quarta-feira, 25 de junho de 2025

Quem é o Supremo Líder do Irã?

Com a morte do aiatolá Ruhollah Khomeini, em 4 de junho de 1989, o aiatolá Ali Khamenei, que havia sido presidente de 1981-89, torna-se o Supremo Líder Espiritual da Revolução Islâmica. Tem fama de linha dura, mas um perfil publicado na revista Foreign Affairs (Set-Oct 2013) revela um aiatolá mais flexível, talvez para alimentar a esperança de um acordo sobre o programa nuclear do Irã, feito em 2015 e abandonado pelos Estados Unidos no primeiro governo Donald Trump, em 2018.

A visão de mundo de Khamenei foi forjada pelo golpe de 1953 contra o primeiro-ministro nacionalista Mohammed Mossadegh, que estatizara o petróleo da companhia britânica Anglo Iranian Oil em 1951. Foi o primeiro golpe articulado pela CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA) durante a Guerra Fria. Ele acredita que os EUA sempre estiveram determinados a acabar com a revolução iraniana. Em 1981, foi vítima de um atentado que paralisou o braço direito.

“Khamenei sempre foi um crítico da democracia liberal e pensa que o Ocidente e o capitalismo estão num inevitável declínio de longo prazo. Mais ainda, vê os EUA como intrinsecamente islamofóbicos”, escreve na revista o jornalista e dissidente iraniano Akbar Ganji. 

“Mas ele não é automaticamente antiocidental e antiamericano. Não acredita que os EUA e o Ocidente sejam responsáveis por todos os problemas do mundo islâmico, que devam ser destruídos e que o Corão e a Charia sejam suficientes para resolver todos os problemas do mundo moderno. Considera a ciência e o progresso a ‘verdadeira civilização ocidental’, e gostaria que o povo iraniano aprendesse esta verdade”, diz o perfil. 

Para penetrar na mente ocidental, o aiatolá usa a literatura. É fã de A Divina Comédia, A Cabana do Pai Tomás, As Vinhas da Ira e sobretudo de Os Miseráveis, de Vítor Hugo, que considera “um livro de sociologia, de história, crítica, um livro divino, um livro de amor e sentimento” e A Cabana do Pai Tomás, “uma das obras de arte mais trágicas. Ainda é uma história viva 200 anos depois”. 

Khamenei, conclui o jornalista, “não é um maluco irracional esperando uma oportunidade para a agressão. Mas suas visões profundamente enraizadas e sua intransigência devem tornar qualquer negociação difícil e prolongada”.

Aos 86 anos, operado de um câncer na próstata em 2014, o regime debate sua sucessão. Está esconderijo numa fortaleza subterrânea, quase não se comunica porque está na mira do presidente Donald Trump e do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, indicou três possíveis sucessores, teria entregue a condução da guerra a uma junta militar da Guarda Revolucionária Iraniana e se cogita a possibilidade de um golpe de Estado.

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