quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Obama pede mais civilidade no discurso público

Em mais um discurso arrebatador, o presidente Barack Obama prestou homenagem agora há pouco aos seis mortos e 14 feridos num massacre no estacionamento de um supermercado em Tucson, a capital do Arizona no sábado, 9 de janeiro de 2011. Pediu mais civilidade e honestidade no debate público, união e esforços para que os Estados Unidos sejam grandes como os sonhos de suas crianças.

Obama tentou desarmar a tensão política agravada pela matança, alegando que "a verdade é que nenhum de nós sabe exatamente o que provocou esse ataque cruel". Ele começou dizendo que "aqueles que se ajoelham hoje aqui para rezar junto com vocês estarão a seu lado amanhã. Não há nada que eu possa dizer aqui para preencher o vazio em seus corações, mas as esperanças da nação estão reunidas aqui nesta noite".

Antes da cerimônia, o presidente americano e sua mulher, Michelle Obama, visitaram a deputada democrata Gabrielle Giffords, que foi baleada na cabeça e ainda luta pela vida, na unidade de teriapia intensiva do Centro Médico da Universidade do Arizona em Tucson.

Pouco depois da visita, Gaby, como era apelidada, abriu os olhos pela primeira vez desde que foi baleada por Jared Ledd Loughner, que está preso por assassinato e tentativa de assassinato - e pode ser condenado à morte.

"No sábado de manhã", prosseguiu Obama, "Gaby se reuniu no lado de fora de um supermercado para exercer o direito de se reunir para fins pacíficos e a liberdade de expressão. Era uma deputada respondendo a perguntas dos eleitores para levar seus anseios a Washington, o que Gaby chamava de o Congresso na sua esquina, um bom exemplo de governo do povo, pelo povo e para o povo."

O presidente descreveu com detalhes os seis mortos como representantes do que os EUA têm de melhor. Em seguida, revelou que logo depois da visita à deputada baleada ela abriu os olhos: "Ela sabe que estamos aqui ao lado dela nesta difícil jornada". Foi um momento especial, talvez o mais carregado de emoção.

"Nossos corações estão cheios de gratidão por aqueles que salvaram outros. Isso nos lembra que o heroísmo se encontra não somente nos campos de batalha", acrescentou. O jovem estagiário que correu para proteger a deputada e tentar estancar o sangue foi abraçado pelo marido.

Na parte mais delicada do discurso, em tom conciliatório, diante das acusações ao movimento direitista Festa do Chá de inflamar o discurso político de oposição, Obama afirmou que "não podemos e não vamos ficar passivos, mas não podemos transformar esta tragédia em outra. Não podemos nos voltar uns contra os outros. Os EUA são uma família de 300 milhões de pessoas."

Com seu talento para a oratória, Obama observou que "em Gaby nos vemos um flexo do nosso espírito público. Em Christina [a menina de nove anos assassinada], todas as nossas crianças, com sua confiança e energia, merecendo o nosso amor e nossos bons exemplos".

O que se pode tirar de bom de uma tragédia como essa, sugeriu o presidente dos EUA, ''é um esforço para sermos melhores. A falta de civilidade não foi a causa desta tragédia, mas só com mais civilidade na vida política e mais honestidade no discurso público será possível resolver os problemas do país."

A mensagem era: "Somos todos americanos. Podemos discordar das ideias uns dos outros, mas não questionar o amor pelo país", como a direita reacionária insatisfeita com o presidente negro faz contra ele desde a campanha eleitoral.

"Quero que os EUA sejam tão bons quanto o sonho de Christina, que este país atenda às expectativas de suas crianças", disse Obama. Ele contou que no diário de Christina, que era dançava balé e acabava de ser eleita para o grêmio estudantil de sua escola, havia alguns desejos, entre eles, "que todos ajudem aos necessitados e que todos saibam de cor o hino nacional e o cantem com uma mão sobre o coração".

Foi um discurso brilhante, um momento de trégua na batalha política interna, como nos discursos dos presidentes Abraham Lincoln em Gettysburg depois da pior batalha da Guerra da Secessão, Ronald Reagan depois do acidente com a nave espacial Challenger, Bill Clinton depois do atentado de Oklahoma e George W. Bush em 11 de setembro de 2001.

Obama ganhou pontos na batalha de opinião pública e na luta rumo à eleição presidencial de 2012. Mas a luta continua assim que a poeira baixar. Tombstone fica logo ali, no distrito da deputada, que vai até a fronteira com o México.

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