sexta-feira, 2 de novembro de 2007

África tem sua maior chance, diz NY Times

Apesar dos problemas gravíssimos, como as epidemias de aids e outras doenças como a malária, a fome, as guerras, os conflitos étnicos e a miséria, o aumento nos preços dos produtos primários cria o melhor momento para a economia da África desde a descolonização do continente, constata hoje em editorial The New York Times, o jornal mais influente dos Estados Unidos.

Pelo quinto ano consecutivo, em 2007, a economia do continente pode crescer acima de 5%.

"Esta vitalidade tem alicerces frágeis", adverte o jornal. Lembrando que os preços desses produtos passam por ciclos de euforia e depressão, o editorial pede maior comprometimento dos países ricos no desenvolvimento da África, inclusive com o corte de subsídios domésticos que reduzem o acesso a seus mercados de produtos africanos.

"Em 2005 o Grupo dos Oito, que reúne as principais nações industrializadas [menos a China], prometeu aumentar a ajuda à África em pelo menos US$ 25 bilhões até 2010. Desde então, de acordo com o Fundo Monetário Internacional, a ajuda oficial à África subsaariana declinou como porcentagem de sua economia. Isto é uma vergonha", afirma o New York Times.

Para que o crescimento da África seja sustentável, receita o jornal, "os países ricos precisam acabar com os subsídios a produtos como açúcar e algodão e expandir agressivamente o acesso a mercado para produtos que os países africanos podem podem exportar competitivamente, como têxteis e calçados."

Além das propostas na mesa de negociações de liberalização do comércio internacional da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) estarem muito aquém das necessidades, as próprias negociações correm o risco de colapso por causa dos desentendimentos entre os países ricos e grandes países em desenvolvimento, como Brasil, China e Índia.

Nesta semana, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, embaixador Celso Amorim, acusou os Estados Unidos e a União Européia (UE) de terem chegado a um novo acordo para bloquear a redução no protecionismo agrícola, setor onde os países em desenvolvimento são mais competitivos.

O crescimento de 5% ao ano na África se deve à alta nos preços do petróleo, que favorece especialmente a Nigéria e Angola, e a crescente demanda por alumínio e cobre, devida ao rápido crescimento da China e da Índia, que beneficia os países que não exportam petróleo. Isso aumenta os recursos disponíveis para investimentos públicos e atrai capital estrangeiro.

Com sua fome de recursos, prossegue o NY Times, a China tornou-se o segundo maior parceiro comercial da África, depois dos EUA, e um investidor importante para o crescimento africano, embora o jornal deplore o apoio chinês a ditadores como Omar al-Bachir, do Sudão, e Robert Mugabe, do Zimbábue

A África ainda é desesperadamente pobre. Tem uma renda média por habitante de apenas US$ 600 por ano e um terço de sua população, estimada em cerca de 900 milhões de habitantes. A cada ano, aproximadamente 1 milhão de crianças morrem de malária e outros 2 milhões antes de completar um mês.

O continente ainda é sobretudo um exportador de produtos primários. Precisa ascender na escada do desenvolvimento entrando para as redes internacionais de industrialização da economia globalizada. Isso aumentaria sua participação na renda do comércio internacional, acelerando o crescimento

Seus problemas crônicos são típicos do subdesenvolvimento: péssimas condições de saúde, educação ruim e infra-estrutura em ruínas, sobretudo nos setores vitais de energia e transportes

É essencial a modernização tecnológica da agricultura para acabar com a fome, combater a pobreza em zonas rurais e preservar o meio ambiente. Práticas agrícolas insustentáveis acabam criando mais desertos, fome e miséria.

O Brasil, como a superpotência agrícola tropical, tem um papel importante nesta área de assistência técnica e extensão rural, acrescento eu.

Concluindo, o NY Times argumenta que ninguém pode ter certeza de que a África está à beira de sair de sua miséria endêmica e começar a subir na escada do desenvolvimento. Mas tem a melhor chance em décadas.

Confira o editorial do New York Times.

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