Com a derrota nas eleições de ontem para o Senado, o Partido Liberal-Democrata (PLD), que governa o Japão há 70 anos com breves interrupções, e seu aliado Komeito (Partido do Governo LImpo) ficam sem maioria nas duas casas do Congresso pela primeira vez.
É a terceira derrota consecutiva do primeiro-ministro Shigeru Ishiba. Ele perdeu a maioria na Câmara em outubro do ano passado, quando assumiu a liderança do PLD, e as eleições municipais em Tóquio em janeirpo deste ano. Por enquanto, resiste às pressões para renunciar e não quer ampliar a coalizão de governo.
A derrota enfraquece o Japão no momento de negociações delicadas com os Estados Unidos para escapar da ameaça do presidente Donald Trump de um tarifaço de 25% capaz de abalar as exportações japonesas, especialmente de automóveis, carro-chefe da indústria do país. Nas primeiras rodadas de negociação, os EUA quiseram impor exigências de abertura de mercado sem contrapartida e o Japão não aceitou.
Se o governo japonês resistir às ameaças de Trump, a situação econômica, que já é difícil, vai piorar. Se ceder, Ishiba será visto como um primeiro-ministro ainda mais fraco. A dívida pública pode chegar neste ano a 272% do produto interno bruto (PIB). É proporcionalmente a maior do mundo. Segunda maior economia do mundo até ser superado pela China em 2010, o Japão foi ultrapassado pela Alemanha e neste ano deve ficar atrás da Índia. Depois de décadas de deflação, a inflação foi de 3,2% ano em junho e o aumento dos preços dos alimentos de 7,1%, gerando insatisfação. O preço do arroz, base da alimentação japonesa, dobrou em um ano.
O Senado do Japão tem 248 cadeiras. Faltaram três para a coalizão governista manter a maioria absoluta. Os maiores avanços foram do Partido Democrático para o Povo (PDP), que cresceu de 9 para 22 senadores, e o partido de extrema direita Sanseito (Partido da Participação Popular), antiestrangeiros, que passou de 2 para 15 senadores.
São dois partidos populistas que usam as redes sociais para angariar prestígio junto aos jovens, cada vez mais preocupados com o futuro do Japão. Sua ascensão indica uma fragmentação do sistema político japonês e consequente aumento da instabilidade.
De centro-direita, o PDP nasceu em 2018 da fusão entre o Partido Democrático (PD) e o Partido da Esperança (PE) com as promessas de revitalizar a economia, reforma do setor de energia e aumentar a prontidão para a guerra diante da ascensão da China e do isolamento crescente dos EUA. Está entre o conservador PLD e o Partido Democrático Constitucional do Japão (PDCJ), de centro-esquerda, o maior da oposição, antimilitarista e contra a energia nuclear, que pode ser convidado para integrar o governo para formar maioria.
O programa do PDP defende o crescimento com maior distribuição da renda, estímulo estatal à economia, investimento em inovação e aumento da produtividade, parceria público-privada para modernizar a infraestrutura e a indústria, aumento salarial, igualdade de gênero no mercado de trabalho, assistência à infância para aumentar a natalidade e conter a queda na população, reforma constitucional e reforma tributária para fortalecer os trabalhadores e a classe média.
No setor de energia, o PDP quer a eliminação gradual da energia nuclear, transição para energia de fontes renováveis, liberalização do mercado de energia, autossuficiência e sustentabilidade ambiental.
Depois do acidente nuclear de Fukushima, causado pelo terremoto e maremoto de 11 de março de 2011, o Japão desligou em 2013 todas as 48 usinas atômicas. Elas eram responsáveis por mais de 25% da energia elétrica do país; 94% passaram a ser gerados por combustíveis fósseis e 6% por fontes renováveis.
Em 2015, duas usinas nucleares foram religadas. Doze reatores voltaram a funcionar até fevereiro deste ano e outros 15 pediram licença para funcionar. A energia atômica é considerada essencial para que o país cumpra as metas de redução de emissões de combustíveis fósseis prometidas com base no Acordo de Paris sobre Mudança do Clima.
Na política externa e em defesa, o PDP quer fortalecer a capacidade militar mantendo a aliança com os EUA como base da segurança nacional. Defende uma revisão moderada do artigo 9 da Constituição imposta pelos EUA em 1947, depois da Segunda Guerra Mundial (1939-45). O art. 9 proíbe o Japão de ir à guerra e de projetar seu poderio militar no exterior.
O Sanseito é um partido de extrema direita fundado em 2020. Tem várias semelhanças ao trumpismo, como o slogan "primeiro, os japoneses", o gosto por teorias conspiratórias, cortes de impostos, e a rejeição a imigrantes e estrangeiros. Difundiu notícias falsas contra vacinas e sobre a pandemia da covid-19 (doença do coronavírus de 2019). Ao mesmo tempo, defende a espiritualidade e a alimentação natural, com produtos orgânicos.
Em maio de 2025, seu secretário-geral, Sohei Kamiya foi acusado de revisionismo histórico ao afirmar que durante a Batalha de Okinawa, no fim da guerra, os okinawenses foram mortos apenas por soldados norte-americanos e não pelo Exército Imperial Japonês, notório por seus crimes de guerra.
2 comentários:
Quando o sanseito se alinhou ao PLD antes do fim do escrutínio, ficou claro que ishiba saiu vitorioso.
Dividir para conquistar,...
É o que romanos diriam!!!
Saiu vitorioso? Está sob tremenda pressão para renunciar.
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