sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Paz exige inclusão social na América Latina

Como não há guerras entre os países da América Latina desde os choques entre Peru e Equador em 1995, os conflitos armados na região estão ligados a redes transnacionais de criminosos e à exclusão social, observou ontem o pesquisador argentino Andrés Serbin, da Coordenadoria Regional de Investigação Econômica e Social (CRIES).

Serbin analisou a possibilidade de prevenção de conflitos no subcontinente no 3º Encontro do Grupo de Prevenção e Análise de Conflitos (GAPCon) da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro.

É a região com o menor número de conflitos, uma zona desnuclearizada e há uma capacidade de diálogo. Mas na experiência latino-americana, os confitos não foram resolvidos por mecanismos institucionais mas por negociações caso a caso.

Nos anos 80, o Grupo de Contadora trabalhou pela paz na América Central. Na guerra entre Peru e Equador, foi um “grupo de amigos”. São soluções ‘ad hoc’.

A prevenção, argumentou Serbin, “requer mudanças políticas, econômicas e sociais, o fim das grandes exclusões étnicas, uma mudança cultural”.

Outra característica da América Latina é o soberanismo. Sob a permanente ameaça de uma intervenção americana, os países latino-americanos desenvolveram uma aversão a ingerências externas.

“O Estado, na América Latina, é muito sensível a ingerências externas”, reconhece o pesquisador argentino. “Há uma concepção estatista que coloca o Estado acima do cidadão”. Isto dificulta a ação de organizações não-governamentais.

Com a debilidade das instituições, a democracia não foi capaz de atender aos anseios da população, especialmente dos excluídos, e “as reformas econômicas liberais do Consenso de Washington criaram uma polarização que não pôde ser resolvida por estas instituições”. Daí o surgimento de Hugo Chávez, na Venezuela; Evo Morales, na Bolívia; e Rafael Correa, no Equador.

Para Andrés Serbin, a Venezuela está entre um regime semi-autoritário e uma ditadura: “A oposição venezuelana conseguiu 35% a 40% dos votos. Se for marginalizada, a Venezuela não será uma democracia”.

Ele faz questão de distinguir a situação da Venezuela, um país “com excesso de ingressos” por causa da renda do petróleo. “A questão é quem controle o petróleo. Na Bolívia e no Equador, há uma exclusão histórica dos indígenas. Não há mecanismos institucionais para resolver nenhum destes problemas”.

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