quarta-feira, 4 de junho de 2025

Hoje na História do Mundo: 4 de junho

 EUA APROVAM VOTO FEMININO

      Em 1919, o Congresso dos Estados Unidos aprova a Emenda Constitucional nº 19, dando o direito de voto às mulheres.

O movimento das sufragettes ou sufragistas começa em julho de 1848, com uma reunião de 200 mulheres em Seneca Falls, no estado de Nova York. A Guerra da Secessão (1861-65), o conflito Norte-Sul em torno da abolição da escravatura, esvazia o movimento. 

Quando os negros ganham o direito de voto, com a aprovação da Emenda nº 15 durante a Reconstrução pós-Guerra Civil, em 3 de fevereiro de 1870, o movimento sufragista tenta conquistar o mesmo direito, mas a maioria republicana no Congresso é contra.

A luta continua. Quase 50 anos depois, as mulheres conquistam o direito de voto nos EUA, muito depois da Nova Zelândia, o primeiro país a introduzir o voto feminino, em 18 de fevereiro de 1893.

RETIRADA DE DUNQUERQUE

    Em 1940, termina a Operação Dínamo na Retirada de Dunquerque das forças do Reino Unido, depois que a Alemanha Nazista invade a França durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45).

Com os exércitos aliados cercados desde 19 de maio, as Forças Expedicionárias Britânicas estudam a possibilidade de uma retirada. A Operação Dínamo começa em 26 de maio.

ANGELA DAVIS ABSOLVIDA

    Em 1972, a ativista negra e comunista Angela Yvonne Davis, ex-professora da Universidade da Califórnia em Los Angeles, é absolvida das acusações de conspiração, sequestro e homicídio por um tribunal do júri de São José, na Califórnia.

Angela Davis é presa em Nova York em outubro de 1970 por causa de um tiroteio ocorrido num tribunal de São Rafael. É denunciada por supostamente fornecer a arma usada por Jonathan Jackson, que ataca o fórum para libertar três presos e tentar tomar reféns para soltar seu irmão, George Jackson, um radical do movimento negro.

Ela é amiga de Jackson e faz campanha pela libertação de prisioneiros negros. O julgamento começa em março de 1972, sob o olhar atento da mídia internacional, que via um evidente viés político no processo. 

Com a falta de provas, Angela Davis, um ícone do movimento negro até hoje viva e atuante, é absolvida. Em 1980, é candidata a vice-presidente dos EUA pelo Partido Comunista. Em 1991, se torna professora de história da consciência da Universidade da Califórnia em Santa Cruz.

MASSACRE NA PRAÇA DA PAZ CELESTIAL

    Em 1989, o Exército Popular de Libertação da China esmaga o movimento pela democracia e a liberdade na China no Massacre na Praça Paz Celestial, em Beijim, e acaba com a possibilidade de uma reforma política no país.

O movimento começa em 15 de abril, com a morte do ex-secretário-geral do Partido Comunista Hu Yaobang, afastado dois anos antes sob pressão da velha guarda, e termina com a queda do secretário-geral Zhao Ziyang, ambos a favor de reformas liberalizantes.

Durante uma reunião decisiva na casa do líder supremo do regime, Deng Xiaoping, o arquiteto das reformas que modernizam a China e a transformam em superpotência, Zhao diz que tem 1,2 bilhão de pessoas a seu lado, toda a população do país.

Deng, cujo único cargo na época é presidente do Comitê Militar Central, responde: "Não tem, não, e eu tenho 3,2 milhões", o contingente do ELP. Com medo da dissolução do regime, Deng apoia a linha-dura do primeiro-ministro Li Peng, que decreta lei marcial e manda o Exército atacar a manifestação.

Agora, a China proíbe as manifestações em Hong Kong, que todos os anos fazia uma procissão luminosa em homenagem aos mortos. O número total é desconhecido, estimado entre centenas e 10 mil.

terça-feira, 3 de junho de 2025

Oposição liberal vence eleição na Coreia do Sul

 Num momento crítico por causa do impeachment do agora ex-presidente Yoon Suk Yeol, da guerra comercial do presidente Donald Trump e do realinhamento da Coreia do Norte com a Rússia, o líder da oposição liberal, deputado Lee Jae Myung, de 61 anos, foi eleito hoje presidente da Coreia do Sul. 

