terça-feira, 24 de abril de 2018

Bombardeio dos EAU mata líder dos rebeldes hutis no Iêmen

O chefe do Conselho Político Supremo dos rebeldes hutis no Iêmen, Saleh al-Sammad, morreu na quinta-feira passada num bombardeio aéreo da aliança militar de países árabes sunitas liderada pela Arábia Saudita, revelaram ontem os rebeldes.

"O Conselho Político Supremo anunciou durante reunião na segunda-feira o martírio do presidente Saleh al-Sammad", informou a agência de notícias rebelde Saba. A cúpula da rebelião decretou um luto nacional de três dias e indicou Mahdi Mohammad Hussein al-Mashat como sucessor.

Sete pessoas morreram no ataque aéreo à província de Hodeida, no Oeste do Iêmen, em 19 de abril, inclusive Sammad, noticiou a televisão catarina Al Jazira. O ataque foi feito pelos Emirados Árabes Unidos com um drone fabricado na China, revelou mais tarde a revista americana Foreign Policy.

"Este crime não vai diminuir a vontade de nosso povo e do Estado", afirmou o comandante supremo dos rebeldes, Abdel Malek al-Huti, em pronunciamento na televisão em que prometeu não deixar "sem resposta".

Com a morte de Sammad e a ascensão de Mashat, o analista de Oriente Médio Peter Salisbury vê uma "consolidação da linha dura" e dos "elementos mais militaristas" do movimento. Para o editor-chefe do jornal Yemen Post, Hakim al-Masmari, a morte do líder político foi "o maior golpe para os hutis, politicamente, desde o início da guerra."

Os rebeldes hutis, que se apresentam como Ansar Allah (Partidários de Deus), são xiitas zaiditas apoiado pelo Irã. Têm origem nas montanhas do governorado de Sadá, no Norte do país, junto à fronteira com a Arábia Saudita.

Em 2004, iniciaram uma insurgência de baixa intensidade contra o governo central dominado pelos sunitas. A Arábia Saudita chegou a intervir em 2009 para impor um cessar-fogo.

Quando começaram as revoluções da Primavera Árabe, em 2011, Abdel Malek al-Huti apoiou as manifestações contra o ditador Ai Abdullah Saleh, no poder desde 1978 no Iêmen do Norte e grande articulador da unificação do Iêmen, em 1990.

Os hutis boicotaram a eleição de candidato único do início de 2012, que levou à presidência Abed Rabbo Mansur Hadi, vice-presidente de Saleh desde 1994.

Dois anos mais tarde, o conflito entre os hutis e as tribos sunitas do Norte do Iêmen chegou ao governorado de Saná, a capital do país. Em 21 de setembro de 2014, depois de uma batalha de poucos dias, os rebeldes tomaram Saná.

Hadi foi obrigado a renunciar em janeiro de 2015. Ficou virtualmente confinado ao palácio até 21 de fevereiro, quando fugiu para o porto de Áden, a antiga capital do Iêmen do Sul.

Em 19 de março, as forças leais a Hadi atacaram rebeldes que não reconheceram sua autoridade no aeroporto de Áden e perderam. No dia 25, o presidente deposto fugiu para a Arábia Saudita, que iniciou a intervenção militar no mesmo dia.

Sob intenso bombardeio saudita e domínio rebelde sobre vastas regiões do país, além da presença de extremistas muçulmanos d'al Caeda, o Iêmen é hoje palco da pior tragédia humanitária no mundo inteiro, pior do que a guerra civil da Síria, apesar dos recentes ataques com armas químicas. Boicotes à distribuição de alimentos ameaçam matar de fome milhares de pessoas.

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