segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Violência no Iraque aumenta pressão para Bush negociar com o Irã e a Síria

Com a morte violenta de mais mil pessoas no Iraque na semana passada e de pelo menos 27 até agora, nesta segunda-feira, a estratégia do presidente George Walker Bush de enviar mais 21,5 mil soldados americanos está sendo cada vez mais questionada. Crescem os apelos para que os Estados Unidos abram diálogo com a Síria, o Irã e outros países do Oriente Médio para negociar uma solução política para a guerra civil entre sunitas e xiitas, que ameaça envolver toda a região.

Mas como com ironia diz o professor francês Pascal Boniface, em seu Ano Estratégico 2007, invertendo uma metáfora futebolística, “em estratégia que está perdendo não se mexe”. Bush está pedindo mais US$ 250 bilhões ao Congresso, elevando para U$ 700 bilhões o total gasto até agora no Iraque e no Afeganistão, enquanto a situação no terreno se agrava a cada dia sem que se veja nenhum sinal de que as forças de segurança iraquianas darão conta da missão.

Em um artigo interessante no jornal Financial Times, o professor Anatol Lieven, pesquisador da New América Foundation, lembra o discurso das quatro liberdades prometidas pelo presidente dos EUA Franklin Roosevelt em 1941, ao preparar o país para a guerra contra a Alemanha nazista e o Japão:
- liberdade de expressão,
- liberdade de religião,
- estar livre de passar necessidade e
- liberdade de não ter medo de guerras e da violência.

Lieven argumenta que, com uma definição mais ampla de democracia do que simplesmente a realização de eleições, a nova estratégia de Bush teria mais chances de sucesso do que a fórmula dos anos 90: eleições e livre mercado. Nota que Roosevelt não incluiu o direito de voto mas o direito de não passar necessidade. Em outras palavras, a consolidação da paz exige o desenvolvimento e uma expectativa de maior justiça social.

“O Ocidente precisa lembrar as quatro liberdades de Roosevelt, se quiser formular estratégias de desenvolvimento que ajudem a lançar as bases da democracia em longo prazo”, sustenta o pesquisador. “Igualmente importante é entender por que tantos povos ao redor do mundo estão dispostos a apoiar regimes autoritários que parecem garantir algumas destas liberdades fundamentais”.

Este é um dos aspectos centrais do atoleiro em que os EUA se meteram no Iraque. Sem atender às necessidades básicas da população de segurança, água, energia, a nova ordem imposta pela invasão americana não se consolida como um governo atuante. Não tem apoio popular.

Na realidade, como observou na semana passada no Rio a pesquisadora Valérie de Campos Mello, do Fundo das Nações Unidas para a Democracia, a guerra no Iraque, ao ser justificada em nome da democratização, prejudica o trabalho de promoção da democracia no mundo.

Neste momento, a democracia está acuada no Iraque, no Líbano e na Venezuela, e a Revolução Laranja perdeu o pique na Ucrânia. A democracia perdeu prestígio.

Para o professor Pedro Cunca Bocayuva, do Instituto de Relações Internacionais da PUC-RJ, ao invadir o Iraque os EUA reintroduziram o estado de guerra permanente nas relações internacionais. Isto desvaloriza a democracia, que é em última análise a decisão de uma sociedade de resolver seus conflitos pacificamente.

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