Os liberais defendem um relacionamento sem confrontação com a China e a Coreia do Norte. Querem manter o alinhamento automático com os Estados Unidos, mas não um conflito numa nova guerra fria, o que pode dificultar as negociações com Trump.

Lee, do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, conquistou 49,4% dos votos contra 41,2% do conservador Kim Moon Soo, do Partido do Poder Popular (PPP), que admitiu a derrota na manhã desta quarta-feira pela hora local.

Como Yoon foi afastado com menos de três anos de um mandato de cinco anos, Lee tomou posse nesta quarta-feira e não em dois meses, que seria o prazo normal. Seu partido controla a Assembleia Nacional. Assim, a expectativa é de estabilidade política interna.

Yoon afundou o país no caos ao apelar à lei marcial em 3 de dezembro do ano passado pela primeira vez desde a democratização do país, em 1987, e mandar o Exército cercar o parlamento. Dez dias depois, foi destituído num processo de impeachment confirmado em 4 de abril deste ano por unanimidade dos oito juízes do Supremo Tribunal de Justiça participantes do julgamento, como prevê a Constituição, que para isso exige maioria de dois terços.

No discurso da vitória, Lee prometeu restaurar a democracia depois da tentativa de golpe de seis meses atrás e do impeachment de Yoon, para quem perdeu a eleição anterior por menos de 1% em 2022, quando defendeu ideias consideradas radicais como uma renda mínima universal. Desta vez, marchou para o centro.

O novo presidente prometeu garantir que "os militares nunca mais vão usar as armas que lhes foram confiadas pelo povo para dar um golpe" e manter a aliança com os EUA, que vem desde a Guerra da Coreia (1950-53), como a base da política do país. Mas já se apresentou como o Bernie Sanders sul-coreano. A inspiração no senador socialista norte-americano pode atrapalhar a relação com Trump.

O primeiro grande desafio será negociar com Trump, que ameaçou em 2 de abril impor tarifas de 25% sobre as importações de produtos sul-coreanos e também quer que o país aumente os gastos militares para ajudar a contrabalançar o crescente poderio militar da China.

Os EUA mantêm forças militares no país desde a Guerra da Coreia. Hoje, têm em torno de 28,5 mil soldados, o que se tornou importante para Washington diante da nova guerra fria com a China.

Ao mesmo tempo e apesar de Trump, o novo governo vai tentar melhorar as relações com a China, a Rússia e especialmente a Coreia do Norte, sem esquecer do Japão, um inimigo histórico que virou aliado na Guerra Fria, embora ainda haja um grande ressentimento pela brutal ocupação japonesa (1910-45).

"Lee Jae Myung é mais simpático à China, mais pragmático, menos ideológico, portanto as relações com Beijim devem melhorar", comentou David Tizzard, professor da Universidade Feminina de Seul e colunista do jornal Korean Times. É um contraste com o discurso antichinês e anticomunista do PPP, mais focado na relação trilateral com os EUA e o Japão.

Seu partido estava no poder quando mediou três encontros de Trump com o ditador norte-coreano, Kim Jong Un, em 2018 e 2019, para tentar negociar a paz definitiva na Península Coreana, a última fronteira da Guerra Fria, até hoje em estado de guerra.

Outro desafio será combater a desaceleração da economia sul-coreana, hoje a 13ª maior do mundo, com produto interno bruto de 2025 previsto em US$ 1,79 trilhão pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Na semana passada, o Banco da Coreia reduziu a expectativa de crescimento para este ano de 1,5% para 0,8%. A Bolsa de Valores de Seul atingiu na quarta-feira o maior índice em 10 meses.

Ex-operário, de família pobre, com uma lesão no braço em consequência de um acidente industrial, Lee conseguiu uma bolsa de estudos e se formou em direito. Depois de duas décadas como ativista social, ele entra no PD. Foi prefeito, governador da maior província sul-coreana e cumpria o segundo mandato como deputado. Em janeiro, foi alvo de uma tentativa de assassinato. A facada atingiu o pescoço e exigiu uma longa cirurgia. Passou a andar com colete a prova de bala sob a proteção de segurança.

