quinta-feira, 3 de abril de 2008

Hamas admite reconhecer Israel

O dirigente máximo do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), Khaled Mechal, indicou que seu grupo radical está disposto a negociar a paz no Oriente Médio com a criação de um Estado palestino ao lado de Israel. Isso implica o reconhecimento implícito de Israel.

Mechal deu a entender que estaria disposto a aceitar a existência do Estado judaico nas fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando Israel conquistou a Cisjordânia, a Faixa de Gaza, as Colinas do Golã e a Península do Sinai.

A pátria do povo palestino, desterrado desde a criação de Israel, há 60 anos, seria formada pelos territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, tendo como capital o setor árabe de Jerusalém.

Em entrevista publicada na quarta-feira no jornal palestino Al-Ayam, o líder do Hamas se referiu ao chamado Documento dos Prisioneiros ou da reconciliação nacional, em que os principais grupos palestinos chegaram a um consenso sobre os termos da negociação com Israel.

O documento, elaborado por por cinco palestinos presos por Israel, propõe a criação de um Estado palestino com base nas fronteiras anteriores à guerra de 1967, com capital no setor oriental de Jerusalém, e o direito de retorno dos refugiados palestinos. Foi assinado pelo Hamas, a Fatah do presidente palestino, Mahmoud Abbas, a Jihad Islâmica, a Frente Popular pela Libertação da Palestina e a Frente Democrática pela Libertação da Palestina.

Essa iniciativa foi encampada pela Arábia Saudita e adotada pela Liga Árabe, que oferece a normalização das relações com Israel dentro de um amplo acordo de paz que inclua a retirada israelense dos territórios ocupados em 1967 e "uma solução justa" para a diáspora palestina.

A referência às fronteiras anteriores à guerra de 1967 implica a necessidade de remoção das colônias judaicas da Cisjordânia, onde recentemente foi autorizada a construção de centenas de casas novas, inclusive no setor oriental de Jerusalém. Quanto ao direito de retorno, seria necessário negociar uma compensação para os árabes expulsos de suas casas e terras quando da fundação de Israel, em maio de 1948.

"Esta é a posição dos palestinos, esta é a posição dos árabes, com pequenas diferenças, mas é a posição comum", afirmou Mechal, dizendo que agora é a vez de Israel "declarar seu compromisso" com o processo de paz.

Israel se nega a negociar com o Hamas enquanto o principal partido islamita palestino não reconhecer sua direito de existir e abandonar a luta armada. Os EUA e a União Européia também consideram o Hamas um grupo terrorista e cortaram a ajuda ao movimento palestino depois que o partido ganhou as eleições parlamentares de 25 de janeiro de 2006.

"Como movimento", acrescentou Mechal, "estamos comprometidos, assim como o resto das facções palestinas, com um programa político que corresponda à posição árabe.

Para o chefe do Hamas, "a questão é se haverá um programa internacional para transformar esta proposta em realidade", argumentou. "O único obstáculo a isso é Israel, não são os palestinos nem os árabes".

No final da entrevista, ele mandou um recado ao povo israelense: "Digo a eles que a única saída é pressionar seus líderes a acabar com a agressão e a ocupação, e reconhecer os direitos dos palestinos, especialmente à luz do acordo árabe e palestino para criar um Estado palestino dentro das fronteiras de 1967".

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