o fechamento de 20 minas estatais deficitárias deixa o Reino Unido sem carvão em 1984 e 1985.

Sem o apoio da opinião pública, a greve fracassa. Os mineiros e o sindicalismo em geral perdem força.

Também em 1984, Margaret Thatcher sobrevive a um atentado a bomba do Exército Republicano Irlandês (IRA) contra a convenção anual do Partido Conservador. É uma tentativa de vingar as mortes de 10 militantes republicanos irlandeses em greve fome que exigiam reconhecimento como presos políticos, em 1981. Inflexível, a Dama de Ferro os considerava criminosos comuns.

No mesmo ano, Thatcher convida o futuro líder soviético Mikhail Gorbachev para ir a Londres. É a primeira a identificá-lo no Ocidente como "alguém com quem se pode negociar".

Naquela época, ela considera o líder negro sul-africano Nelson Mandela, que ainda está preso, como "terrorista". Mais tarde, defende o amigo e admirador general Augusto Pinochet, o ditador preso em Londres em 1998 por crimes cometidos quando governou o Chile, de 1973 a 1990.

Sob Thatcher, amplos setores da economia britânica, aviação, metalurgia, telecomunicações, água, energia e o sistema ferroviário, são entregues à iniciativa privada. São mudanças permanentes, observa o jornal The New York Times. Modernizam a Grã-Bretanha, mas aprofundam a desigualdade.

A ex-primeira-ministra também é uma grande adversária do aumento dos poderes da Comunidade Europeia, hoje União Europeia. Chega a bater na mesa com sua bolsa para pedir a devolução de parte da contribuição britânica para a política comum de subsídios agrícolas do bloco europeu, já que o Reino Unido tem uma agricultura muito menor do que países como a França e a Alemanha.

"Não estou pedindo o dinheiro dos outros. Estou pedindo nosso dinheiro de volta", afirmou.

Em 1987, depois de sua terceira vitória eleitoral consecutiva, Thatcher se torna ainda mais antieuropeia, preocupando um de seus maiores aliados, o centro financeiro de Londres, que teme perder a primazia para Paris ou Frankfurt na união monetária europeia porque o Reino Unido não adota o euro.

Uma de suas principais bandeiras, entusiasticamente adotada pelo Partido Conservador, é repatriar poderes da UE para o Parlamento Britânico. Diante do avanço do euroceticismo e da crise da Zona do Euro, o atual primeiro-ministro e líder do partido, David Cameron, prometeu convocar um plebiscito sobre a permanência do país na UE até 2017. Por 52% a 48%, em 23 de junho de 2016, o Reino Unido decidiu sair da UE

O risco de isolamento na Europa e a substituição do imposto predial e territorial por um imposto por pessoa, independentemente da renda pessoal e do tamanho da propriedade, selam sua impopularidade. Em novembro de 1990, o ex-ministro Michel Heseltine, um europeísta, desafia a liderança da Margaret Thatcher.

Sem uma vitória consistente, com mais de dois terços dos votos da bancada do partido na Câmara dos Comuns, Thatcher pede demissão. Vira Baronesa Thatcher e vai para a Câmara dos Lordes. Enquanto sua saúde permite, influencia a vida política do país.

regicídio, como o episódio é conhecido na Grã-Bretanha, abre uma guerra interna de que o Partido Conservador não se recuperou até hoje e que levou ao plebiscito para sair da UE. O compromisso com a defesa de Londres como um dos maiores centros financeiros do mundo entra em choque com a rejeição à integração europeia.

Talvez seu maior legado seja a profunda reforma política e econômica, que vai muito além do Reino Unido. Antes de Thatcher, a maioria das companhias aéreas e as empresas telefônicas de fora dos EUA eram estatais.

Para voltar ao poder com Tony Blair, em 1997, o Partido Trabalhista faz uma ampla mudança, abrindo mão do socialismo e da estatização dos meios de produção, que são excluídos do programa partidário para reconquistar a classe média. Essa é a grande vitória ideológica de Thatcher, fazer o principal adversário abraçar a economia de mercado.

Do ponto de vista econômico, o neoliberalismo que defendeu com tanto vigor ao lado de Ronald Reagan é a ideologia dominante da economia internacional por quase três décadas. Com suas políticas de desregulamentação e redução da atividade do Estado, é a principal causa da grande crise econômico-financeira internacional de 2008-9.

Acima de tudo, Thatcher ajuda a acabar com a Guerra Fria, resgata o prestígio da economia de mercado e recupera o orgulho do Reino Unido, mas a um custo social elevado que divide o país, aumenta a desigualdade social e o afasta do resto da Europa.

ACORDOS DE OSLO

    Em 1994, o primeiro-ministro trabalhista de Israel, Yitzhak Rabin, e o presidente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Yasser Arafat, assinam no Cairo, a capital do Egito, o acordo que cria a Autoridade Nacional Palestina (ANP) e devolve aos árabes o controle parcial sobre a Faixa de Gaza e Jericó.

Quando a Assembleia Geral das Nações Unidas aprova a divisão do território histórico da Palestina entre um país árabe e um judeu, em 29 de novembro de 1947, os países árabes não aceitam. Com a fundação de Israel, em 14 de maio de 1948, os países árabes invadem o novo país, dando início a uma guerra até agora sem fim.

O povo palestino é formado pelos árabes expulsos de suas terras quando Israel nasce e de seus descendentes. A diáspora palestina fica ainda pior depois da Guerra dos Seis Dias (1967), quando Israel ocupa a Península do Sinai e a Faixa de Gaza, do Egito; as Colinas do Golã, da Síria; e a Cisjordânia, inclusive o setor oriental da Jerusalém, da Jordânia.

O Egito recupera o Sinai com os Acordos de Camp David (1979) e a questão palestina fica para trás. As negociações árabe-israelenses recomeçam na Conferência de Madri, em 30 e 31 de outubro de 1991, quando havia uma atitude favorável a Israel por não ter reagido aos ataques de Saddam Hussein durante a Guerra do Golfo (1991) para expulsar os iraquianos do Kuwait.

As negociações não avançam. A cada reunião, os dois lados dam declarações acusatórias. Os palestinos não fazem nada sem consultar a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), de Yasser Arafat. Então, o governo trabalhista de Yitzhak Rabin e Shimon Peres decide fazer negociações secretas organizadas pela Noruega.

Esse processo leva à declaração de princípios e ao histórico aperto de mãos entre Rabin e Arafat na Casa Branca em 13 de setembro de 1993 e aos acordos de Oslo. O assassinato de Rabin por um extremista religioso em 4 de novembro de 1995 e a ascensão do primeiro-ministro conservador Benjamin Netanyahu, causam uma estagnação do processo de paz.

Historicamente, o Partido Likud, de Netanyahu, usa as negociações como uma forma de ganhar tempo enquanto amplia a colonização da Cisjordânia para criar um fato consumado.

O general Ariel Sharon, um dos mais violentos da história de Israel, sai do Likud e funda o partido Kadima (Avante) para negociar a paz, mas sofre um AVC e não se recupera. 

O Likud volta com Netanyahu, o primeiro-ministro com mais tempo no poder em Israel, superando o fundador do país, David Ben Gurion. O resultado é esta guerra sem fim, agravada pela formação do governo mais extremista da história de Israel em dezembro de 2022 e especialmente pelo ataque terrorista do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) e aliados em 7 de outubro do ano passado.

A guerra sem fim passou de um conflito de baixa intensidade para uma guerra para valer, com o uso de todas as armas, menos as bombas atômica, que Israel também tem.

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