domingo, 2 de abril de 2006

EUA e Grã-Bretanha avaliam conseqüências de um ataque ao Irã

A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, insiste em que “a diplomacia pode funcionar”. Mas o jornal conservador britânico The Sunday Telegraph anunciou neste domingo que os comandantes militares discutem na segunda-feira, 3 de abril, com o governo Tony Blair as possíveis conseqüências de um ataque dos Estados Unidos para tentar destruir o programa nuclear do Irã, especialmente “sobre as tropas britânicas estacionadas no Iraque e no Afeganistão”. Já o jornal americano The Washington Post, citando fontes militares e de serviços secretos, estima que o maior risco seriam contra-ataques terroristas no mundo inteiro.

Piorando ainda mais a crise, o Irã anunciou neste domingo que testou com sucesso um novo míssil subaquático que atinge 100 metros por segundo. O teste coincidiu com manobras militares envolvendo 17 mil soldados iranianos, no momento em que aumenta a tensão entre o Irã e as potências ocidentais. Veio acompanhado de uma advertência: “Não brinquem com fogo”, alertou o comandante do treinamento, contra-almirante Mohammad Ibrahim Dehqani.

Para o Sunday Telegraph, um ataque americano para tentar impedir o Irã de fabricar bombas atômicas será “inevitável”, se este país não suspender seu programa de enriquecimento de urânio, como exigem o Conselho de Segurança das Nações Unidas e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

Diante do caos criado pela guerra no Iraque, “não haverá uma invasão do Iraque mas a destruição de suas instalações nucleares”, disse um funcionário do Ministério do Exterior britânico. Seria um “bombardeio cirúrgico”, a exemplo do que Israel fez em 1981, com o apoio dos EUA, contra a usina nuclear iraquiana de Osirak.

O problema é que o Irã aprendeu com a experiência iraquiana. Espalhou suas instalações nucleares pelo país. Assim, não há garantia de que uma onda de "bombardeios cirúrgicos" seja capaz de paralisar o programa nuclear iraniano. Antes, seriam necessárias centenas de ataques para destruir o sistema de defesa antiaérea do Irã. Uma ação militar desta envergadura inflamaria ainda mais o mundo muçulmano, alienaria os reformistas iranianos e traria o risco de uma aliança entre Al Caeda e o Irã.

Na análise dos especialistas americanos, a reação imediata do Irã seria atacar posições americanas no Iraque, onde tem afinidade com a maioria xiita, que representa 60% da população iraquiana. Também poderia mobilizar outros aliados no Oriente Médio, como o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) palestino e o Hesbolá, o Partido de Deus xiita, do Líbano.

Quando a AIEA remeteu a questão da bomba iraniana ao CS-ONU, que pode desde impor sanções e até autorizar o uso da força, o negociador iraniano Javad Vaidi advertiu que o Irã poderia provocar “dor e sofrimento”.

As potências ocidentais com direito de veto no CS, EUA, Grã-Bretanha e França, querem aplicar sanções econômicas se o Irã não suspender o enriquecimento de urânio e não abrir totalmente suas instalações nucleares a inspeções da AIEA. Mas a China e a Rússia insistem na continuação das negociações.

Se for alvo de sanções econômicas, o Irã ameaça usar o petróleo como arma política, abalando o mercado internacional de energia. Se for alvo de uma ação militar, deve reagir com atos terroristas, talvez até fazendo uma aliança tática com Al Caeda. Enquanto isso, reforça seu dispositivo militar.

“Depois de semanas de guerra psicológica, o Ocidente espera que recuemos e abramos mão de nossos direitos”, declarou o general Mohammad Hejazi, chefe de uma milícia islamita, à televisão iraniana. “Não só não recuamos como mostramos nossa capacidade com estas manobras. A segurança do Golfo Pérsico é do interesse de todos. Nossos interesses econômicos dependem do Golfo Pérsico assim como o suprimento de energia do mundo depende desta região. Se a região não estiver segura, os responsáveis pagaráo um preço alto. Os inimigos não devem brincar com fogo”.

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