quinta-feira, 11 de abril de 2013

Boko Haram rejeita anistia na Nigéria

O grupo extremista muçulmano Boko Haram rejeitou a proposta de anistia feita pelo presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan.

Em uma declaração, o grupo alegou não ter feito nada de errado, não tendo portanto necessidade de anistia. Para a empresa americana de análise estratégica Stratfor, um acordo sobre anistia é improvável enquanto o país não tiver um líder mais próximo do grupo étnica e religiosamente.

No delicado equilíbrio político entre o Norte, majoritariamente muçulmano, e o Sul, majoritariamente cristão e animista, Jonathan era vice-presidente de Umaru Yar'Adua, que representava o Norte e morreu do coração depois de governar apenas dois anos e meio.

Em 2009, foi se tratar na Arábia Saudita de problemas cardíacos. Voltou à Nigéria em fevereiro de 2010 e morreu em 5 de maio do mesmo ano, deixando o poder com Jonathan, que completou o mandato e foi eleito presidente em 2010.

Sua eleição aumentou ainda mais a sensação de alienação dos muçulmanos. Boko Haram, que significa Educação Ocidental é Proibida na língua haussa, é um grupo jihadista muçulmano que luta contra a ocidentalização e "leis feitas pelo homem", numa referência à charia, o direito islâmico, que deriva do Alcorão, supostamente ditado por Alá (Deus) ao profeta Maomé.

Não é um grupo unitário, mas uma rede de militantes descentralizada. Quando alguns líderes mostraram disposição de negociar, foram atacados e mortos por alas mais radicais.

Além disso, Boko Haram não é o único grupo islamita em ação do Norte da Nigéria. Outro grupo jihadista com maior ligação com o braço da rede terrorista Al Caeda no Magreb Islâmico é Ansaru, especialista em sequestrar estrangeiros. Também há violência na região resultante de conflitos étnicos por terra e gado, às vezes envolvendo muçulmanos como a tribo fulani contra cristãos da tribo beron, que têm causada vários massacres na cidade de Jos.

Como sulista, Jonathan foi capaz de negociar com o Movimento de Emancipação do Delta do Níger, surgido na maior região produtora de petróleo da Nigéria para lutar por uma divisão maior da riqueza e contra a contaminação ambiental.

No Norte, muitos políticos que acreditam que cabe a eles assumir a presidência do país em 2015 devem dificultar sua missão, usando grupos militantes para reforçar suas campanhas. Um muçulmano nortista teria maior chance de negociar uma anistia.

Para o ativista dos direitos humanos nortista Musa Reef, um acordo de paz só será possível se houver uma mudança da "percepção ideológica" do grupo extremista: "O grupo é basicamente ideológico e não pode ser acalmado por uma anistia. De fato, nas poucas mensagens das ameaças feitas pelo grupo, fica evidente que o diálogo com o governo é considerado um anátema. Com quem o governo está negociando então? É uma anistia para ladrões e criminosos ou para políticos em busca de relevância? Quem são os mediadores da negociação?"

Na sua opinião, expressa em entrevista ao jornal nigeriano The Daily Post, "deve ser declarado sem qualquer equívovo que Boko Haram não é a mesma coisa que a revolta no Delta do Níger. Aqueles que tentam desesperadamente encontrar similaridades entre os dois grupos não entenderam o problema ou estão sendo enganosos."

O conflito é religioso, conclui Musa Reef: "Para que a anistia seja relevante e efetiva, o Norte deve reconhecer que Boko Haram tem uma plataforma religiosa e que cabe aos clérigos muçulmanos da região identificar e atacar as questões. Declarar que a insurgência do Boko Haram não é um problema religioso é uma falsidade."

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