segunda-feira, 28 de abril de 2025

Canadá elege ex-presidente do banco central para enfrentar Trump

O primeiro-ministro Mark Carney, do Partido Liberal, ex-presidente do Banco do Canadá e do Banco da Inglaterra, foi eleito hoje para um novo mandato com a missão principal de resistir aos ataques do presidente Donald Trump, indicam as projeções da televisão pública CBC (Canadian Broadcasting Corporation), que o candidato da oposição quer fechar.

Depois de quase 10 anos de governo do primeiro-ministro liberal Justin Trudeau, o Partido Conservador tinha uma vantagem de 25 pontos percentuais nas pesquisas, mas perdeu a liderança depois que Trump impôs tarifas de importação aos produtos canadenses, passou a chamar o primeiro-ministro canadense de governador e a declarar insistentemente que o Canadá deve ser o 51º estado dos EUA.

Será o quarto governo liberal consecutivo. Ainda não está claro se Carney terá maioria absoluta. No Câmara dos Comuns do Canadá, de 343 cadeiras, a maioria é de 172 deputados.

A Rádio Canadá prevê 167 cadeiras para os liberais, 145 para os conservadores 23 do Bloco Quebequense, o Canadá francês, onde há um forte movimento pela independência, 7 para o Novo Partido Democrático e 1 para o Partido Verde. 

Os canadenses preferiram eleger um economista moderado e liberal politicamente em vez do líder conservador Pierre Poilievre, que defende políticas de Primeiro, o Canadá, na linha do ultranacionalismo do presidente Trump, que se revelou nocivo às relações bilaterais e ao comércio internacional, com sérios prejuízos para o Canadá.

Carney era presidente do Banco do Canadá na crise financeira internacional de 2008 e presideiu o Banco da Inglaterra quando o Reino Unido estava saindo da União Europeia. É visto como um líder para grandes crises.

No discurso da vitória, Carney transmitiu uma mensagem de união nacional, cumprimentando todos os candidatos de todos os partidos, inclusive o líder da oposição, por querer servir ao país neste momento difícil. 

"Uma das responsabilidades do governo é preparar para o pior e não esperar o melhor", declarou o líder liberal. "O presidente Trump quer quebrar o Canadá para nos conquistar. Isso não vai acontecer nunca, mas temos de reconhecer que o mundo mudou." Em outro momento, disparou: Trump "quer nossa terra, nossos recursos, nossa água".

O país está em choque porque é talvez o melhor vizinho do mundo e tinha excelentes relações com os EUA. Trump acusa o Canadá de viver sob a proteção dos EUA como aliado na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Afirma que os EUA subsidiam o Canadá em US$ 200 bilhões por ano sem explicar de onde tirou esse valor. 

O Canadá é o segundo maior parceiro comercial dos EUA, depois do México e à frente da China, com uma corrente de comércio de US$ 762 bilhões em 2024. Cerca de 75% das exportações canadenses vão para os EUA. No ano passado, os EUA tiveram um déficit comercial de US$ 45 bilhões.

Trump impôs tarifas de 25% sobre produtos importados do Canadá e do México, e de 10% para produtos de energia canadenses. Assim, rompeu o acordo de livre comércio da América do Norte que ele mesmo renegociou no primeiro governo. Depois, deu algumas isenções.

Aos quebequenses, falando em francês, Carney afirmou que "a língua e a cultura quebequenses são parte da identidade nacional canadense", numa tentativa de neutralizar o movimento pela independência do Quebec.

Carney era primeiro-ministro porque Trudeau renunciou em março à liderança do partido e do governo sob pressão dos liberais diante da expectativa de uma grande derrota eleitoral nas eleições parlamentares que deveriam ser realizadas antes do fim do ano. Com a saída de Trudeau, foram antecipadas para hoje.

"Vamos construir um grande futuro independente para o Canadá. Um Canadá forte, um Canadá livre e um Canadá independente", concluiu o primeiro-ministro, depois de dizer que o país vai procurar outros parceiros na Europa e na Ásia para diminuir a dependência dos EUA e manter a prosperidade.

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