terça-feira, 1 de outubro de 2024

Irã ataca Israel após morte de Nasrallah e invasão do Líbano

A República Islâmica do Irã disparou cerca de 250 mísseis balísticos contra Israel, que interceptou quase todos com a ajuda de navios de guerra dos Estados Unidos. É a reação ao assassinato do líder da milícia fundamentalista xiita libanesa Hesbolá (Partido de Deus), Hassan Nasrallah, e a invasão do Sul do Líbano pelo Exército de Israel. Até agora, o único registro de morte é de um palestino.

Os Estados Unidos e Israel declararam que o bombardeio do Irã "terá consequências graves". Israel pode responder com um ataque limitado a alvos em território iraniano ou aproveitar para atacar o programa nuclear do Irã, que considera hoje sua maior ameaça existencial.

Há décadas, desde a Revolução Islâmica de 1979, o Irã trava uma guerra indireta contra Israel usando as milícias que financia no Oriente Médio, inclusive o Hesbolá e o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), parte do que o regime fundamentalista iraniano chama de "eixo da resistência. 

O Hesbolá é a maior das mais de 60 milícias que a ditadura dos aiatolás financia, treina e arma no Oriente Médio. Desde o início da guerra nem Israel e na Faixa de Gaza, a milícia xiita libanesa travava uma guerra de baixa intensidade contra Israel. Não entrou com força total no conflito, como queria o Hamas, seguindo a orientação de seus patrocinadores em Teerã.

A ditadura dos aiatolás nega que esteja por trás do ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro do ano passado, que deflagrou a guerra em Gaza, mas tinha todo o interesse em impedir o reconhecimento mútuo entre Israel e a Arábia Saudita, que isolaria o Irã no Oriente Médio. Todos os grupos que lutam contra Israel nesta guerra, inclusive os hutis do Iêmen, são apoiados pelo Irã.

No Natal do ano passado, um bombardeio aéreo de Israel mantou na Síria o general Sayyed Razi Mussavi, comandante da Guarda Revolucionária Iraniana na Síria. Em 28 de dezembro, outro ataque aéreo de Israel matou 11 membros da guarda iraniana no Aeroporto Internacional de Damasco. No dia seguinte, o Irã executou quatro acusados de trabalhar para o Mossad, o serviço de espionagem israelense.

Em 20 de janeiro, Israel matou cinco oficiais da Guarda Revolucionária Iraniana em Damasco. Nove dias depois, o Irã executou mais quatro acusados de ser agentes israelenses.

Depois de um bombardeio israelense ao consulado iraniano em Damasco, na Síria, em 1º de abril, em que morreram 16 pessoas, entre elas dois generais iranianos, inclusive um alto comandante da Guerra Revolucionária para ações no exterior, Mohammed Reza Zahedi, o Irã faz o primeiro ataque direto a Israel. Em 13 de abril, disparou mais de 350 mísseis numa reação coreagrafada para não provocar grandes danos e assim evitar uma confrontação maior.

Num intervalo de apenas seis horas, em 30 e 31 de julho, Israel matou o comandante militar do Hesbolá, Fuad Chukr, e o líder supremo do Hamas, Ismail Haniya, este último numa casa de hóspedes da Guarda Revolucionária em Teerã, onde ele assistiu à posse do novo presidente iraniano, Masoud Pezeshkian. 

Com esta morte, Israel mostrou capacidade de atacar no coração do regime iraniano, razão pela qual nos últimos dias o Supremo Líder Espiritual da Revolução Iraniana, aiatolá Ali Khamenei, foi levado para um esconderijo. A liderança iraniana pode ser alvo da retaliação israelense.

Um duro golpe no Hesbolá viria em 17 e 18 de setembro, quando explosões em equipamentos de telecomunicações, pagers e walkie-talkies, sabotados pela espionagem israelense mataram 37 pessoas e feriram outras 4 mil. Este ataque sem precedentes pode ser enquadrado como crime de guerra por usar instrumentos civis e atingir civis inocentes.

Na sua ofensiva contra o Hesbolá, sob a alegação de proteger o Norte de Israel e permitir a volta para casa de 60 mil israelenses que fugiram para escapar da guerra, em 24 de setembro, a Força Aérea de Israel bombardeou mais de 1,6 mil alvos do Hesbolá. No pior dia no Líbano desde a Guerra Civil Libanesa (1975-90), 558 pessoas morreram.

A resposta do Hesbolá foi disparar um míssil balístico contra Telavive. Isso teria levado à decisão de matar o líder da milícia, xeique Nasrallah, num ataque maciço com 83 toneladas de bombas contra o quartel-geral do grupo no Sul de Beirute em 28 de setembro.

Ontem, o Exército de Israel iniciou uma invasão limitada no Sul do Líbano para tentar neutralizar a capacidade de ataques do Hesbolá daquela região e talvez ocupar a zona ao sul do Rio Litâni, que fica a cerca de 30 quilômetros da fronteira israelense.

Sob pressão para contra-atacar desde o assassinato em Teerã do líder político do Hamas, o Irã finalmente reagiu, diante da degradação da maior milícia de seu "eixo de resistência", que está sendo esmagada por Israel. O Hesbolá não deve desaparecer, mas pode ser enfraquecido a ponto de perder força dentro do Líbano, onde não tem o apoio da maioria da população, só dos muçulmanos xiitas, mas é mais forte do que o Exército.

O Líbano tem o interesse em desarmar a milícia e reassumir o controle da fronteira, como previa a Resolução 1.701 do Conselho de Segurança das Nações Unidos, aprovada no fim da guerra entre Israel e o Hesbolá em 2006.

A expectativa agora é em torno da retaliação israelense. O gabinete de guerra reuniu-se hoje à noite numa fortaleza subterrânea em Jerusalém para decidir qual será o próximo passo, enquanto o Irã ameaça com uma segunda barragem de mísseis.

Com a ameaça de uma conflagração maior no Oriente Médio, o preço do petróleo Brent, do Mar do Norte, padrão da Bolsa Mercantil de Londres, subiu para US$ 74,56.

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