A Coreia do Sul, hoje com 51,7 milhões de habitantes, foi o único país em desenvolvimento além de Cingapura, uma cidade-estado, a se tornar rico no século passado. 

Hoje na História do Mundo: 3 de Junho

    Em 1937, o antigo rei Eduardo VIII, do Reino Unido, que abdica por amar uma divorciada e se torna Duque de Windsor, casa com a norte-americana Wallis Warfield no Castelo de Cande, em Monts, na França.

O amor abala a monarquia britânica, mas o casamento é modesto para os padrões da realeza, sem pompa nem festa popular. A lua de mel é no Castelo de Wasserloenburg, na Áustria.

Edward Albert Christian George Andrew Patrick David, filho mais velho do rei George V, nasce em 23 de julho de 1894 em Neilly-sur-Seine, na França, e ascende ao trono em 20 de janeiro de 1936 como Rei do Reino Unido e dos Domínios Britânicos e Imperador da Índia.

Meses depois, provoca uma crise constitucional ao pedir em casamento a socialite norte-americana Wallis Simpson, cujo sobrenome de solteira é Warfield. Ela se torna amante do rei em 1934, quando ele ainda é o príncipe de Gales e ela ainda está casada com o segundo marido, Ernest Aldrich Simpson.

Como rei e chefe da Igreja da Inglaterra, que proibia o casamento de divorciados com o ex-cônjuge ainda vivo, é uma união impossível. Em 11 de dezembro de 1936, Eduardo VIII abdica, abrindo mão do trono para si e seus descendentes e declara: "Descobri ser impossível carregar o pesado fardo de responsabilidade e desempenhar meus deveres como rei e imperador como gostaria de fazer sem a ajuda e o apoio da mulher que amo".

Eduardo VIII é sucedido pelo irmão mais novo, príncipe Albert, que adota o nome real de George VI e é pai da rainha Elizabeth II, que se torna herdeira do trono aos dez anos de idade.

PASSEIO NO ESPAÇO

    Em 1965, Edward White se torna o primeiro astronauta norte-americano a sair da nave e caminhar no espaço, depois do cosmonauta soviético Alexei Leonov. 

No início da corrida espacial, a União Soviética toma a frente. Lança o primeiro satélite artificial, o Sputnik, em 4 de outubro de 1957, envia o primeiro homem ao espaço, Yuri Gagarin, em 12 de abril de 1961, e o primeiro a passear no espaço, Alexei Leonov, em 18 de março de 1965.

Piloto e engenheiro aeroespecial, é escolhido para ir ao espaço na nave Gemini 4, quando sai da nave. Voltaria ao espaço no primeiro voo do Projeto Apolo, que levou o homem à Lua, mas morre num incêndio na cabine da Apolo 1 com seus colegas Gus Grisson e Roger Chaffee na primeira morte de astronautas da era espacial.

O cosmonauta russo Vladimir Komarov é o primeiro a morrer numa missão espacial, em 24 de abril de 1967, quando o paraquedas não abre e a nave Soyuz 1 se espatifa no solo.

MASSACRE NA PRAÇA DA PAZ

     Em 1989, começa o Massacre na Praça da Paz Celestial, em Beijim, na China, quando o Exército Popular de Libertação (EPL) ataca um acampamento de estudantes e outros chineses que lutam por liberdade e democracia

O movimento começa em 15 de abril, deflagrado pela morte do ex-secretário-geral do Partido Comunista Hu Yaobang, e termina com a queda do secretário-geral Zhao Ziyang, ambos a favor de reformas liberalizantes.

Em 17 de abril, os estudantes começam a se reunir na praça central da capital chinesa. Nos dias seguintes, as manifestações se ampliaram para outras cidades e universidades. Em 22 de abril, mais de 100 mil estudantes se concentram diante do Grande Salão do Povo e pedem para falar com o primeiro-ministro linha-dura Li Peng, que não aparece.

Quando Zhao vai à Coreia do Norte, em 25 de abril, Li convoca uma reunião do Politburo e convence o supremo líder do regime, Deng Xiaoping, de que o objetivo dos estudantes é derrubar o regime comunista. Deng decide que a tolerância acabou.

