quarta-feira, 14 de abril de 2010

Obama pede ação contra ameaça nuclear

No fim de uma reunião de cúpula sobre segurança nuclear com 47 países, o presidente dos Estados Unidos, pediu "ação em vez de palavras" para diminuir a ameaça de que armas atômicas caiam nas mãos de terroristas. A meta é ter todos os equipamentos e cargas nucleares sob rígido controle dentro de quatro anos.

Outro objetivo da reunião, isolar o Irã, foi obtido parcialmente. Há dois dias, os presidentes Obama e Hu Jintao formaram uma comissão de diplomatas dos EUA e da China para preparar um projeto no Conselho de Segurança das Nações Unidas para impor uma quarta rodada de sanções ao regime fundamentalista iraniano, acusado de estar desenvolvendo armas nuclares.

Ontem, a porta-voz do Ministério do Exterior da China insistiu em que o país ainda aposta numa solução diplomática da questão nuclear iraniana. A China depende do petróleo importado e investiu mais de US$ 1 bilhão na indústria petrolífera do Irã. Exige que as sanções não afetem a economia do país.

Esta é a posição do Brasil e da Turquia, membros temporários do Conselho de Segurança, onde uma resolução precisa de nove votos favoráveis e nenhum voto contra das cinco grandes potências com poder de veto: EUA, Rússia, China, França e Reino Unido.

O presidente Lula participou de um encontro de Obama com o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan. Ambos renovaram a proposta de diálogo. A Turquia quer reativar a proposta de que o irã mande seu urânio para um enriquecimento maior no exterior, como chegou a ser acertado com a Rússia no início do diálogo proposto por Obama.

Mais uma vez, pelo menos oficialmente, os EUA agradeceram a mediação turca e brasileira, mas Obama afirmou que o momento é de ação. Os EUA querem aumentar o ônus para a república islâmica de levar a frente a ambição nuclear para que o Irã "refaça seus cálculos".

Lula saiu menos isolado do que chegou, por causa de seu apoio ao presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. Na entrevista coletiva, o ministro das Relações Exteriores, embaixador Celso Amorim, declarou que vê espaço para o diálogo e se opôs à adoção de sanções, repetindo uma comparação um tanto despropositada com o que aconteceu antes da invasão americana ao Iraque, em 2003.

Em primeiro lugar, Obama não é George Walker Bush. Fez uma opção clara pelo diálogo com o Irã rejeitada pela ditadura teocrática de Teerã, enquanto os neoconservadores do governo Bush queriam usar a força para demonstrar o poderio dos EUA.

Em segundo lugar, Saddam Hussein aceitou a volta dos inspetores da ONU chefiados por Hans Blix e Mohamed el Baradei, então diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). O Irã tem instalações nucleares clandestinas, violando o Tratado de Não Proliferação Nuclear, não responde a todas as perguntas da AIEA nem dá acesso a suas instalações nucleares.

Há fortes suspeitas e uma quase certeza nos EUA e na Europa de que o Irã esteja mesmo fazendo a bomba. Ouvi isso na AIEA em 1998. O orientalista Dilip Hiro conta que a decisão foi tomada pessoalmente pelo aiatolá Ruhollah Khomeini em 1987, durante a Guerra Irã-Iraque.

Khomeini considera a bomba atômica uma arma não islâmica por matar indiscriminadamente. Diante dos horrores do bombardeio às cidades, teria se rendido à pressão da Guarda Revolucionária Iraniana, braço armado do regime, que hoje controla o programa nuclear.

Em terceiro lugar, Ahmadinejad, um ex-guarda revolucionário, ameaçou várias vezes varrer do mapa um país-membro da ONU, Israel. A ofensiva diplomática de Obama visa, entre outros objetivos, a aumentar a segurança de Israel para evitar um ataque israelense ao Irã, capaz de provocar uma conflagração geral no Oriente Médio.

O problema é que o Irã pode estar usando a cobertura do Brasil, da Turquia e de outros países aliados para ganhar tempo e tornar irreversível o processo de fabricação da bomba atômica.

Nenhum comentário: