A caçada aos dois irmãos Chérif e Saïd Kouachi, principais suspeitos do atentado terrorista contra o jornal Charlie Hebdo ontem em Paris, concentra-se neste momento numa área de 20 quilômetros quadrados de uma área de florestas do município de Crepy-en-Valois, informa o jornal conservador francês Le Figaro.
Neste momento, a polícia vasculha uma área próxima ao local onde Chérif e Saïd Kouachi, franceses de origem argeliana, abandonaram ontem um carro usado na fuga, na região da Picarcia, no Norte da França. Dentro dele, encontraram bandeiras jihadistas e coquetéis Molotov.
Chérif, que também usava o nome muçulmano Abu Issen, foi preso em 2005 e condenado em 14 de maio de 2008 por recrutar voluntários para lutar na guerra civil do Iraque, contou o jornal Le Monde. Teria sido motivado por uma revolta contra os presos torturados pelos Estados Unidos na prisão de Abu Ghraib, no Iraque.
Os serviços secretos franceses o vigiaram até 2010. Pararam de fazer isso por falta de pessoal. As autoridades do país têm uma lista de 5 mil suspeitos de militar em grupos jihadistas.
Em entrevista a Le Figaro, seu advogado, Vincent Ollivier, como "um perdedor radicalizado", "um jovem nos seus 20 anos que não mais o que fazer da vida", "um motoboy entregador de pizza que fumava haxixe e trabalhava para comprar a droga". O islamismo radical deu sentido à sua vida.
A pista foi uma carteira de identidade de Saïd deixada no primeiro carro usado na fuga. Ele e o irmão formariam uma "célula terrorista familiar". Seu alcance e ramificações estão sendo investigadas pela polícia.
Na escola secundária, Chérif conheceu seus primeiros cúmplices. Juntos, eles usavam drogas, traficavam e cometiam pequenos roubos e furtos. Ele era considerado o mais arrojado e violento da gangue. Seu fascínio pela "guerra santa" islâmica começou em 2003, quando ele passou a frequentar a mesquita de Addawa, no bairro de Stalingrado, em Paris.
Lá, Chérif conheceu Farid Benyettou, o organizador do comitê de recrutamento de voluntários para a luta contra a invasão americana no Iraque. O guru fazia a doutrinação na casa dos novatos ou num prédio especial do bairro.
Seu estilo de vida mudou radicalmente. Chérif parou de fumar e traficar. Passou a pesquisar ativamente na Internet vídeos sobre a "guerra santa".
A invasão americano-britânica do Iraque para depor Saddam Hussein, em março de 2003, virou o exemplo máximo da maligna interferência ocidental nos países muçulmanos. Chérif se tornou recrutador.
Preso em Paris em janeiro de 2005, quando embarcava para a Síria rumo ao Iraque, ele ficou na cadeia até outubro de 2006. Quando foi condenado a três anos com direito a suspensão da pena, em 2008, ficou em liberdade por já ter cumprido metade da pena antes do julgamento.
Na prisão de Fleury-Mérogis, na região de Essone, Chérif conheceu seu novo guru: Djamel Beghal, que usava o nome de guerra de Abu Hamza, condenada a dez anos de cadeia por planejar um atentado frustrado contra a Embaixada dos EUA na França.
Em maio de 2010, ele foi preso sob suspeita de ajudar a fuga de um líder jihadista denunciado por um atentado contra o metrô de Paris. Cinco meses depois, foi solto. Saïd também era réu no mesmo caso.
Em 26 de julho de 2013, a Promotoria de Paris abandonou o caso por falta de provas, "apesar de sua adesão ao islamismo radical e de seu interesse em teses que defendem a legitimidade da 'guerra santa' armada".
Um juiz de instrução lamenta agora: "Naquela época, não podíamos adivinhar sua periculosidade."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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