No dia seguinte, o Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista, publica o editorial A Necessidade de Adotar uma Posição Clara contra a Agitação: "Esta é uma conspiração bem planejada...para confundir o povo e perturbar a nação...O objetivo real é rejeitar o PC e o sistema socialista".

A reação é mais protesto. Zhao defende a negociação e uma resposta às reclamações legítimas dos estudantes, inclusive uma reforma política. Li alega ser necessário primeiro restabelecer a estabilidade social.

Dezenas de milhares de estudantes se reúnem na praça para festejar os 70 anos do Movimento Quatro de Maio, um protesto contra o Tratado de Versalhes que está na origem do PC chinês. Em encontro com executivos financeiros, Zhao exalta o patriotismo dos estudantes.

Em 13 de maio, dois dias antes de uma visita do secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, Mikhail Gorbachev, cerca de 160 estudantes entram em greve de fome e divulgam um manifesto: "A nação está em crise – assolada por uma inflação galopante, negócios ilegais com enriquecimento ilícito de funcionários, abuso de poder, burocratas corruptos, a fuga de gente boa para outros países e a deterioração da segurança pública. Compatriotas que dão valor à moralidade, ouçam nossas vozes!"

A greve de fome ganha força.

Gorbachev chega em 15 de maio para o primeiro encontro de cúpula sino-soviético desde 1959. Com a praça ocupada pelos estudantes, não pode ser recebido como é de praxe. Os líderes chineses, sabendo do que se passava na URSS com as reformas de Gorbachev, têm medo.

Mais de 3 mil chineses participam da greve de fome. Zhao insiste no diálogo com os estudantes e na necessidade de mais reformas: "A grande maioria dos estudantes é patriótica e e está sinceramente preocupada com o país. Podemos não aprovar todos os seus métodos, mas as exigências de promover a democracia, aprofundar as reformas e erradicar a corrupção são bastante razoáveis."

Li rejeita a proposta: "O objetivo é derrubar o PC chinês e repudiar totalmente a ditadura popular democrática."

Durante uma reunião decisiva na casa do líder supremo do regime, Deng Xiaoping, o arquiteto das reformas que modernizaram a China e a transformaram em superpotência, Zhao diz que tem 1,2 bilhão de pessoas a seu lado, toda a população do país.

Deng, cujo único cargo na época é presidente do Comitê Militar Central, responde: "Não tem, não, e eu tenho 3,2 milhões", o contingente do EPL. Com medo da dissolução do regime, Deng apoia Li Peng, que decreta lei marcial e manda o Exército atacar a manifestação.

Em 18 de maio, Zhao visita estudantes em greve de fome hospitalizados. Li se encontra com estudantes, mas o diálogo fracassa. Durante reunião de que Zhao não participa, a velha guarda e o Politburo aprovam a decretação de lei marcial.

Ao ficar sabendo, no dia seguinte, em vez de acabar com a greve de fome, os estudantes reúnem 1,2 milhão de pessoas na Praça da Paz Celestial. Zhao vai à praça falar com os estudantes. À noite, Li Peng anuncia a lei marcial na televisão.

Pela primeira vez em 40 anos de regime comunista, em 20 de maio, o EPL tenta ocupar Beijim, mas civis barram a passagem. Durante três dias, os soldados não conseguem nem chegar à praça nem sair da capital chinesa.

Em 2 de junho, a cúpula do partido decide mandar o EPL dispersar os estudantes. Na noite do dia seguinte, os primeiros tiros são disparados. O massacre vai até o dia 4.

Hoje, a China proíbe as manifestações em Hong Kong, que todos os anos fazia uma procissão luminosa em homenagem aos mortos. O número total de mortos é desconhecido, estimado entre centenas e 10 mil.

TERROR EM LONDRES

    Em 2017, terroristas muçulmanos matam oito pessoas e ferem outras 48 na Ponte de Londres. 

Depois de jogar uma caminhonete sobre pedestres na ponte e numa área de pedestres, três terroristas saem armados de facas, atacam pessoas que estão na área e são mortos pela Polícia Metropolitana. O grupo terrorista Estado Islâmico reivindica a responsabilidade pelo ataque.

Como as armas do fogo estão proibidas no Reino Unido por causa do massacre de 16 crianças e um professor numa escola primária de Dunblane, na Escócia, em 13 de março de 1996, os terroristas não conseguem armas de fogo, que tornariam a ação terrorista ainda mais trágica.

segunda-feira, 2 de junho de 2025

Ucrânia humilha Rússia com grande ataque a bases aéreas

Foi o maior golpe à Rússia desde o início da guerra. Grandes ondas de drones da Ucrânia atacaram no domingo bases aéreas em cinco regiões russas, inclusive na Sibéria, a uma distância de até 4,6 mil quilômetros da fronteira entre dois países. 

Na versão ucraniana, eles destruíram 41 aviões de combate, 34% dos bombardeiros estratégicos russos capazes de disparar mísseis de cruzeiro, inclusive nucleares, diminuindo o poderio nuclear russo. Foi uma demonstração de força antes de uma nova rodada de negociações de paz realizada hoje em Istambul, na Turquia.

A Operação Teia de Aranha foi planejada durante um ano e meio, e o presidente Volodymyr Zelenski não avisou os Estados Unidos porque entende que o presidente Donald Trump é aliado do ditador Vladimir Putin. A Ucrânia conseguiu infiltrar contêineres e contratou caminhões russos para transportar os drones, que têm sido fundamentais para a resistência ucraniana à invasão russa.

Além do ataque de drones, uma organização clandestina pró-Ucrânia atacou Mariupol, uma cidade ucraniana ocupada pela Rússia desde maio de 2022, e duas pontes ferroviárias foram derrubadas na região russa de Briansk, que fica junto à fronteira com a Ucrânia. Em contrapartida, um míssil russo atingiu um centro de treinamento militar da Ucrânia e matou 12 soldados.

A reação dentro da Rússia foi exigir uma retaliação à altura. Putin sabe que tem de reagir. A Rússia tem se limitado a uma guerra de atrito contra cidades e populações civis com os maiores ataques de drones e mísseis até agora, enquanto faz avanços mínimos nas verdadeiras frentes de combate. Mas esse ataque abala a capacidade nuclear da Rússia. Putin, que desde o início da guerra faz uma chantagem nuclear, vai usar armas nucleares táticas contra a Ucrânia? Provavelmente, não, porque sua maior aliada, a China, é contra, mas o risco aumentou.

Extrema direita vence eleição presidencial na Polônia

 Numa dura derrota para as reformas do primeiro-ministro Donald Tusk, o candidato de ultradireita Karol Nawrocki, um historiador de 42 anos do partido Lei e Justiça (PiS), venceu o segundo turno da eleição presidencial na Polônia com 50,89% dos votos, derrotando o prefeito liberal de Varsóvia, Rafal Trzaskowski.

Ex-boxeador, ex-hooligan, brigão, blefador, admirador de Donald Trump, que o recebeu na Casa Branca, Nawrocki conseguiu se livrar dos aspectos negativos de sua personalidade revelados pela campanha eleitoral. Sua vitória é uma revanche contra a coalizão liderada por Tusk, que tirou a extrema direita do poder nas eleições parlamentares de outubro de 2023 depois de 8 anos de governos do PiS.

O governo polonês é formado por quem tem maioria no Parlamento, mas o presidente pode vetar legislação. Se Donald Tusk, ex-presidente do Conselho Europeu (2014-19), que reúne os chefes de governo da União Europeia e o presidente da França, tinha problemas com o atual presidente, Andrezj Duda, a situação agora deve ficar muito pior.

Nawrocki é doutrinário e já avisou que fará tudo para bloquear o governo Tusk, que tenta reconstrui a democracia na Polônia depois dos governos do PiS, que atacaram a liberdade de imprensa e a independência do Poder Judiciário, uma fórmula comum aos neofascistas como Trump, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, os ditadores da Rússia e da Turquia, e inclusive fascistas de esquerda como o venezuelano Hugo Chávez.

O novo chefe de Estado nasceu em Gdansk, cidade bombardeada pela Alemanha Nazista no início da Segunda Guerra Mundial (1939-45). Foi diretor do museu da cidade sobre a guerra e presidente do Instituto da Memória Nacional, onde se dedicou a reescrever a história com base na visão do PiS. Seu trabalho sobre a atuação da União Soviética na Polônia depois da guerra e a obsessão em derrubar os monumento soviéticos o colocou na lista da inimigos da Rússia.

Durante a campanha, Nawrocki afirmou ter apenas um apartamento, "como a maioria dos poloneses", mas foi revelado que comprou um segundo de uma pessoa de idade e debilitada. Também foi acusado pelo site Onet de participar de uma gangue de tráfico de prostitutas para um hotel onde trabalhou em Sopot, um balneário no Mar Báltico. Ele negou tudo e ameaçou processar os responsáveis, que mantiveram as alegações.

Suas relações com o crime organizado também são notórias. Em 2018, Nawrocki publicou sob o pseudônimo de Tadeusz Batyr a biografia de Nikodem Skotarczak, um gângster da era comunista. Ele escreveu em redes sociais que Batyr havia lhe pedido conselhos. Na verdade, é uma pessoa só.

Outro escândalo foi a participação em 2009 de uma briga de cerca de 140 arruaceiros (hooligantes) de torcidas de futebol rivais. Vários foram condenados por crimes como agressão violenta, tráfico de armas e drogas, e inclusive de um assassinato. Nawrocki não negou sua participação no que descreveu como "um combate nobre e viril".

Praticamente desconhecido dos poloneses até o lançamento de sua candidatura, em 25 de novembro do ano passado, Nawrocki buscou o apoio de Trump, com quem tirou fotos na Casa Branca em 30 de abril. A extrema direita trumpista reforçou o apoio com a participação da secretária de Segurança Interna dos Estados Unidos, Kristi Noem, numa reunião da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC) providencialmente organizada pelo trumpismo em 27 de maio em Rzeszow, no Sul da Polônia.

Crítico da União Europeia (UE), ele teve apoio no segundo turno de um extremista ainda mais à direita, Slawomir Mentzen, que fez oito exigências, entre elas vetar a entrada da Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), não aumentar impostos e não restringir o acesso dos poloneses a armas de fogo.

"Com Nawrocki, o governo será paralisado e isto pode levar com o tempo à queda da coalizão no poder", prevê a cientista política Anna Materska Sosnowska. Seria uma chance para a volta do PiS ao poder nas próximas eleições parlamentares. Assim, é uma derrota para as forças que tentam conter o avanço das forças antidemocráticas na Europa e no mundo.

Há dois aspectos importantes neste resultado.

1. O governo tem uma pequena maioria no Parlamento, então não conseguiu derrubar os vetos do presidente e fazer as reformas prometidas para restaurar a democracia.

2. A Polônia, historicamente invadida e dominada por Alemanha e Rússia, faz da relação com os EUA um dos eixos centrais de sua política externa desde a queda do comunismo, em 1989. Como a extrema direita é anti-UE, o trumpismo pesou. Trump é inimigo da UE e o atual primeiro-ministro presidiu o Conselho Europeu. É a primeira eleição com vitória de aliado de Trump desde que ele voltou à Casa Branca em janeiro.

Hoje na História do Mundo: 2 de Junho

 ÚLTIMO EXÉRCITO SULISTA

     Em 1865, depois da rendição do general Edmund Kirby Smith, comandante das forças dos Estados Confederados do Sul a oeste do Rio Mississípi, em 26 de maio, mais de um mês depois do fim da Guerra da Secessão ou Guerra Civil Norte-Americana, em 19 de abril, o último exército sulista abandona a luta. É o fim definitivo da guerra mais mortal da história dos EUA, com um total de mortos estimado em 620 mil.

A Guerra da Secessão começa em 12 de abril de 1861, quando as forças do Sul, que era contra a abolição da escravatura e queria se separar da União, sob o comando do general Pierre Beauregard, bombardeiam o Forte Sumter no porto de Charleston, na Carolina do Sul. Durante 34 horas, 50 canhões e morteiros do Sul disparam mais de 4 mil vezes contra o forte. No dia seguinte, o comandante nortista, major Robert Anderson, se rende.

Dois dias depois, o presidente Abraham Lincoln convoca 75 mil voluntários para deter a insurreição sulista. Depois de quatro anos de guerra, o comandante militar do Sul, general Robert Lee, se rende ao comandante militar do Norte, general Ulysses Grant, em 19 de abril, mas alguns focos de resistência subsistem.

