sexta-feira, 3 de abril de 2015

Primeira debate na TV da campanha eleitoral britânica dá empate

Com líderes de sete partidos, o primeiro debate na televisão da campanha para as eleições parlamentares de 7 de maio de 2015 no Reino Unido, realizado ontem à noite, revela pelo número de participantes a mudança no panorama político do país. Mas os candidatos a primeiro-ministro ainda vêm dos partidos dominantes no pós-guerra e para os eleitores eles empataram, indica uma pesquisa publicada pelo jornal The Guardian.

Além do primeiro-ministro David Cameron, do Partido Conservador, do vice-primeiro-ministro Nick Clegg, do Partido Liberal-Democrata; e do principal líder da oposição, Ed Miliband, do Partido Trabalhista; estavam na bancada Nigel Farage, do ultradireitista Partido da Independência do Reino Unido (UKIP); Natalie Bennett, do Partido Verde; Nicola Sturgeon, do Partido Nacional Escocês; e Leanne Wood, do Plaid Cymru, o partido nacionalista do País de Gales.

Esta proliferação de partidos deixou o debate ainda mais tenso e caótico, a exemplo do que o Reino Unido pode esperar da próxima Câmara dos Comuns do Parlamento Britânico. De acordo com a pesquisa, 25% gostaram mais de Miliband e 24% de Cameron. Quando a pergunta foi sobre qual dos dois foi melhor, houve empate em 50%.

Todos atacaram Cameron e Clegg pelas políticas de cortes nos gastos públicos e aumentos de impostos adotadas para enfrentar a crise financeira internacional.

O primeiro-ministro se defendeu dizendo que era preciso reduzir despesas e que a economia voltou a crescer. Com avanço de 2,8%, o Reino Unido teve  acusou todos os outros candidatos de planejarem aumentos de impostos para financiar suas promessas.

À ultradireita, Farage atacou: "Todos os outros partidos aqui presentes são iguais. São todos a favor da União Europeia."

Em seguida, culpou a UE e o que chamou de "migração em massa" por todos os problemas do país, dizendo que 300 mil imigrantes entrou no Reino todos os anos, agravando os problemas habitacionais, educacionais e de saúde.

Sob pressão, até o líder trabalhista foi obrigado a propor limitações aos imigrantes de outros países da UE. Eles teriam de ficar mais de dois anos no país para ter direito a benefícios previdenciários. Farage denunciou o "turismo da saúde", que custaria dois bilhões de libras por ano ao país, alegando que qualquer portador do vírus da aids que se mudar para o Reino Unido terá tratamento garantido pelo Serviço Nacional de Saúde.

A líder escocesa Nicola Sturgeon e Miliband aproveitaram o tema da imigração para criticar Cameron por prometer convocar, se for reeleito, um plebiscito sobre a associação à UE, descrito como um enorme risco para a economia, os empregos e o bem-estar social dos britânicos.

De sua parte, Farage argumentou que "este país precisa governar a si mesmo" e declarou que a única garantia de que vai haver uma consultar popular será a eleição de uma grande bancada de seu partido xenófobo e neofascista.

Cameron fuzilou Farage com o olhar, acusando-o de contribuir para uma vitória trabalhista ao roubar votos dos conservadores à direita. Com Miliband no poder, não vai haver plebiscito para sair da Europa.

Neste caso, se o Reino Unido deixar o bloco europeu, a líder do Partido Nacional Escocês disse que, além da independência, vai lutar para que a Escócia permaneça na UE. Da mesma forma, Leanne Wood, do partido nacionalista galês, defendeu o modelo social-democrata europeu, temendo perder ajuda e benefícios sociais se o Reino Unido deixar a UE.

O grande defensor da integração europeia foi Clegg. O líder liberal-democrata lembrou que são mais de 500 milhões de pessoas que produzem uma riqueza de mais de US$ 18 trilhões por ano.

A candidata verde, Natalie Bennett, tentou convencer o eleitor de que o voto em seu partido não será inútil. No sistema eleitoral britânico, que adota o voto distrital em turno único, há uma forte tendência para o voto útil nos grandes partidos. Os pequenos têm pouca chance e sempre formam bancadas proporcionalmente menores do que sua votação.

Em 7 de maio, os eleitores britânicos vão escolher deputados em 650 distritos. A maioria absoluta seria de 326 cadeiras, mas o partido republicano e nacionalista irlandês Sinn Féin, braço político do Exército Republicano Irlandês (IRA), tem hoje cinco deputados que não tomaram posse porque se recusam a jurar lealdade à coroa britânica. Deve manter a bancada, o que reduz o total de deputados empossados para 645 e a maioria para 323 cadeiras.

Pelas atuais pesquisas, conservadores e trabalhistas teriam em torno de 260 a 290 deputados cada. Cabe ao líder da maior bancada a primeira tentativa de formar um governo. 

O primeiro-ministro tem os liberais-democratas como parceiros naturais, mas estes podem perder muitas cadeiras pelo desgaste de ser governo sem chefiar o governo. Talvez não baste para ter maioria absoluta. Pode ser necessário atrair os partidos unionistas da Irlanda do Norte, que apoiaram o governo John Major (1992-97).

Historicamente o Partido Trabalhista sem dependeu dos deputados da Escócia para ter maioria na Câmara dos Comuns. Os trabalhistas ganharam o plebiscito sobre a independência da Escócia no ano passado, mas o Partido Nacional Escocês deve ganhar as eleições para o Parlamento de Westminster, do qual gostaria de se livrar.

Se Miliband precisar do apoio dos nacionalistas da Escócia e do País de Gales, terá de prometer mais autonomia a estas nações que, com a Inglaterra, formam a Grã-Bretanha desde 1707.

O mais provável no momento é uma vitória conservadora. David Cameron continuaria como primeiro-ministro. Mas a parada está indefinida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário