segunda-feira, 9 de março de 2015

Aliado de Nemtsov rejeita versão oficial culpando chechenos

Um aliado do líder oposicionista russo Boris Nemtsov, assassinado em 27 de fevereiro de 2015 a 50 metros das muralhas do Kremlin, rejeita a versão oficial culpando dois islamitas chechenos supostamente descontentes com o apoio da vítima ao jornal francês Charlie Hebdo, atacado por terroristas muçulmanos em 7 de janeiro de 2015.

"É uma versão útil ao Kremlin" porque desvia a atenção da responsabilidade do governo e "tira [o presidente] Vladimir Putin da linha de tiro", afirmou Ilia Yachin, cofundador, com Nemtsov, do movimento Solidarnost (Solidariedade) e do Partido Republicano da Rússia, citado pelo jornal liberal inglês The Guardian.

No sábado, o Serviço Federal de Segurança (SFS), o serviço secreto da Rússia, herdeiro do KGB (Comitê de Defesa do Estado), a polícia política da União Soviética, prendeu dois chechenos, Anzor Gubachev e Zaur Dudaev, e acusou este último de ter disparado os quatro tiros que mataram Nemtsov. Dois dias depois, o oposicionista denunciaria Putin como responsável pela guerra na Ucrânia e a crise econômica russa numa manifestação transformada em funeral de protesto.

Dudaiev era um agente da polícia secreta do senhor da guerra Ramzan Kadirov, convertido em presidente da República da Chechênia, uma das unidades administrativas da Federação Russa, depois que Putin não conseguiu derrotá-lo.

O homem-forte do Kremlin marcou sua chegada ao poder como primeiro-ministro de Boris Yeltsin, em 1999, iniciando a Segunda Guerra da Chechênia depois de ações guerrilheiras no Norte do Cáucaso e de atentados em Moscou atribuídos a terroristas chechenos sem a apresentação de provas consistentes. Os atentados foram atribuídos a agentes secretos russos. Putin era diretor-geral do SFS antes de chegar ao poder central. A guerra matou um total estimado em 50 a 80 mil pessoas.

Kadirov apressou-se hoje em apoiar a versão oficial do Kremlin: o principal assassinato político da Rússia na era Putin seria apenas mais uma vingança contra as caricaturas do profeta Maomé publicadas em jornais do Ocidente.

O homem-forte checheno será condecorado pelo Kremlin com a Ordem de Honra pelos "serviços prestados à pátria", assim como o ex-agente e ex-deputado Andrei Lugovoi, denunciado no Reino Unido por matar outro ex-agente russo, Alexander Litivinenko, envenenado com polônio radioativo em novembro de 2006.

"Zaur era um genuíno patriota da Rússia. Era subcomandante de um batalhão, um dos soldados mais corajosos e destemidos do regimento", escreveu o homem-forte da Chechênia numa rede social da Internet. "Todos os que conheceram Zaur confirmam que ele era profundamente religioso e, como todos os muçulmanos, ficou chocado com as atividades do Charlie e os comentários em apoio à publicação das caricaturas."

Os partidários do líder morto não acreditam nisso. "Nossos piores temores estão se confirmando", lamenta Ilia Yachin. "O atirador será culpado e os mandantes do assassinato de Nemtson ficarão livres."

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