sábado, 1 de dezembro de 2018

López Obrador toma posse e promete fim do neoliberalismo no México

O novo presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, eleito em 1º de julho com 53% dos votos e maioria na Câmara e no Senado, tomou posse hoje prometendo reformas "profundas e radicais" e o fim do neoliberalismo. 

Seus maiores desafios serão combater a violência ligada ao tráfico de drogas, a corrupção endêmica e a pobreza, que atinge 43% dos mexicanos, embora só 8% vivam na miséria ou pobreza absoluta.

"Com um mandato do povo, começamos hoje a quarta transformação do México. Pode soar pretensioso ou exagerado, mas hoje não é apenas o início de um novo, é uma mudança de regime político", declarou o ex-prefeito da Cidade do México, um nacionalista de esquerda de 65 anos que prometeu na campanha "uma revolução pelo voto".

As transformações anteriores foram a independência da Espanha, em 1821, no fim de 11 anos de guerra; a Reforma do presidente Benito Juárez, em 1867, depois da derrota da intervenção da França iniciada em 1861; e a Revolução Mexicana (1910-20) de Emiliano Zapata e Pancho Villa.

Seus ataques às políticas dos últimos 30 anos, da abertura econômica de Carlos Salinas de Gortari (1988-94) às reformas do setor de energia de Enrique Peña Nieto (2012-18), "ao fracasso e à corrupção" do neoliberalismo, assustam empresários e investidores.

AMLO, como é conhecido popularmente fala do período de 1930 a 1960 como uma idade de ouro e despreza o que veio depois: "Vamos fazer todo o possível para abolir este regime neoliberal."

Para o presidente da Confederação Patronal da República Mexicana (Coparmex), Gustavo de Hoyos, foi um discurso com "expressões polarizadoras e uma ideologia retrógrada". O presidente da organização não governamental Mexicanos contra a Corrupção e a Impunidade, Claudio González, criticou sua "visão voltada para trás e não para o futuro".

Com o ceticismo diante das propostas de ruptura, o mercado financeiro amargou grandes perdas nas últimas semanas. O novo presidente tentou acalmar os agentes econômicos: "Eu me comprometo, e sou um homem de palavra, que os investimentos nacionais e estrangeiros estarão seguros e que vou criar condições para que tenham bons resultados."

López Obrador renovou o compromisso de manter a independência do Banco do México, o banco central do país, e de governar por apenas um mandato de seis anos. Seus críticos temem que pretenda governar indefinidamente, a exemplo de Hugo Chávez e agora do presidente da Bolívia, Evo Morales, que perdeu um plebiscito, mas obteve uma decisão favorável da Suprema Corte para concorrer a mais um mandato.

O novo líder mexicano destacou a amizade com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, representado pelo vice-presidente Mike Pence e a filha e assessora Ivanka Trump. Também estavam presentes o rei Felipe VI, da Espanha, o primeiro-ministro de Portugal, António Costa, e os presidentes da Bolívia, Evo Morales, e de Cuba, Miguel Díaz Canel, num total 20 chefes de Estado e de governo.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, foi à cerimônia no Palácio Legislativo de São Lázaro, mas não participou da festividade pública. Quando seu nome foi citado, houve vaias e gritos de "ditador".

A cerimônia pública foi realizada diante de 160 mil pessoas no Zócalo, a praça central da capital mexicana, onde ficam o Palácio Nacional, a Catedral e as ruínas Templo Maior da civilização asteca, destruída pela invasão do espanhol Hernán Cortez, em 1519. Representantes das 68 tribos indígenas do México fizeram rituais de purificação e investiram AMLO no cargo para marcar o aspecto multicultural do país.

Populista, López Obrador não vai morar na residência oficial de Los Pinos, situada no Bosque de Chapultepec, que prometeu transformar em centro cultural. Vai continuar na modesta casa da família. Foi para a posse num Volkswagen. Declarou não precisar de "nada material nem das mordomias do poder". Reduziu o salário presidencial em 40% de 270 mil para 108 mil pesos, cerca de R$ 20,5 mil, e o fixou como teto para o funcionalismo público.

Messiânico, é acusado de não ouvir opiniões alheias. Chega ao poder com 67% de aprovação, depois de sofrer uma queda de popularidade de nove pontos desde agosto. Sete em cada dez mexicanos acreditam que ele será capaz de reduzir drasticamente a corrupção, a violência e a miséria.

Desde que o presidente Felipe Calderón declarou guerra às máfias do tráfico de drogas, ao tomar posse, em 2006, pelo menos 60 mil pessoas foram mortas, de acordo com as estatísticas oficiais. Pela  estimativa da Igreja Católica, o total pode superar 150 mil mortes.

A política de "cortar cabeças", capturando os chefões do tráfico como Joaquín El Chapo Guzmán, do Cartel de Sinaloa, atualmente sendo julgado nos EUA, fracassou. Quando El Chapo foi extraditado, seus inimigos do Cartel de Jalisco sequestraram seus dois filhos e exigiram US$ 6 milhões de resgate.

El Chapo pagou. Hoje seu cartel está dividido e o Cartel de Jalisco se tornou provavelmente a maior máfia do tráfico no mundo inteiro. Opera em 53 países. Tem ligações com as máfias da Rússia e da Itália.

O emprego das Forças Armadas na Guerra contras as Drogas levou à corrupção dos militares e ao surgimento de cartéis como Los Zetas, formado por desertores.

López Obrador pretende legalizar a maconha, o que já foi feito na prática por decisão da Suprema Corte de Justiça, dar uma anistia a produtores e traficantes, e criar uma Guarda Nacional, sob o comando de um general do Exército, para combater a violência.

Com 129 milhões de habitantes e um produto interno bruto de US$ 1,150 trilhão, o México é a 15ª maior economia do mundo e a segunda da América Latina, atrás do Brasil. A renda média é estimada em US$ 8,9 mil pelo Banco Mundial.

A pobreza é maior nos estados do Sul, que não se beneficiaram do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), agora convertido em Acordo EUA-México-Canadá. Atinge 77% da população de Chipas e 70% dos moradores de Oaxaca.

Nenhum comentário: