MADAME MAO CONDENADA
Em 1981, a viúva de Mao Tsé-tung, Jiang Ching, é condenada à morte por "crimes contrarrevolucionários" cometidos durante a Grande Revolução Cultural Proletária (1966-76) na China.
A atriz e quarta mulher de Mao, o líder da revolução comunista chinesa, nasce pobre em Zhucheng em 19 de março de 1914, filha natural de um carpinteiro violento e alcoólatra e sua concubina. É batizada Li Shu-meng. Ao longo da vida, adota vários pseudônimos.Quando criança, começou a fazer teatro comunitário. Ele se casa com um comerciante, se divorcia e aí começa a namorar um membro do Partido Comunista, que é perseguido pelo partido nacionalista Kuomintang (KMT) durante uma guerra civil.
Em 1934, a futura Madame Mao vai para Xangai, a maior e mais cosmopolita cidade chinesa perseguir o sonho de fazer cinema. Presa por ser comunista, fica meses na cadeia. Ao sair, muda o nome para Lan Ping (Maçã Azul).
Jiang consegue um papel de protagonista como Nora na peça A Casa dos Bonecas, do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen, mas não impressionou os produtores de cinema. Nessa época, ela se apaixona pelo ator e diretor Tang Na, com quem tem um casamento conturbado. Eles se divorciam em 1937.
De acordo com o historiador australiano Ross Terrill, biógrafo de Madame Mao: o diabo de ossos brancos, nessa época ela levava uma vida burguesa e decadente em Xangai. Fica famosa pelos escândalos, um passado que no futuro tenta apagar.
Numa nova transformação, vira Jiang Ching (Rio Verde), uma recatada militante comunista que seduz o grande líder da revolução. Jiang conhece Mao em Yanan, no Norte da China. Lá os comunistas instalam o quartel-general depois da Longa Marcha, uma fuga do Exército Vermelho do PCC por 9 mil quilômetros percorridos em um ano para escapar dos massacres do KMT.
Quando os japoneses invadem Xangai, em agosto de 1937, a atriz vai para o QG do partido para participar de filmes de propaganda comunista. Mais uma vez, não teve sucesso como atriz.
Ela consegue atrair Mao participando de conferências e palestras do líder. Sentava nas primeiras filas e fazia comentários entusiasmados. A relação incomoda outros líderes do partido. Ator não é profissão bem vista, Mao é casado e Jiang duas vezes mais moça. Mas ele se separa e o casal se casa em 28 de novembro de 1938.
Com a vitória da revolução, em 1º de outubro de 1949, as mulheres da cúpula do PCC são convidadas para o Comitê Central, mas Jiang é excluída. Ela passa os anos 1950 fazendo várias viagens a Moscou para tratamento médico.
Recuperada, Madame Mao passa a trabalhar nos órgãos governamentais encarregados do controle e da censura das artes, especialmente das artes cênicas, do cinema e do teatro. Um de seus alvos prediletos foram as óperas chinesas, que apresentavam um mundo de imperadores, concubinas e monstros, sem maior relação com a vida do camponês e a luta revolucionária.
Agressiva e arrogante, Jiang é afastada do cargo. Enquanto isso, o Grande Salto para a Frente, um programa de Mao para acelerar o desenvolvimento industrial da China instalando usinas siderúrgicas em fazendas coletivas e comunidades rurais, fracassa. Entre 15 e 55 milhões de chineses morrem de fome ou em perseguição política entre 1958 e 1962.
Sob pressão de outros dirigentes do PCC, Mao se cerca de um pequeno grupo de radicais, inclusive sua mulher, e lança em 1966 a Grande Revolução Cultural Proletária, uma era do radicalismo político mais extremo, com grande expurgo de altos funcionários e intelectuais, muitos enviados para reeducação em comunidades rurais, em que alunos puniam professores e filhos denunciavam os pais por "desvios burgueses".
Milhões de estudantes deixam as escolas e universidades para se tornar guardas vermelhos, fiéis seguidores e implementadores das políticas expressas no Livro Vermelho de Mao, que brandiam nos ares em histeria coletiva. O trânsito para no sinal verde e anda no sinal vermelho. Obras de arte e de arquitetura são destruídas como resquício de um período imperial e ser varrido da história.
Como mulher mais poderosa da China, Jiang se vinga daqueles que a humilharam. Reinando sobre o setor cultural, cria as "óperas revolucionárias". Os heróis são camponeses que lutam contra grandes proprietários malvados, invasores japoneses e outros inimigos da revolução.
Seu poder vai muito além da cultura. Em 1969, Jiang entra para o Politburo do PCC. Faz parte do núcleo central e da ala mais radical que cercava o Camarada Mao, a Gangue dos Quatro.
Um mês depois da morte de Mao em 9 de setembro de 1976, a viúva é presa e condenada à morte sob a acusação de ser responsável com a Gangue dos Quatro pelo radicalismo e a violência, quando Mao defenderia apenas a "luta pacífica". Em 1983, a pena é comutada para prisão perpétua.
Ao sair para fazer tratamento médico, Jiang Ching se suicida em 14 de maio de 1991.
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