De O Abolicionismo, de Joaquim Nabuco: a escravidão "não significa somente a relação do escravo com o senhor; significa muito mais: a soma do poderio, influência, capital e clientela dos senhores todos; o feudalismo estabelecido no interior; a dependência em que o comércio, a religião, a pobreza, a indústria, o Parlamento, a Coroa, o Estado enfim, se acham perante o poder agregado da minoria aristocrática em cujas senzalas centenas de milhares de entes humanos vivem embrutecidos e moralmente mutilados pelo próprio regime a que estão sujeitos: e, por último, o princípio vital que anima a instituição toda..."
O objetivo do abolicionismo não se reduz à missão de libertar os escravos. Além dessa tarefa, há outra maior, ensina Nabuco, "a de apagar todos os efeitos de um regime que há três séculos é uma escola de desmoralização e inércia, de servilismo e irresponsabilidade para a casta dos senhores, e que fez do Brasil o Paraguai da escravidão".
A segunda tarefa não foi concluída. "Depois que os últimos escravos houverem sido arrancados ao Poder sinistro que representa para a raça negra a maldição da cor, será ainda preciso desbastar, por meio de uma educação viril e séria, a lenta estratificação de 300 anos de cativeiro, isto é, do despotismo, da servidão e da ignorância."
Nabuco advertiu profeticamente: "Enquanto a nação não tiver consciência de que lhe é indispensável se adaptar à liberdade cada um dos aparelhos do seu organismo de que a escravidão se apropriou, a obra desta irá por diante, mesmo quando não haja mais escravos."
E mais: "O nosso caráter, o nosso temperamento, a nossa organização toda, física, intelectual e moral, acham-se terrivelmente afetadas pelas influência com que a escravidão passou trezentos anos a permear a sociedade brasileira. (...) enquanto essa obra não for concluída, o abolicionismo terá a sempre razão de ser".
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
Um comentário:
Só reproduzi o conceito de Joaquim Nabuco, e não da Águia de Haia. Foi o tráfico de escravos que financiou a expansão imperial portuguesa.
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