CIDADANIA INDÍGENA

   Em 1924, o Congresso aprova a Lei de Cidadania Indígena, dando cidadania a todos os índios nascidos em território americano.

Antes da Guerra da Secessão (1861-65), a cidadania é limitada a mestiços. Com a emancipação, os negros ganham este direito, que só seria completado um século depois com a Lei de Direitos Civis.

REPÚBLICA ITALIANA

    Em 1946, depois da queda do Fascismo e da derrota na Segunda Guerra Mundial (1939-45), os italianos votam em plebiscito para tornar o país, que era uma monarquia desde a unificação, numa república.

Ao todo, 12.718.641 (54,3%) votam na república e 10.718.502 (45,7%) na monarquia. Com este resultado, o rei Umberto II, que ascende ao trono um mês antes, vai para o exílio em 13 de junho.

A Itália torna-se oficialmente uma república em 18 de junho e a data do plebiscito (2 de junho) é declarada Dia da República.

COROAÇÃO DE ELIZABETH II

    Em 1953, Elizabeth II é coroada rainha da Inglaterra e do Reino Unido. 

Mais de mil dignatários e convidados assistem à cerimônia de coroação na Abadia de Westminster, em Londres. Ao nascer, em 1926, Elizabeth é a primeira filha do príncipe Albert Frederick Arthur George, segundo filho do rei George V. Quando o rei morre, em 1936, ascende ao trono o rei Eduardo VIII, que abdica para se casar com Wallis Simpson, uma norte-americana divorciada.

O pai de Elizabeth é coroado como George VI, que reinou durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45), quando o Reino Unido é bombardeado impiedosamente. Elizabeth torna-se a herdeira do trono. Seu reinado é o mais longo da história, superando os de Luís XIV, na França (1643-1715), e da rainha Vitória, na Inglaterra (1837-1901).

CAÇA ÀS BRUXAS

    Em 1954, o senador republicano Joseph McCarthy denuncia a infiltração comunista na Agência Central de Inteligência (CIA) e na indústria nuclear dos Estados Unidos. As acusações são logo desconsideradas como sensacionalismo barato.

McCarthy fica conhecido em 1950, quando lança sua cruzada contra a Ameaça Vermelha, a suposta infiltração esquerdista nos EUA alegando há mais de 200 "notórios comunistas" no Departamento de Estado. Nos anos seguintes, amplia sua campanha a todos os órgãos do governo dos EUA e a outros setores, como o cultural. Até Charles Chaplin, considerado o melhor ator da história do cinema, entra nas suas listas negras.

Mesmo sem descobrir nenhum comunista enrustido, o macartismo provoca uma histeria anticomunista e a perseguição política de supostos esquerdistas. Em 1954, McCarthy está marginalizado. Quando faz acusações durante o governo democrata de Harry Truman (1945-53), os republicanos o usam como arma política. Depois da vitória e posse de Dwight Eisenhower (1953-61), vira um estorvo para o Partido Republicano.

Com o seu poder desvanecendo, em 1954, McCarthy inicia investigações sobre infiltração comunista no Exército dos EUA. Como as audiências são televisionadas, pela primeira vez o povo americano vê o senador McCarthy em ação. Seu estilo agressivo e histérico desagrada.

Em uma última e desesperada tentativa de se reabilitar, McCarthy denuncia a infiltração na CIA, mas ninguém o leva a sério. O presidente Eisenhower, o secretário de Estado, John Foster Dulles, e o diretor-geral da CIA, Allen Dulles, irmão do secretário, rejeitam as acusações como temerárias e sem fundamento.

TERRORISMO DOMÉSTICO

    Em 1997, o terrorista de extrema direita Timothy McVeigh, ex-soldado do Exército dos EUA, é condenado por 15 acusações de assassinato e conspiração por causa do atentado com caminhão-bomba contra um prédio do governo federal na Cidade de Oklahoma em 19 de abril de 1995.

A operação de resgate dura duas semanas. O total de mortos é 168, inclusive 19 crianças pequenas que estavam na creche do edifício.

O ataque acontece dois anos depois de uma operação do FBI (Federal Bureau of Investigation), a polícia federal dos EUA, contra a seita davidiana, em que morrem cerca de 80 pessoas. McVeigh é condenado à morte e executado em junho de 2001.